Olhar Direto

Sábado, 20 de abril de 2024

Opinião

A Bala, a Bíblia e o Golpe

Não há nada que destoe mais da democracia que a Bíblia e a bala. A Bíblia é a palavra de Deus, uma palavra de autoridade maior que aquela dos cuiabanos quando dizem "fulano falou, água parou". No caso da Bíblia, Deus falou o mundo estremeceu e só lhe resta obedecer. A coisa piora mais ainda quando um bando de charlatões e estelionatários se autodefinem representantes de legítimos de Deus aqui na terra e enchem, além das igrejas, as câmaras de vereadores, as assembleias legislativas, a câmara dos deputados e o senado federal. É gente do golpe, do interesse próprio e do autoritarismo.
 
A bala é pior ainda. Democracia é vida e liberdade. Bala é repressão e morte. Cresce nos legislativos brasileiros a bancada da bala. Um dos representantes de Mato Grosso no Senado Federal vem da bala. Ninguém votou nele. Entrou de suplente. Uma das mazelas da política brasileira necessitada de profunda reforma é colocar nos legislativos gente que não recebeu um voto sequer da população. Gente desconhecida.
  
Nosso policial feito Senador é do Partido Popular Socialista, uma das três grandes forças propulsoras do golpe em curso. Quando vejo a palavra socialista nesta sigla, vem-me sempre em mente o grande partido de Hitler - Nazional Socialismus, mas não é o assunto de hoje.
 
Como parte da máquina do golpe, nosso policial feito Senador ordenou aos seus ghost writers a publicar na imprensa local sua contribuição à propaganda "não é golpe, está na Constituição."
  
Afeito à bala e ao autoritarismo, nosso policial se dirige aos colegas de parlamento que defendem o governo com um vocabulário no mínimo mal educado em um regime democrático. Os defensores do governo são insensatos, canalhas, deselegantes, faltosos com a civilidade e mentirosos. Na verdade, é um vocabulário típico de agente policial afeito à agressão, ao autoritarismo, à repressão e à ameaça. deselegante é não respeitar a dignidade do adversário.
 
Golpe, traição de Temer, invenção de crime de responsabilidade é tudo insensatez da situação para nosso policial feito Senador. A coisa fica mais deselegante ainda quando o policial se dirige à Presidenta da República como "Dilma e sua quadrilha". Talvez seja o hábito de estar sempre envolvido com quadrilhas que leve o policial a não medir suas palavras e a não se preocupar em ser elegante. Depois de tudo isto, joga sobre a Presidenta Dilma a pecha de autoritária e arrogante. E os membros partido ao qual a presidenta é filiada não passam para o policial senador de uma canalha "que se veste de vermelho e passeia aos domingos". Confundo-me. Não sei se vejo diante de mim um porco, um político, um senador ou um policial. O vocabulário do arrivista está abaixo de tudo isto. E nem precisava tanto para repetir 1964, ou seja, dar o golpe e dizer que é revolução. Os tempos são outros. O mundo inteiro sabe que é golpe. Só o policial, finge não saber.
  
* Paulo da Rocha Dias é jornalista profissional, professor do curso de jornalismo da UFMT e autor do livro "O amigo do rei: Chatô, Rizzini e os Diários associados."
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