Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

Ao Rio da Lontra Brilhante

Mesmo sendo outra cidade, tem muito daquela minha cidade: amo igualmente as duas. Se, por um lado, me encantam os olhos vê-la imensa e iluminada; ou as novas e largas avenidas (como a av. das Torres, construída na gestão Wilson Santos); ou ainda prédios brotando do chão, onde antes havia só o sonho de pedreiros alados. Por outro, fascina-me a lua imensa iluminando nosso rio Cuiabá; o beco do Candeeiro, ainda repleto de magia e de histórias; a exuberância neoclássica do Palácio da Instrução, no qual minha geração aprendeu as primeiras letras.
  
Cuiabá tem carne com banana verde e gente (sempre vivos) como Zé-Bolo-Flor; tem farofa de banana e Maria Taquara; tem paçoca de pilão e Zé Peteté; tem sarapatel e Mãe Bonifácia; tem pacu na folha de bananeira e Jejé de Oyá; tem carne com maxixe e Dunga Rodrigues; tem arroz sem sal e Dom Aquino Correa; tem revirado e Maria de Arruda Müller, tem Maria Isabel e Liu Arruda; tem pixé e Ana Maria do Couto (May); tem doce de caju e José Barnabé de Mesquita; tem “queimada” e  Zulmira Canavarros; tem arroz com pequi e Silva Freire; tem furrundu e Aurora Chaves; pacu seco com arroz e Lázaro Papazian (Chau); tem mujica de pintado e Nhá Barbina; tem  linguiça cuiabana e Antônio Sodré;  cabeça de boi assada e  Isabel Campos (Loló); tem “pera” assada e Eurico Gaspar Dutra. Tem tanta comida gostosa e tanta gente maravilhosa que falta espaço...
  
Avizinham-se seus 300 anos e pairam enormes desafios: precisamos de mais praças e parques, mais empregos, mais segurança, mais saúde, mais ensino de qualidade, mais qualidade no transporte público, mais água e menos esgoto, entre outras coisas. Por isso é que precisamos ajudar a pensar como fazer uma Cuiabá melhor, mais humana e mais agradável de se viver. Transformar a capital de todos os mato-grossenses não é tarefa de alguns, mas de todos nós que aí vivemos. Aquela Cuiabá na qual cresci, está agonizando; sufocada pelos problemas de uma cidade que cresceu desordenadamente. E, antes de se tornar tricentenária, temos que, ao menos, indicar os caminhos que farão da nossa cidade um lugar, apesar de grande, agradável e prazeroso de se morar e criar os filhos.
  
297 anos neste oito de abril de Pascoal Moreira Cabral e de Miguel Sutil (ambos sepultados na cripta que há no subsolo da Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus de Cuiabá), e há tanto pra se dizer sobre sua história, sua gente e, inclusive, seus silêncios premeditados; porém, antes, canto as antigas lavadeiras da Prainha, os corsos na 13 de junho, as cadeiras eternamente nas calçadas, a feira do Porto, o Dutrinha, o mercado municipal, os patrícios da Isaac Póvoas, os amigos do Terceiro de Dentro e do Terceiro de Fora, a turma da 12, da travessa da Marinha, do Liceu Cuiabano e da antiga Escola Técnica Federal, enfim, os cuiabanos e cuiabanas, aqui nascidos ou não, que, até hoje, ousam  “Num limite improvável tocar o inacessível chão.”
  
Guilherme Antônio Maluf é médico e está deputado estadual pelo PSDB – MT.
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