Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

​Porque a alegria alheia nos incomoda

Imagina a seguinte cena. Você sai para jantar, talvez sozinho, ou talvez com apenas uma outra pessoa que precise tratar de um assunto delicado. Que precisa resolver algo com esta pessoa, quem sabe uma DR – discutir relação - , com um amigo ou com o parceiro amoroso. Ao lado da mesa que escolhem tem umas 7 mesas reunidas como apenas uma e nelas mais ou menos 12 pessoas, bebendo, contando piadas, tirando muitas fotos, cantando... Você tenta se concentrar na sua situação, na sua mesa, no assunto que precisa tratar. Mas, não consegue. A euforia da mesa ao lado está demasiada. Aquilo parece mais incomodo do que normalmente.  

Não é interessante que quando não estamos partilhando da algazarra, da alegria, da comemoração, da efusividade nós nos irritamos? Aquilo soa insuportável. Como pode estarem fazendo tanto barulho? Que escândalo desnecessário? Nossa, está/estão exagerando.  Quando a música do vizinho está alta e você não está lá partilhando o momento é que você nota o incomodo da música alta.

Vemos as pessoas postarem suas vidas toda no facebook, instagram, Snapchat. E você já percebeu como fica sua emoção quando passa a achar que alguém está exagerando? Você já percebeu que se você é uma pessoa mais discreta, ou que apenas utiliza o facebook para observar, que se irrita quando uma pessoa posta “demais”?

Tendemos a nos diferenciar do outro através do absurdo, da irritabilidade e do que reprovamos em nós mesmos. Se eu cuido para que não seja algo, ou cuido para não me permitir algo, logo se aquilo é permitido e manifestado no outro eu reprovo, me comparo e em seguida crítico. Os nossos exageros perdoamos com mais facilidade, porque entendemos muito bem do que se trata. Mas, os exageros dos outros, a alegria do outro, a manifestação do outro é demasiadamente fora do  lugar, indiscreta, incomoda, absurda!

Quando estamos num grupo de amigos em que todos se conhecem e se aprovam, tendemos a ter um comportamento mais livre, logo, pouco nos importamos com o que acontece ao nosso redor. Mas, se estamos sós tendemos a avaliar ou reprovar a conduta “livre” dos que estão com seus grupos de amigos.

Se conseguirmos fazer um furo nesse pensamento avaliador que acaba por se tornar automático, talvez consigamos aprender algo sobre nós mesmos. Toda vez que se deparar com o incomodo causado pela manifestação de alguém, lhe convido a fazer um exercício empático de se lembrar de situações parecidas que você tenha vivido e, que talvez, olhando de fora fosse considerado um exagero. Que você tentasse imaginar que aquelas pessoas reunidas, talvez não se vissem a muito tempo, talvez se amam tanto que estão partilhando histórias, afetos, que desejam partilhar seus momentos nas redes sociais, que talvez seja a comemoração por  ter vencido uma semana difícil,  um mês difícil, um ano difícil, ou mesmo uma vida difícil.

Limpa dos seus pensamentos que ela está querendo “se aparecer”, que está exagerando, que está carente, sendo falsa, ou qualquer outra coisa. Ao invés disso se pergunte o que você está sentindo que te faz pensar isso. Admita para si mesmo o que está sentindo e permita que essa verdade te liberte ao ponto de se alegrar junto com o outro, pelo outro. Isso irá te aproximar da sua própria alegria. Aí mora a grande questão do que nos incomoda nas pessoas. Isso irá produzir um aprendizado profundo sobre nós mesmos, e se você estiver disposto, pode sair disso mais forte, sem precisar enfraquecer a experiência de ninguém.

Douglas Amorim é psicólogo cognitivo comportamental. Atende em Cuiabá crianças, adolescentes e adultos. Faz palestras e treinamentos corporativos e posta frases e pensamentos em seu perfil no instagram.
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