Olhar Direto

Sábado, 20 de abril de 2024

Opinião

O pt representa o que existe de pior na esquerda nacional

Embora o título pareça um tanto quanto intolerante e anti-petista, argumentarei no sentido de que o PT é perigoso justamente pelo fato de que nunca sabemos o que é o PT, tal o grau de “mistura” ideológica existente nos seus quadros, as narrativas construídas ao sabor do momento político e a centralização pragmática em torno de um líder “messiânico” atualmente cumprindo pena de prisão por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

O partido foi fundado em 1979 por um grupo de sindicalistas do ABC paulista. Estávamos no processo de abertura política que culminaria com a eleição indireta para Presidente da República em 1985 de Tancredo Neves. Conforme salientou Sérgio Coutinho (A Revolução Gramscista no Ocidente. 2012), o PT, que se define como socialista, é radical na atuação política, expondo uma prática semelhante ao “nasserismo”, socialismo autóctone (nativo) sem referências ao marxismo. Contudo, ao mesmo tempo, tem estreita aproximação da concepção política de Antonio Gramsci (1891/1937, foi um filosofo teórico marxista italiano), especialmente no que diz respeito à atuação dos seus intelectuais orgânicos, os quais são muito ativos e bem colocados na estrutura partidária, nas bases, na cúpula e nos níveis intermediários.

É papel desses intelectuais proporcionar a coesão do partido, dado a existência em seu interior de diversas correntes de pensamento revolucionário (stalinistas, leninistas, trotskistas, trabalhistas, sindicalistas etc). Toda essa massa crítica de pensamento ideológico é administrada através de um “centralismo democrático”, o que garante uma unidade de ação até certo ponto digna de nota. Enfim, pode-se afirmar que os objetivos do PT têm natureza revolucionária, contudo, atuam no mundo fenomênico com uma proposta reformista, menos radical. Eis, então, uma das bases conceituais para você entender a evolução do PT ao longo desses trinta e oito anos de atuação política, seja como partido de oposição ao governo de plantão, seja como governo nos últimos quatorze anos.

Como partido de viés revolucionário, o “sonho de consumo” do PT é transformar a sociedade, moldando-a segundo os valores da ideologia. Como o mundo mudou, notadamente pós queda do muro de Berlin e dissolução da União Soviética, o discurso da reengenharia social marxista teve que se adaptar. A consolidação do modo de produção capitalista como o único arranjo viável para, objetivamente, gerar riqueza e prosperidade material, é um fenômeno que exige dos intelectais orgânicos a adaptação do discurso socialista anti-capitalista à constatação de que o sistema não tem substituto viável. Aqui surgem, então, as primeiras evidências das constradições e incoerências entre as crenças e as práticas dos petistas. O termo “esquerda-caviar” feito em alusão à esquerda nacional, em grande medida, tem suas origens nesse fenômeno.

Ao contrário dos partidos de extrema-esquerda (porque propugnam a superioridade do comunismo em seus estatutos) como PC do B, PCB, PSTU, PSOL, o PT não declara expressamente a defesa do comunismo como fim a ser perseguido. Os partidos citados, aproximam-se do PT e com ele fazem alianças por pragmatismo. Grande parte dos militantes desses partidos são dissidentes do próprio PT. Como mencionado, o PT aglutina tais siglas porque pavimenta uma estrada dita menos radical, onde eles podem trafegar e levar suas ideias contra o sistema utilizando-se do próprio sistema. Utilizam-se  da democracia para dizerem o que pensam, ao mesmo tempo em que, instalando-se o seu sistema de organização societária, extinguiría-se a própria democracia.

Como não podia deixar de ser diferente, todo esse caldo ideológico sendo propagado no ambiente democrático, somente poderia levar ao que os psicólogos sociais denominam de  dissonância cognitiva (uma espécie de  incoerência entre as atitudes ou comportamentos que acreditam ser o certo com o que é realmente praticado). É assim que o PT e os petistas declaram odes à democracia, enquanto homenageiam ditaduras pelo mundo. Atacam políticas autoritárias, enquanto no interior do partido, nada acontece sem o aval do “capo” presidiário. Discursam pela liberdade de imprensa, mas nos bastidores, conspiram para cerceá-la. Se dizem simpáticos às críticas, sem, contudo, avaliarem e assumirem seus erros; no máximo, utilizam eufemismos para rotularem crimes como malfeitos ou erros de gestão. Nesse exato momento, acusam o candidato do PSL de abuso de poder econômico com compra de pacotes de impulsionamento de mensagens de whatsapp, absolutamente sem provas, exigindo postura autoritária e contra o devido processo legal pelo TSE, ao mesmo tempo que não aceitam a condenação legítima em duas instâncias judiciais do ex-presidente Lula alegando, vejam só, falta de provas. Parece que, finalmente, parte signifivativa da sociedade acordou para o “modus operandi” de fazer política do PT e das esquerdas.

Presos à dissonância cognitiva, os petistas servem ao país como uma espécie de “âncora”, arrastando o País para o abismo. Contrários ao capitalismo e às políticas de mérito, ao mesmo tempo em que não possuem outro modelo de desenvolvimento, obstam e não permitem que as forças produtivas desenvolvam todo o potencial de geração de riqueza, emprego e renda. Estão convictos, dogmatizados até, no sentido de crerem com todas as suas forças na viabilidade real de controlar, custe o que custar, tais forças. A insanidade é de tal forma, agora refiro-me à esquerda mundial (da qual o PT é avalista-mor) que chegaram a criar um arremedo de sistema econômico, deram-lhe o nome de “neo-liberalismo” e o debitaram à direita como seus criadores. O tal neo-liberalismo nada tem a ver com o liberalismo clássico. Trata-se de uma política econômica criada pela esquerda ao perceber o óbvio: o mercado é muito mais eficiente para produzir bens e serviços que o Estado; entreguemos ao mercado tais afazeres e, simplesmente, os controlamos via tributação progressiva. Isso não tem nada a ver com o liberalismo de Adam Smith, David Ricardo ou Escola Austríaca.

Pergunte-se quais medidas políticas os governos petistas fizeram para diminuir a dependência do Estado pelas pessoas físicas e jurídicas? Ao contrário, o PT é perigoso porque ajudou a construir uma mentalidade, uma forma de ver o mundo através da sua ótica ideológica de “luta de classes”. O PT é perigoso porque, de forma progressiva e permanente, opera a conquista de corações e mentes dos incautos, notadamente de jovens no ensino superior público e no financiamento de ONGs e ativistas para alavancagem da hegemonia do seu pensamento. Qual? Controle sobre nossas vidas. Na cosmovisão petista, o capitalismo é, no máximo, um mal necessário. Deve ser controlado, dirigido. Por quem? Pelo partido e seus intelectuais.

O comportamento do PT nessas eleições presidenciais é o fundamento fático do que afirmo acima. No primeiro turno, toda a campanha estava centrada em Lula. “Haddad é Lula e Lula é Haddad”. As cores e símbolos do partido sobressaiam nos materiais de propaganda. Haddad visitava o presidiário toda segunda-feira. A vice, do partido comunista raiz, até falava alguma coisa. Terminado o primeiro turno com a vitória acachapante do candidado Bolsonaro, Jaques Wagner, coordenador da campanha, obviamente, ouvido o petista-mor encarcerado, mudaram radicalmente os rumos da campanha. Programa de oficial de governo, cores e símbolos, referências à Lula, falas de Manoela enfim, procurou-se pragmaticamente construir uma narrativa de campanha “supra-partidária” contra o adversário.

Ocorre que o PT não entendeu ainda esse movimento nacional à direita. Não fez a leitura que, até Cid Gomes, seja lá porque motivo, “esclareceu” aos petistas (obviamente não gostaram, é claro). Assim, o PT representa hoje aquilo que sempre combateu em discurso antes de ser governo: a “velha política”, o clientelismo, o “toma-lá-dá-cá”, os acordos espúrios, a corrupção como financiamento de projeto de poder pelo poder, o atraso, a destruição de valores caros à sociedade enfim, o direito que as pessoas tem de acreditarem que certas coisas são, por natureza erradas e outras são certas. O relativismo moral que norteia a ideologia petista não tem mais aceitação de grande parte da sociedade, conservadora em termos de costumes. Mudar esse estado de coisas é o princípio fundador do marxismo-cultural de Gramsci, da qual o PT é o principal representante na esfera política. Algum petista admitirá tal desiderato? Obviamente que não. Você deverá identificar nas atitudes e nas entrelinhas do discurso.

O fato é que o PT, em termos probabilísticos, perderá essa eleição. Como oposição (isso o PT tem expertise) fará duras críticas ao novo Governo, o qual terá a missão de tentar consertar pelo menos parte da sangria do erário e do caos fiscal que o próprio PT legou.

E a sociedade? Esta que ficar em paz com seus usos e costumes. E o Estado? Que fique restrito às funções já determinadas pela Constituição. E os governantes? Que restrinjam-se ao papel que a Lei os determina. E o PT? Que se recicle, adapte-se à conjuntura, respeite a vontade popular e deixe o país seguir em frente.
 

Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
 
 
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