Olhar Direto

Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Opinião

Por que não ocupar?

Maurício Barbant


“Na primeira noite eles se aproximam/ e roubam uma flor/ do nosso jardim./ E não dizemos nada”  (Eduardo Alves da Costa)


Ao ler o artigo “Porque (sic) ocupamos escolas?”, do presidente da AME (Associação Mato-grossense de Estudantes Secundaristas), fiquei estarrecido não apenas com os erros crassos de português, como também com a inconsistência da argumentação. Isso fez com que eu corroborasse com ele em um único ponto: defesa da educação de qualidade.

Para melhor esclarecer os que me leem, faço um breve histórico sobre a evolução do Estado, da Revolução Francesa (1789) até nossos dias. Inicialmente, criou-se o Estado Liberal, que propôs a ideia do estado mínimo. Com a Revolução Industrial (séc. XIX) o modelo proposto pela burguesia francesa passou a ser questionado devido ao grande abismo econômico e social gerado nas entranhas do Liberalismo.

A intervenção estatal  foi a solução encontrada para se corrigir aqueles desvios; com isso, após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o Estado Social, também conhecido como Estado do Bem-Estar, ou Estado Social de Direito, ou Estado do Desenvolvimento, assumiu o compromisso de garantir o bem comum, em detrimento do individualismo liberal. Esse estado mastodôntico trouxe burocracia, ineficiência e corrupção.

Assim, mais uma metamorfose estatal fez-se necessária: o Estado Democrático de Direito ao qual, posteriormente, foi acrescida a ideia do Estado Subsidiário ou Regulador.

Essa nova configuração tem como princípio essencial limitar a intervenção do estado nos diversos setores da economia, restringindo-se à defesa, à segurança, à legislação, à polícia, à justiça e às relações exteriores. É dentro desse contexto que surgem, na Inglaterra (década de 90), as PPPs (Parcerias Público-Privadas), agora, tão questionadas, levando a AME a ocupar escolas.

Em seu artigo, o presidente da AME afirma: “... desvio de 56 milhões de reais que seriam destinados à reforma de escolas.” Jamais nenhum órgão investigativo disse que  esse seria o montante a ser desviado, mas um percentual pequeno desse valor. Claro que, independentemente do valor, nada justifica o ato; como também a exacerbação do valor é, no mínimo, falaciosa.

Diz também: “PPPs: TERCEIRIZAÇÃO É COISA DE LADRÃO”. Apesar do negrito e da caixa alta, a afirmação não se sustenta no decorrer do texto, aliás, com argumentos falhos, desconexos ou infundados não há  relação entre o subtítulo e a argumentação, falta coerência textual. Além disso, anteriormente, o escriba grafou “(Parcerias Públicas e Privadas)” conferindo à expressão outro significado que não o pretendido.

Em outro parágrafo, o autor procura estabelecer uma igualdade entre o governador atual e o anterior. O simples espelhamento de um e de outro  torna tal comparação  risível, porque  Silval é o antípoda de Pedro.  Que exista um ou outro ato em desacordo com princípios éticos e morais é aceitável; porém, tentar estabelecer semelhanças entre esses governos é algo surreal, e não menos interessante foi a transmutação do verbo pronominal “assemelha-se” em “assemelha”. Mas não nos prendamos às filigranas do idioma pátrio porque nos faltaria espaço para apontar as inconsistências do presidente da entidade estudantil.

Em artigo anterior fiz uma provocação ao governo, aos sindicatos e aos profissionais da educação: por que não comprar vagas nas escolas particulares e doá-las a alunos carentes? Por que não comparar, na prática, os dois modelos de gestão escolar: o totalmente público e o “charter”? A quem interessa a manutenção dos patamares ridículos da educação mato-grossense?

Mas como disse Eduardo Alves da Costa, em seu poema “No caminho com Maiakóvski”:  “ Tu sabes,/ conheces melhor do que eu/ a velha história”.

*Sérgio Cintra é professor e está Consultor Legislativo do Núcleo Social da ALMT.
sergiocintraprof@gmail.com
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