O Sistema Único de Saúde foi uma conquista árdua do povo brasileiro. Certamente o maior legado da revolução democrática advinda dos movimentos sociais da década de 70 e 80.Desde a sua efetiva implantação, há mais de 20 anos, ouvimos frequentemente que é um sistema falido e não funciona.

Hoje , esse discurso parece estar se amplificando no meio da classe política e já iniciou um movimento para dar alternativas para o SUS, sendo a principal delas a mudança de um dos seus pilares , a universalidade . 
Um dos motivos para tal mudança seria a falta de recursos para manter os direitos que o SUS oferece ao cidadão . Se algum dia se imaginou um momento para isso, esse certamente seja o pior deles, justamente pela crise econômica que o país passa atualmente. Nos últimos meses milhões de pessoas que tinham algum plano de saúde privado já não os têm mais, ou seja, migraram automaticamente para o SUS. 

Infelizmente estamos vendo um retrocesso do poder econômico das famílias brasileiras e isso impacta diretamente nos gastos com a saúde da população dentro do SUS. Porém, os erros da política econômica adotada nos últimos anos não podem ser descontados nas costas do brasileiro, principalmente quando ele irá precisar ainda mais do Estado.

Defender o SUS não se trata de estar de esquerda ou de direita, mas estar ao lado da vida de todos os brasileiros , desde aquele que toma uma vacina até o que necessita de um transplante cardíaco. Somente aqueles que viveram antes do SUS saberão o tamanho da barbárie que pode acontecer caso tivermos a descaracterização ou “remodelamento” desse sistema.

O governo brasileiro pode economizar em diversas áreas , menos na saúde, pois são nos momentos de crise de um país que se tem um maior número de doentes nas mais diversas faixas etárias. É importante ressaltar que estamos envelhecendo e consequentemente teremos um número enorme de doenças crônicas para serem tratadas e acompanhadas nas próximas décadas. Qualquer atitude inconsequente tomada hoje poderá abreviar, ou pior, causar dor e agonia a milhões de vidas dos brasileiros. 

Precisamos , sim, aumentar o orçamento do SUS pois historicamente não investimos nem 5 % do PIB do Brasil em saúde, enquanto países como Canadá, Inglaterra e Espanha investem mais de 8% do seu PIB. Portanto, diante da amplitude que o Sistema Único de Saúde tem, ele praticamente opera um milagre ao fazer tanto com pouco. A única forma de garantirmos o direito do cidadão à saúde é, além de defender o SUS, pressionar nossos legisladores para ampliar significativamente o investimento na saúde, assim teremos o SUS concreto que tanto idealizamos nessas últimas décadas.


Werley Peres é médico do SUS