Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

Nossos irmãos índios

Divulgação


Ontem vindo de Barra do Garças, mais ou menos no KM 216, deparei com várias barreiras indígenas com cobrança de pedágio.
 
Antes no distrito do paredão fui parado por uma viatura da Policia Rodoviária Federal, e por lá já estavam padados alguns veiculos que vinham no sentido contrário, portanto tinham passado pelas barreiras, os relatos eram diversos, de que eles estavam agressivos, que vistoriavam os carros, que exigiam pagamento de até R$ 50,00 (cinquenta reais), e que tomavam tudo que estava à vista.
 
Resolvi continuar já que não havia impedimento pela Policia Rodoviária Federal, antes parei em um restaurante ainda no paredão onde estavam mais de 90 carretas uns 100 veículos pequenos e 12 ônibus com passageiros, com os mesmos relatos e todos, por orientação da PRF aguardando escurecer porque informavam que desmontariam  as barreiras.
 
Resolvi continuar e foi uma coisa surreal pois na estrada estava apenas o meu veiculo, ao aproximar das barreiras encontrei alguns veículos vindo em sentido contrário, dei sinal para parar dois pararam o primeiro vinha de uma estrada vicinal, no sentido Batovi (barrancas do rio das Garças), portanto não tinha passado pelas barreias, e o segundo tinha passado pela barreira e informou que estava tranquilo, e que eles apenas pediam  dinheiro.
 
Ao aproximar da primeira barreira aumentou o nível de tensão no interior do veiculo, tínhamos separado o dinheiro em notas pequenas, e conversamos sobre a estratégia que era a de dar primeiro cinco reais, e ir aumentando de pouco a pouco à medida que eles fossem exigindo, o nosso medo era de acabar o dinheiro ante de acabar as barreiras, pois lá atrás um dos motoristas havia relatado que tinha entregue nas 23 barreiras pelas quais passou R$ 480,00 e nós só tínhamos em espécie pouco mais de R$ 200,00.
 
Primeiro escondemos tudo que estivesse à vista, relógios, celulares, alianças, carteira, óculos , depois abri um pouco o vidro do meu lado e paramos. A barreira era de árvores chamuscadas retiradas ao lado da estrada, um jovem índio nos abordou com um boa tarde meio enrolada e sequer pediram valores, apenas disseram que estavam "pedindo" uma ajuda, entrei a ele R$ 5,00 reais, ele não reclamou ou pediu mais, e na sua língua mandou retirar a madeira, fiquei meio desnorteado, chamei-o de volta e dei lhe uma sacola com bolachas, bombons, e skini, das várias que tínhamos preparado antes.
 
A outra barreira estava a menos de 50 metros, a mesma abordagem, a mesma humildade, a mesma sinceridade e a mesma expressão de sofrimento e pobreza, de homens mulheres, idosos, jovens e crianças e assim foram as próximas 13 barreiras pelas quais passamos, fiquei com um sentimento de tristeza em ver a situação de penúria dos povos indígenas (lá estavam varias etnias), os relatos não eram verdadeiros, ou se eram, deve ser porque afrontaram aqueles indivíduos, alias presenciei uma afronta de um veiculo que depois de aberto a passagem acelerou o veiculo para cima das pessoas.
 
Quando vemos bilhões de reais sendo desviados dos cofres públicos, e vemos como vi, o sofrimento de todo um povo, e a intolerância de muitos outros apenas pelo inconveniente da parada e da contribuição mínima durante a viajem, e que acreditamos que o Brasil precisa mudar e urgente.
 
Precisa de investimentos para a manutenção do bem estar indígena, na infraestrutura, no transporte, na saúde e de um futuro para os seus descendentes e tranquilidade e paz para os ascendentes.
 
Precisa do entendimento e compreensão e o reconhecimento da importância da grande nação indígena para nós, os chamados brancos, e que na grande maioria tem sangue de indígena correndo nas veias, não de contribuir com esmolas em pedágios mas de cobrar políticas públicas eficientes e sem roubalheiras.
 
*José Antonio Rosa é Advogado - Cuiabá - MT
 
 
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