Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

“No shortcuts, no limits”

Maurício Barbant / ALMT



Longeva, inócua e desgastante: essas três palavras resumem bem a tentativa do governomato-grossensede transformar nossa educação pública, através das parcerias público-privadas. Parceria que consiste apenas na terceirização da gestão escolar, deixando o pedagógico nas mãos de professores da rede estadual de ensino: mais uma catástrofe anunciada, porque essa dicotomia é inconciliável.

É longeva porque depende de audiências públicas; depois dessas, vem o moroso processo licitatório e,não havendo recursos, a empresa vencedora construirá e/ou reformará parte das instalações escolares e implantará, gradualmente,  sua política de gestão. Ou, pior, implantará sua maneira de gerir, aliada a uma demão de tinta em meia dúzia de salas e a abóbora virará carruagem; não, porém, sem uma forte resistência dos professores concursados.

É inócua pois há um abismo, inclusive cultural, na concepção de como fazer, entre o público e o privado. Dificilmente dois regimes de contratação diferenciados (concursados e celetistas) conseguirão ter o mesmo ritmo de trabalho e de produtividade. Para constatar isso, basta conversar com professores que atuam simultaneamente nas redes pública e privada. Não existe meia verdade e nem meia mentira, como também não existe meio público ou meio privado.

É desgastante porquanto prevalecerá o viés ideológico, perpetradopelos sindicatos e pela“esquerda”, de que a educação deve ser dada pelo estado e que a iniciativa privada, que atua no setor, visa apenas ao lucro. Caso as PPPs se concretizem, o enfrentamento será permanente, difícil e infligirá danos grandiosos ao governo.

A capacidade de convencimento dos professores sobre os alunos está sendo subestimada pelo Paiaguás; todavia, o movimento de resistência já começou, vide a Escola Elmaz Gattas Monteiro, em Várzea Grande, ocupada por estudantes.

O Brasil vive uma espécie de apartheit educacional e para comprovar isso, basta olhar a posição que cada escola ocupa no desempenho nas provas do Enem: a supremacia avassaladora é do ensino privado. Como, nas terras de Cabral e, também, nas de Pascoal, opta-se sempre pelo atalho, pelo jeitinho e pelo faz-de-conta, instituíram-se as cotas nas universidades públicas,para se resolver a discrepância entre alunos da rede pública e da rede privada no país. Sou totalmente favorável às cotas, mas apenas como medida paliativa e não como solução definitiva para os problemas da educação pública brasileira.

As cotas apenas explicitam uma das vergonhas nacional:já que não consigo lhe dar um ensino de qualidade; garanto-lhe vagas no ensino superior. Antes que uns áulicos e uns panfletários venham com o discurso retrô e démodé: “Os alunos da escola pública não aprendem porque são pobres e não porque o ensino é de má qualidade”, sugiro que analisem o que acontece com os alunos de baixa renda, 95% negros e hispânicos, estadunidenses que estudam na KippInfynit Charter School, rede de escolas privadas contratadas pelo governo para atender à população de baixa renda nos Estados Unidos.

Proponho uma solução desafiadora: o governo estadual “compra” junto à iniciativa privada 1200 vagas anuais, 150 vagas por série,da 5ª série do fundamental à 3ª série do ensino médio, durante oito anos consecutivos, cede um prédio em regime de comodato,  faz um convênio com a UFMT ou Unemat para acompanhar o desempenho dos alunos e matricula nessa escola os alunos com menor  desempenho em cada série.

Em 2025, Mato Grosso será referência nacional, tanto nas escolas totalmente públicas, quanto nas escolas “chaters” porque ambas estarão focadas no essencial: a aquisição de conhecimentos, “no shortcuts, no limits”(sem atalhos, sem limites).

*Sérgio Cintra é professor há 36 anos e está consultor do Núcleo Social da Assembleia Legislativa de Mato Grosso 
sergiocintraprof@gmail.com
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