Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

A Cuiabá de 25.000 habitantes

Reprodução

Transcorriam as primeiras décadas do século.

A cidade de Cuiabá ligada à Capital do país por uma navegação fluvial cujos barcos a frequentavam quatro vezes por mês e por uma incipiente linha aérea comercial de pequenos hidroaviões que a serviam duas vezes por semana, viviam a quietude dos centros urbanos isolados e aconchegante, onde a população que se conhecia quase toda, era hospitaleira e solidária.

Poucas eram as diversões. Um cinema instalado em quase um galpão, exibindo filmes projetados em partes.
Uma vez por ano, senão de dois em dois anos, um circo de cavalinhos. A novidade maior eram os rádios receptores que começavam a aparecer e que as famílias mais abonadas adquiriam para suasresidências instalando suas antenas de taquara amarela nos quintais e que sintonizavam com muito mais facilidade as estações de Buenos Aires do que as do Rio ou de São Paulo, mais fracas.

Assim era a cidade de 25 mil habitantes que meu pai viveu na meninice.
E um núcleo populacional com essas características, a cerca de 2000 quilômetros da metrópole cultural do país, o Rio de Janeiro, seria difícil, senão impossível, falar-se em cultura. Só por um milagre!

E o milagre aconteceu.

Na tranquilidadedaquela vida provinciana, encontravam, os jovens,todo tempo necessário para estudar. A leitura era a distração preferida das classes mais altas da pequena população.

Por incrível que possa parecer, obas deGarret, de Camilo Castelo Branco, de Balzac, de Zola de Vitor Hugo, andavam de mão em mão, tanto quanto as de José Alencar Taunay, e de Machado de Assis.
Nas bibliotecas encontravam-se livros em francês ou inglês que eram consultados pelos que estudavam essas línguas com os conterrâneos que frequentavam cursos ou estagiaram na Europa.

O teatro continuava a ser, como o fora no século 18, uma das maiores predileções dos cuiabanos.
Os saraus litero musicais eram diversões que muito agradavam a elite, nos clubes e nas Academias, onde eram declamados versos dos mais festejados poetas nacionais e onde os bardos locais lançavam suas produções.

Ao piano, exímios artistas executavam Schubert, Beethoven e Wagner e nos salões, quase sempre patrocinado pelo Presidente do Estado, ao som de musicas brasileiras e europeia, os convidados, entre goles de vinhos franceses, italianos e ingleses isto em uma capital que comercializava diretamente com o velho mundo.

OBS- Este é um relato feto por meu pai em vida a mim.

Dedico, este e as outras partes que virão, a quem insistentemente queria exterminar nossa Secretaria de Cultura para que saibam e admirem o valor do povo cuiabano.

Eduardo Póvoas é pós-graduado pela UFRJ
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