Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

​Liderança Partidária não se impõe, se conquista

Segundo Max Weber, intelectual alemão, o partido político é "uma associação que visa a um fim deliberado”, a qual comumente chamamos de “ideologia”.

Sob o ponto de vista conceitual, o filósofo francês Antoine Tracy diz que Ideologia “é um conjunto de ideias ou pensamentos de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos, que pode estar ligada a ações políticas, econômicas e sociais”. 

No Século XX, várias matizes ideológicas floresceram no mundo, e podem ser assim resumidas: Fascista, marcada pelo autoritarismo, visão expansionista e militarista. Nacionalista, onde há uma valorização exacerbada da cultura do próprio país, beirando o xenofobismo. Comunista, que tinha por objetivo implantar um sistema utópico de igualdade social. Anarquista, que utopicamente imagina uma sociedade sem o jugo do Estado. Democrática, cuja característica maior é a participação popular na vida política do País, partindo-se do princípio que todo poder emana do povo. Capitalista, com viés econômico, assentada na ideia do lucro e do acúmulo de riquezas. Conservadora que, de modo geral, quer manter o status quo dos valores ditos morais e sociais da sociedade.

No início da minha carreira política, quando candidatei e fui um dos mais votados para vereador em Cuiabá, concorri pelo Partido dos Trabalhadores (PT). A minha história de vida e minhas convicções levou-me naturalmente ao espectro ideológico dito, à época de “esquerda”, com viés socialista.

Posteriormente, em 2005, migrei para o Partido Socialista Brasileiro (PSB), que me pareceu, à época, mais consentâneo com os meus ideais de uma sociedade mais justa e fraterna, sem descurar da necessidade de um Estado democrático, com forte atuação nas políticas públicas inclusivas. 

Naquela época o PSB tinha apenas 1 prefeito, o de Juara, que depois migrou para o PMDB. Portanto, foi necessário um árduo trabalho de estruturação do partido. 

Em 2008, o PSB elegeu 3 prefeitos e, por uma estratégia da direção nacional, fui candidato a prefeito de Cuiabá, sem nenhuma estrutura econômica financeira. A ideia era marcar o nome do partido. Fui soldado.

Em 2009, ousei convidar um empresário para a sigla, Sr. Mauro Mendes, atual prefeito de Cuiabá. Ele aceitou o convite. Veja que foi eu quem o levou para o PSB. 

Em 2010, Mauro Mendes concorreu, pelo PSB, ao cargo de Governador, vindo a perder para Silval Barbosa, então fortemente apoiado pelo hoje Ministro Blairo Maggi e pelo agronegócio, a chamada “turma da botina”. Nesta mesma eleição concorri e ganhei meu segundo mandato de deputado federal, sendo o mais votado em Cuiabá. O PSB também conseguiu eleger a combativa deputada estadual Luciane Bezerra.

Após as eleições de 2010, na qualidade de presidente do diretório estadual do PSB, percorri os 141 municípios de Mato Grosso, buscando o fortalecimento e o crescimento do partido, com vistas às eleições municipais de 2012. Em cada local, fizemos reuniões políticas com lideranças e ministramos cursos de formação política e organização partidária para a militância e não filiados. O Sr. Mauro Mendes nunca se fez presente nessas andanças, porque não é homem de partido. Não dá importância às agremiações políticas. Suas empresas e sua vida pessoal sobrepõem às questões partidárias. Se está certo ou errado, não me cabe julgar. É apenas uma constatação.

Nas eleições de 2012 colhemos os frutos do nosso trabalho, a formação política e organização partidária que empreendemos possibilitou ao PSB sair de 3 para 12 prefeitos eleitos, inclusive Mauro Mendes em Cuiabá. Também saiu de 1 vice-prefeito para 11 vice-prefeitos. Pular de 31 vereadores para 86 vereadores. Em suma, o crescimento do número de prefeitos foi de 300%. O de vice-prefeitos foi de 1.000%, enquanto que de vereadores foi de 177%. Em relação a diretórios municipais, saltamos de 30 para 141 municípios. Crescimento de 370%.

Os números são incontestáveis e falam por si. O partido, sob a nossa presidência no Diretório Estadual, cresceu vertiginosamente.

Em 2013, com muita dor no coração, saí do PSB, partido que tinha (e tenho) afinidade ideológica, e migrei para o Partido Republicano da Ordem Social (PROS). E por que saí?

O Sr. Mauro Mendes, sem nenhuma tradição de convivência partidária e com a arrogância que lhe é peculiar, simplesmente formou um grupelho e passou a querer comandar as eleições estaduais e federais de 2014, sem respeitar a hierarquia e as diretivas regional do partido, construídas ao longo de dezenas de encontros municipais. Enfim, criou um partido “seu” dentro do PSB. Sem ouvir ou comunicar o diretório estadual, começou a filiar pessoas para disputar, dentro do seu grupo, as eleições de 2014, quando seria m eleitos deputados estaduais, federais, senador e governador. 

Diante de tamanha arrogância e prepotência do Sr. Mauro Mendes e considerando a dificuldade de convivência com o seu grupo, decidi sair do partido. Afinal, como diz o dito popular, vida que segue.

Nessa mudança de partido, fui acompanhado de todos, repito, de todos os prefeitos, vice-prefeitos e a maioria esmagadora dos vereadores. 

Ora, se não fosse um homem de partido, se não exercesse uma liderança e se eu fosse alguém desagregador, como explicar então essa debandada em massa do PSB, que me acompanhou para um novo partido? Mauro Mendes, ficou sozinho, porque ninguém nunca o reconheceu como líder e tampouco gostavam dele.

Hoje, o Sr. Mauro Mendes “arrota” que a minha saída possibilitou o “crescimento” do PSB. Ora, que crescimento?

O deputado Oscar Bezerra, já era antigo militante do PSB, com capital político próprio e com forte liderança no Vale do Arinos, onde já foi prefeito de Juara. Sua eleição nada tem a ver com a “liderança” de Mauro Mendes. O mesmo diga-se em relação ao deputado Max Russi, velho amigo e conhecido do Vale do São Lourenço, região onde nasci, tendo ele já exercido o cargo de prefeito de Jaciara por duas vezes, eleito e reeleito e ainda fez o sucessor. Eduardo Botelho é empresário de sucesso, com tradição política na família, seu irmão, Luiz Marinho, foi meu colega de vereança e, por muito tempo deputado estadual. No âmbito federal, Adilton Sachetti também tem capital político próprio e não depende da liderança de Mauro Mendes para vencer eleições, tendo sido, inclusive, prefeito da pujante cidade de Rondonópolis.

O único que advém da “liderança” do Mauro Mendes é seu pupilo, o deputado Fábio Garcia, que, além da força econômica que possui, tem o DNA da política em sua família, vez que seu avô, Sr. Garcia Neto, foi prefeito de Cuiabá pela UDN e indicado a Governador Biônico do Estado, no período da ditadura militar, pelo Presidente Ernesto Geisel.

Na “reconstrução” do PSB, apenas um único prefeito retornou à sigla, que foi o Sr. Marcos Sá, de Santa Cruz do Xingu, que teve como justificativa retornar a sigla para ficar junto com o governador Pedro Taques, que, contudo, não filiou ao PSB. Enquanto que os outros prefeitos e vice-prefeitos que saíram do partido nunca quiseram se submeter à “liderança” de Mauro Mendes. 

Sobre o fato de Mauro Mendes ter declinado da função de presidente do Diretório Regional, não é nenhum gesto de “desprendimento”. A verdade, é que ele nunca gostou de política partidária. Falta-lhe entrosamento e habilidade para conversar com lideranças fora do seu círculo de amizades empresariais. Ficou esse período na direção estadual para travar o crescimento da ex-deputada Luciane Bezerra e do atual deputado Oscar Bezerra.

Ademais, como suas empresas vão de mal a pior, não lhe sobra tempo para “cuidar” de partido e, pelo jeito, tampouco para administrar Cuiabá. Essa atividade foi terceirizada para secretários. Cuiabá não merece um prefeito ausente que, inclusive, no dia do aniversário da cidade viajou para bem longe. Cuiabá precisa de um político com sensibilidade social para administrá-la, não de um empresário.

Enfim, enquanto estive no PSB, cumpri minha missão. Trabalhei arduamente pelo crescimento do partido, e ele cresceu muito. Os números falam por si. Não impus e tampouco comprei minha liderança. Ela ocorreu naturalmente. 

Deputado Federal Valtenir Pereira
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