Não foram necessários sequer dez minutos para que a imprensa do mundo inteiro repercutisse a decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, em deferir um pedido de impeachment contra a Presidente Dilma Rousseff. O pedido foi impetrado na Câmara dos Deputados pelo integralista Miguel Reale Júnior e pelo petista arrependido Helio Bicudo.
 
Jornais de todas as partes do mundo mencionam a crise gerada pelos atos de corrupção na Petrobras, mas não esquecem de mencionar também a situação do deputado Eduardo Cunha. Tudo indica que a imprensa estrangeira esteja bem mais consciente da situação que o povo brasileiro que vive a situação dia a dia.
 
O que deflagrou o deferimento por parte de Eduardo Cunha foi a decisão dos três deputados do PT que fazem parte do Conselho de Ética em votar a favor da abertura de processo de cassação do presidente da Câmara dos Deputados. A decisão foi correta e necessária. Incorreto seria trocar a permanência de Eduardo Cunha pela permanência de Dilma Rousseff.
 
Sem nenhum caráter, Eduardo Cunha seria naturalmente capaz de fechar um acordo com o PT e logo após ser indeferida a autorização de abertura de processo de cassação contra ele, voltar a carga novamente contra a Dilma e o PT. É assim que tem agido todos os partidos da base aliada, particularmente o PMDB. Pedem ministérios, pedem cargos, pedem nomeações. Depois de ter todos os seus pedidos atendidos, pedem mais e, no final das contas, voltam-se contra o governo. Não seria surpreendente se Eduardo Cunha agisse da mesma forma. O voto do PT no Conselho de Ética apenas adiantou um processo que mais cedo ou mais tarde seria instalado.
 
A grande imprensa brasileira vem a muito tempo tentando associar o PT a Eduardo Cunha. Trata-se evidentemente de um comportamento descarado por parte de nossa imprensa. Mesmo manipulada por esses meios de comunicação, a população brasileira tem uma noção de quem é o presidente da Câmara do Deputados. Não houve como evitar que cada brasileiro soubesse da estreita ligação entre ele e os partidos de oposição. Da mesma forma, não houve como ocultar dos brasileiros o fato de ser o presidente da Câmara dos Deputados um dos homens mais corruptos na vida pública brasileira.
 
O que aconteceu hoje foi a aprovação da abertura do processo de impeachment. Muita coisa ocorrerá nos próximos dias e nos próximos meses. Tramitações legais na Câmara do Deputados, no Senado Federal e no supremo Tribunal Federal. Se o processo de impeachment tomar caminho, percorrerá um longo trajeto até chegar à decisão final.
 
A consequência imediata de tudo isto é um agravamento da crise política. As coisas pareciam que estavam tomando um rumo certo, aí veio a questão do Delcídio Amaral. Agora que o brasil estava acostumando com o que aconteceu com o Delcídio, o Eduardo Cunha resolve por em prática seu plano de vingança. De tropeço em tropeço, vamos nos afundando em uma crise política que só arruína o nosso país. Tudo isto, porém, não passa de um golpe como tantos outros que já tivemos em nossa história.
 
Paulo da Rocha Dias é jornalista e professor do Curso de Jornalismo da UFMT.