Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

A narrativa dos rótulos políticos imcompreensívos

Com a polarização entre as candidaturas do poste de Lula, Haddad e Bolsonaro, confirmada através das últimas pesquisas de opinião de votos, grande parte da mídia comprometida com a manutenção do “establishment” (poder estabelecido) de esquerda, adota a narrativa de enquadrar Haddad como representante da extrema-esquerda e Bolsanaro no polo oposto ou extrema-direita.

À guiza de exemplo, a revista Veja (Edição nº 2601, de 26/09/2018, pag. 38), ao tratar da “divisão do Centro”, refere-se aos candidatos acima como “(...) uma disputa entre o direitista Jair Bolsonaro, do PSL, e o esquerdista Fernando Haddad, do PT – os candidatos posicionados nos EXTREMOS DO ESPECTRO IDEOLÓGICO” (grifo meu).  A revista não faz questão alguma de explicar quais os critérios para fixar candidaturas em tal espectro, como se fosse algo sabido por todos. Mais, a matéria tem como argumento defender que as candidaturas de “centro” seriam as melhores alternativas. Sobre quem é o centro, por que situam-se ali e, principalmente, quais são as origens e pensamentos dos seus representantes, bem como, se tais visões de mundo não encontram-se justamente também nos extremos, Veja silencia.

Temos aqui duas situações de fácil constatação. Primeiro, Veja não teve a coragem moral para dizer que somente um dos candidatos polarizados podem, eventualmente, pertecencer ao extremo do espectro ideológico, sendo que o outro não faz parte. Segundo, a classificação proposta tem como único objetivo a desqualificação dos candidatos utilizando-se do expediente da “régua” política esquerda/direita de forma rasa.

O espectro político ao qual a revista utiliza para fixar as candidaturas é aquele que afirma pertencer à extrema esquerda o comunismo, de natureza claramente ditatorial ou de estado absoluto (ora, ninguém em sã consciência defenderia tal sistema, exceção dos esquerdopatas brasileiros). Contudo, baseado em tais premissas, colocam na extrema direita o nazi-fascismo (igualmente sistemas deploráveis). Diante de tal quadro, Veja nos incita a defender um “caminho do meio”, ou seja o chamado “centro”, também conhecido por “social-democracia”, “socialismo fabiano” (ou gradativo) etc. Resumo da ópera: por tal critério, Haddad (PT) na extrema esquerda é comunista; Bolsonaro na extrema direita (PSL) é nazi-fascista; Ciro Gomes (PDT), Alckmin (PSDB), Marina (REDE), Amoedo (NOVO) estariam no “centro” e, portanto, deveriam “juntar forças” contra os “extremistas”. É óbvio que a revista omite um dado da realidade: o tal centro ou caminho do meio, no Brasil e no mundo, conforme constataram Gary Allen e Larry Abraham na obra “Politica, ideologia e conspirações”, está se movento “inexoravelmente em direção à esquerda há quarenta anos”. Não é à toa que a liderança de Bolsonaro assusta tanto o “establishment” e a “inteligentzia” de esquerda brasileira.

Vejam o absurdo dessa “régua” política ideológica utilizada por Veja, intelectuais e o senso comum aqui no Brasil. Teríamos que escolher entre o “comunismo” ou “socialismo internacional” (extrema esquerda), o nazi-fascismo (extrema direita) ou o socialismo fabiano no centro. Ou seja, “TODO O ESPECTRO É SOCIALISTA OU DE ESQUERDA”. Nesse sentido, pergunta-se: onde encaixar os liberais econômicos, conservadores, anarquistas, libertários etc? O programa de governo do canditato Bolsonaro, por exemplo, fala abertamente em “liberalismo” e defende a “livre iniciativa” como pilares de desenvolvimento econômico. Isso é “extrema-direita”? É nazi-fascismo?

E quanto ao Haddad (PT aliado com PC do B)? Embora não defendam explicitamente que lutarão pela implantação do “socialismo real” ou “comunismo”, é público e notório a aproximação do PT com ditaduras de esquerda pelo mundo. Quanto ao PCdoB de Manoela D’Ávila, em seu estututo registrado no TSE encontramos com todas as letras: “lutar contra a exploração e opressão capitalista e imperialista. Visa a conquista do poder político pelo proletariado e seus aliados, propugnando o socialismo científico. TEM COMO OBJETIVO SUPERIOR O COMUNISMO. AFIRMANDO A SUPERIORIDADE DO SOCIALISMO SOBRE O CAPITALISMO, almeja retomar um novo ciclo de luta pelos ideais socialistas, renovados com os ensinamentos da experiência socialista do século XX, e desenvolvidos para atender à realidade do nosso tempo e às exigências de nosso país e nossa gente” (grifos meus). Bem, não há dúvidas que essa visão de mundo é de extrema esquerda.

Mas existe outro espectro político não adotado pela mídia nacional. Nele, parte-se do princípio honesto de que “comunismo”, por definição, é governo absoluto. Embora nenhuma sociedade humana tenha conseguido a proeza de chegar a este modelo (na verdade é uma impossibilidade material) sua transição, chamada de ditadura do proletariado, vem sendo tentada desde o início do século XX (à custa de mais de 100 milhões de vítimas). Nesse sentido, não importa se dermos o nome de comunismo, ou fascismo, nazismo, socialismo real, chavismo, maoísmo, hitlerismo, cesarismo, ou seja lá o “ísmo” que quiser adotar. Todos que viveram ou viverão sob tais visões insanas de mundo, padecerão de seus males e contradições. Agora, por esta lógica (com governos absolutos na extrema esquerda), a outra extremidade seria representada pela ausência total de governo (anarquia). Entre os extremos (centro) teríamos as repúblicas constitucionais e seus governos limitados.

Conforme constatam Gary Allen e Larry Abraham, os pais fundadores dos Estados Unidos revoltaram-se contra o governo quase total da monarquia inglesa, mas sabiam que não ter governo algum levaria ao caos. Quando pensaram em uma América para os americanos, tinham em mente a necessidade de limitação do poder estatal, no sentido de que este não se apropriasse (roubasse) os frutos do trabalho de um homem, redistribuindo aos que não trabalharam para obtê-los. Perceba tratar-se de uma lógica inversa ao modelo mental da esquerda. Thomas Jeferson afirmou: “governa melhor aquele que governa menos”, assim pensaram um país com governo mínimo.

O discurso do candidato de “centro” Ciro Gomes é de “controle social”, repetido inúmeras vezes em todas as suas falas. Todo controle é controle sobre as pessoas. Esse é o caminho ditado por Marx: destruir o direito à propriedade privada, eliminar a família e dizimar a religião. Ciro Gomes não é centro em nenhum espectro ideológico.
A díade esquerda e direita ainda é importante para entendermos e nos posicionarmos acerca das visões de mundo que procuram entender e propor formas de organização da sociedade e da economia. Contudo, como já afirmei em diversas oportunidades aqui neste espaço, devem ser vistas com cautela, dada sua complexidade.

Para ficar em apenas um exemplo, a esquerda, por definição, defende a igualdade material e defenestra a acumulação de capital por grandes empresários e banqueiros. Certo? Pois bem, por que então magnatas como os Kennedy, os Ford, os Rockefeller, George Soros e tantos outros defendem o socialismo? Não teriam eles tudo a perder com tais modelos? Querido leitor, não se engane, existe um abismo entre declarar-se socialista no plano abstrato e aquilo que verdadeiramente é o socialismo. Nunca se esqueça de que a União Soviética (declaradamente socialista) ao dissolver-se em 1991, mostrou ao mundo a existência de uma plêiade de bilionários no país. O que milionários e bilionários faziam em um país socialista?

A verdade, a única verdade nessa história é a de que o socialismo, comunismo ou que o valha é apenas uma narrativa muito bem construída, organizada e contada para, através de uma ilusão chamada redistribuição de riqueza, enganar os incautos a cederem sua liberdade individual, propriedade e a própria natureza do seu ser a um governo totalitário que lhe dirá o que é certo, errado, suas capacidades e suas necessidades. “De cada um de acordo com sua capacidade, a cada um de acordo com suas necessidades”, eis o mantra do socialismo para cercá-lo e enjaulá-lo.

O emblema da sociedade fabiana é um escudo tendo ao centro um lobo vestido com uma pele de cordeiro. Qualquer semelhança com os discursos da nossa turma da esquerda não é mera coincidência. Invasão de propriedade passa a ter o nome de “ocupação”. “Direitos “ devem ser criados do “nada” independentemente de quem irá ter o dever de fornecê-los. Criminosos são “vítimas” das sociedade opressora capitalista. Criança tocando homem nu em museu é “arte”. Religião é o “ópio” do povo. A patrulha do “politicamente correto” define o que eu devo ou não devo falar. A escola dever ter “partido”. A vontade das “minorias” devem ser impostas à maioria, caso contrário é perseguição ou preconceito. A família “burguesa” deve ser desconstruída e substituída por formas degeneradas e dependentes do estado. “Meu corpo, minhas regras”, assim, legalize-se o aborto e coloque a conta para o SUS pagar. Libere-se as drogas e manda a conta do zumbi dependente para se tratar no SUS ... e por aí vai.

O fenômeno Bolsonaro está provocando um “frenesi” na esquerda tupiniquim como há muito não se via. Por quê? Muito simples! Independente da coloração, todo socialista bebe na fonte de Karl Marx, por mais que alguns neguem. Para este, a história marcha de forma inexorável ou inevitável para a sociedade comunista. Portanto, toda ação política que contrarie esse pressuposto é denominada de  “reacionária”, no sentido que apenas retarda o desfecho determinístico.

O capitalismo vai implodir em algum momento da história e ceder lugar à sociedade sem classes e sem propriedade privada, ponto final. Todo socialista pensa assim, mesmo que ele não diga a você com estas palavras. Perceba que Manoela D’Ávila tem isso escrito no estatuto do seu partido, porém, dificilmente verbaliza em público.

Finalizando, reafirmo que as soluções trazidas pela visão de mundo esquerdista o tornam pior ainda. Precisamos de governos limitados e controlados por instituições sólidas e que garantam as liberdades individuais e os direitos naturais. Não há solução mágica. A properidade material não vem com o solapamento das leis econômicas básicas. Todo direito impõe um dever para outrem. Os socialistas não estão preocupados em acabar com a pobreza (até porque seu modelo não viabiliza tal mister) mas sim, socializá-la e perpetuá-la sob rígido controle social.

Desconfie dos arautos do controle social. Como disse lord Acton, “o poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”!
 

Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
 

 
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