Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Opinião

Para onde vai a esquerda?

Autor: *Francisco Viana e João Edisom de Souza

04 Mai 2016 - 12:58

João Edisom de Souza / Divulgação

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"O poder da comunicação está no âmago da estrutura e da dinâmica da sociedade"
(Manuel Castells) 
 

Responder a essa questão não parece facil. Independente do resultado do impedimento da Presidente Dilma Rousseff, a esquerda terá que encontrar novo caminho. E esse passa pela montagem de uma comunicação eficiente, sem ficar a mercê da grande mídia, nem de só divulgar o que interesse, isto é, denúncias princialmente. É preciso não adiar a discussão democrática, envolvendo todos que queiram participar da democracia. 

Em 1945, no fim do Estado Novo, não conseguiu. Talvez, por uma questão de não ter feito uma autocrítica profunda e de ter avançado como se nada tivesse ocorrido após o levante comunista de 1935. Nem o erro estratégico, nem a tortura dos seus militantes, nem, o que é pior, o combustivel para a indústria do anticomunismo. E vejam que na época do segundo governo Vargas  contava-se com a Última Hora e a Rádio Mayrink Veiga. Trunfos vitais para a rede da legalidade. 

No pós-64, também foi a mesma coisa. Não houve uma reflexão profunda. Saiu-se da didatura, entrou-se na democracia, a esquerda chegou ao poder pela via eleitoral e ficou como se o passado fosse um fantasma que não podia ser tocado e muito menos revisto. Não houve sequer punição para torturadores e, ao final, valeu a anistia geral e irrestrita. No máximo, logrou-se colocar em funcionamento a Comissão da Verdade, mas os desaparecidos continuam desapararecidos e não houve punições. Houve, sim, uma novidade: grassou a  corrupção e, com ela, a imobilidade dos governos. A comunicação continuou frágil. A TV Brasil nunca fez sombra as tvs tradicionais. 

Sim, houve novidades. Na crise, a imobilidade pesou, porque o partido guia, o PT, se deixou tragar pelas contradições e não se mexeu. Ficou prisineiro de um discurso retórico, enquanto o país não avançou. Regrediu. Em que momento se perdeu o bonde da história? No momento em que Luis Inácio Lula da Silva toma posse? E opta pelo desenvolvimento através do consumo? Antes, por ter pensado que o poder era um sonho distante e não ter se preparado? No momento em que ficou inerte diante da corrupção que se insinuava? Ou seria, pela falta de um planogeral para o país, que envolvesse reformas e mudancas?

Esse aspectos foram negligenciado. E estava bem claro no sinal de alerme acionado pelas mobilizações em 2013 (junho). A Presidente Dilma até que tentou trazer as reformas para a pauta política. Enfrentou reações de todos os lados, a começar pelo Congresso. Acabou se rendendo aos encantos das soluções fáceis. Não se sabe o que a levou a ceder. Talvez a expectativa de recuperar a popularidade perdida, logo a seguir. Ou foi o contário. Falta de pulso firme? Leitura do tempo equivocada? Tentação de substituir o marketing pela ação efetiva?
Naquele momento, no auge das mobilizações, se fez uma manobra: o Mais Médicos desviou as atenções. Deu certo. A manobra e o Programa mais Médicos. A realidade, porém, se manteve inalterada e a sociedade demonstra cansaço. Fortaleceu-se a tese de que a esquerda não tem solução para o pais? Foi uma comunicação orquestrada pela grande mídia e que não encontrou resistência na realidade. De repente, demonizou-se o PT e, com ele, os movimentos sociais. Seria isso mesmo? 

Tudo indica que não foi um único erro. Mas um conjunto de erros. Não há um projeto claro de esquerda que não seja evitar o impedimento. Como os conservadores também não teem projeto, volta-se ao princípio. O que iremos construir? Essa pergunta se impõe quando se vê o que parece impensável. Um réu comandando o processo de impedimento na Câmara, os votos ( a favor do impedimento na Câmara)  se sucedendo em nome de Deus e da familia,  e um vice sem voto pleteiando governar e já fazendo negociações. Tudo parece surrealista. Menos o óbvio: o governo perdeu a batalha da comunicação. E mais: que as instituições não funcionam como se pensa. Na realidade, é uma visão romântica que traz tranquilidade, mas que não é bem assim. 

Seja o que for que vem pela frente, a esquerda mais uma vez monosprezou o poder de fogo convervador. Quer ganhar no discurso, o que só pode ser ganho na prática. Falta, sobretudo, liderança. Falta vir a público e dizer os caminhos a seguir. É isso que se espera de partidos de esquerda. Talvez, seja hora de voltar sobre os próprios passos e começar de novo. Um novo princípio, não parece nada mal. A começar por resgatar a identidade, tão penosamente ameaçada. 

*Francisco Viana é doutor em Filosófia Política (PUC-SP).

*João Edisom de Souza é Professor de Ciências Política









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