O governador eleito Pedro Taques (PDT), que goza da confiança de mais de 57% do eleitorado mato-grossense, conhecido como “Paladino da ética e moral”, surpreendeu a todos mais uma vez ao anunciar o Gabinete de Transparência e Combate à Corrupção do seu governo. Muitos podem pensar que tal medida mostra a seriedade e o compromisso do governador contra a corrupção. E pode até ser, mas uma coisa ficou clara: Pedro Taques não confia em seu secretariado. Se confia, confia desconfiando!
Fico imaginando o que se passou na cabeça de todos os secretários anunciados por Taques quando souberam do novo órgão “policial” para fiscalizá-los. Será que alguém pensou em entregar o cargo? Ou aceitarão as desconfianças?
A verdade é que, com a iniciativa política tomada, Taques ignorou todos os outros órgãos de fiscalização, como as ouvidorias das próprias secretarias, a Auditoria Geral do Estado (AGE), o Ministério Público e o Tribunal de Contas. Ou por achar ineficiente ou por não confiar mesmo!
O curioso é que essa postura “policial” é colocada em sua própria gestão. Velada de um discurso ético e moralista, mas que na verdade demonstra que o governador eleito ainda desconfia dos seus aliados, sejam eles oriundos do agronegócio e do governo Maggi ou dos resquícios do governo Dante de Oliveira.
Tal medida adotada por Pedro Taques vem de encontro com a opinião pública, que apesar de alguns avanços na transparência (como a Lei da Transparência, Lei da Ficha Limpa, Controladoria Geral da União e aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras), no controle e no combate à corrupção – que possibilitam uma maior participação política e a descoberta de desvios e punição dos culpados – a percepção das pessoas sobre este aspecto é de que o País se tornou mais corrupto e menos transparente.
Realmente, é muito contraditório que na mesma proporção que o País avança na transparência e no controle sobre os agentes políticos – facilitando a descoberta e a punição dos desvios – aumente a desilusão e o descrédito com a política e com suas instituições, a ponto de as pessoas não apenas evitarem participar, mas desqualificarem a política e tomarem medidas como esta de Taques que desqualifica sua própria gestão.
Infelizmente, isso é fruto da ausência de informação e formação sobre a política e suas instituições.
Se não investirmos na educação política, com esclarecimento sobre o papel da política e da sociedade como controle social das nossas instituições, levaremos décadas e séculos para superar o problema da corrupção.
Enquanto isso é melhor não confiar nem na sombra, já dizia o saber popular.
PABLO RODRIGO é editor de política do Diário de Cuiabá
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