Olhar Direto

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

O conservadorismo como opção política

A palavra conservadorismo, é vista por muitos, principalmente no Brasil, como algo retrógrado e impensável para os dias atuais, mas o que acontece é que muitos não têm a mínima ideia do que seja conservadorismo político. O conservadorismo político moderno foi fundado pelo filósofo e político irlandês Edmund Burke (1729-1797), no qual possibilitou uma reação aos revolucionários franceses, que pregavam a destruição de tudo e de todos, e a construção do novo homem, não se importando com o derramamento de sangue que suas utopias levaram a França ao grande terror. Como dizia Michel Oakeshott, “ser conservador é preferir o familiar ao desconhecido, preferir o tentado ao não tentado, o fato ao mistério, o real ao possível, o limitado ao ilimitado, o próximo ao distante, o suficiente ao superabundante, o conveniente ao perfeito, a felicidade presente à utópica.”

Os conservadores, não acreditam em sonhos e fantasias da construção de um mundo perfeito e harmônico, onde todos os seres viveriam felizes e satisfeitos, pois o homem é cheio de falhas e defeitos, o vesgo e os erros é inerente aos homens, e não são as máximas filosóficas abstratas que irão modificar a essência humana. Segundo Russel Kirk, um grande filósofo político americano, em seus dez princípios conservadores, “o conservador acredita na existência de uma ordem moral perene, ordem significa harmonia, há dois aspectos ou tipos de ordem: a ordem interior da alma, e a ordem externa da comunidade. Vinte e cinco séculos atrás Platão ensinou esta doutrina, mas mesmo os instruídos de hoje em dia acham-na difícil de entender. Segundo, o conservador adere ao costume, às convenções e à continuidade.

É a antiga tradição que capacita as pessoas a viverem juntas pacificamente. Os destruidores de costumes destroem mais do que desejam ou sabem. É através da convenção – uma palavra muito violentada em nossa época – que conseguimos evitar a disputa perpétua a respeito de direitos e deveres: a lei, em seus fundamentos, é um corpo de convenções. A continuidade é o significado de vincular geração a geração, importa tanto para a sociedade como para o indivíduo, sem isto a vida é sem sentido. Num tempo em que revolucionários bem sucedidos têm apagado antigos costumes, escarnecido de antigas convenções, e quebrado a continuidade das instituições sociais, porque atualmente descobriram a necessidade de estabelecer novos costumes, convenções e continuidade. Porém este processo é doloroso e lento, e a nova ordem social que eventualmente emerge pode ser muito inferior à antiga que os radicais derrubaram em seu entusiasmo pelo Paraíso Terrestre.

Os conservadores são defensores dos costumes, convenções e continuidade porque preferem o diabo conhecido ao diabo que não conhecem. Ordem, justiça e liberdade, acreditam, são produtos de uma longa experiência, o resultado de séculos de testes, reflexões e sacrifícios. Então, o corpo social é um tipo de corporação espiritual comparável à igreja. Pode mesmo ser chamado de comunidade das almas. A sociedade humana não é uma máquina para ser tratada mecanicamente. A continuidade, sangue vital de uma sociedade, não deve ser interrompida. O lembrete de Burke sobre a necessidade de mudança prudente, está na mente do conservador. Mas a mudança necessária argumenta o conservador, deve ser gradual e discriminada, nunca quebrando antigos interesses imediatamente.”

Como bem reitera o escritor português, João Pereira Coutinho,“...um conservador tenderá a recusar essas fantasias, que partem de uma dupla falácia superiormente desmontada por Isaias Berlin: por um lado, a falácia de que os homens possuem uma natureza fixa e inalterável e que, por isso, desejam necessariamente as mesmas coisas;e; por outro lado, a falácia correspondente de que os valores mais caros à existência humana podem ser vivenciados na sua expressão máxima ( a máxima liberdade, a máxima igualdade, a máxima fraternidade) sem possibilidade de conflito entre eles”.O conservadorismo, por entender o potencial de violência e desumanidade que a política utópica transporta, irá também reagir defensivamente a tais apelos.

É notório que as ideias conservadoras são bem mais prudente e racional do que as irracionais criadas pelos revolucionários franceses, que do alto de suas abstrações filosóficas ceifaram a vida de inúmeras pessoas, sempre com o ideal da construção da sociedade perfeita e igualitária em todas as suas vertentes, e foi nesse caos que emergiu o conservadorismo político, como uma reação a barbárie e selvageria revolucionária. Como bem salienta Coutinho, as reflexões sobre a Revolução Francesa, foram escritas em 1789 e publicadas no ano seguinte, antes de os jacobinos começarem a guilhotinar os seus inimigos, reais ou imaginários, com assombrosa industriosidade.Burke vislumbrou nos princípios dos revolucionários o germe de abuso e violência que eles inevitavelmente plantariam na França. A revolução lançava-se na busca de uma perfeição terrena por meios exclusivamente humanos; tratava-se conforme ele a designou, de uma “revolução filosófica”, em que os revolucionários, alicerçados em doutrinas políticas abstratas sobre os “direitos do homem”, encaravam a comunidade como se esta fosse uma carte blanche para as suas visões da perfeição. Burke agiu contra a radicalidade de quem procura destruir o presente para inscrever, sobre as suas ruínas, novas formas reformista, que convidaria sempre a renovados atos de destruição.

O conservador possui a plena consciência da imperfeição humana, dos desafios e dificuldades no ato de governar e administrar a vida e a nação, portanto é contra toda e qualquer atitude política utópica e romântica. O conservador é humilde e prudente, não possui nenhuma pretensão em “mudar o mundo pra melhor”, sabedor do grande processo histórico pela qual passou a sociedade até chegar aos dias atuais, e não cabe a nenhum iluminado, destruir toda a cultura e valores construídos ao longo de séculos e milênios, tudo em nome de uma hipotética sociedade perfeita e harmônica. Ser conservador, é não acreditar que o estado deva ser o provedor de todas as coisas, mas sim, que as pessoas, sejam as verdadeiras donas das suas vidas e dos seus negócios, sem a interferência estatal, regulando e impondo normas nas relações comerciais, sociais, e familiares, ser conservador é vê o estado sempre como uma ameaça e nunca como um Deus onipotente.

No Brasil, as ideias conservadoras, ainda vivem ás margens do pensamento dominante esquerdista, aqui ser conservador é a mesma coisa de ser nazista/fascista, pois a esquerda através de muita doutrinação nas escolas e universidades, associou-se o pensamento conservador a ideia de autoritarismo e truculência, subvertendo o verdadeiro sentido da ideologia conservadora.

Portanto, conservadorismo político é o combate diuturnamente das ideias esquerdistas que tanta destruição trouxeram ao mundo, ser conservador é defender a tradição e a continuação de todas as experiências trazidas de gerações passadas, e sempre que possível e necessário, fazendo as alterações, ajustes e mudanças necessárias, mas sem destruir e nem aniquilar o passado e nem o presente.

Nildo Rodrigues é advogado em Mato Grosso.
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