Olhar Direto

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

Conscientização sobre o autismo: Por que? Para que? Para quem?

Mesmo nos dias atuais, onde as famílias conseguem ter maior acesso a diagnóstico e tratamento e as pessoas estão cada vez mais esclarecidas em relação a este tema, por que ainda se faz importante olhar para esta data e refletir sobre o assunto? Bem... não conseguiria responder esta pergunta, sem antes me lembrar de como é maravilhoso fazer parte da vida de algumas pessoas com este diagnóstico que já passaram pela minha vida.

Há cerca de 7 anos tive a alegria de entrar para este universo azul. De lá pra cá pude participar de algumas histórias, repletas de amor, coragem e superação. Algumas eu fico apenas por algum tempinho, outras permaneço mais. Tem também aquelas em que a convivência acaba sendo mais próxima, mas todas costumam deixar marcas bonitas em mim e em quem eu vou me tornando enquanto pessoa.

Ultimamente duas delas tem me tocado de forma especial. Um adulto, e uma criança. Eles são incrivelmente gentis comigo. A criança tem um abraço muito gostoso (quando me vê costuma vir correndo me abraçar), sempre me fala “obligado tia Fernanda” (quase me derreto quando ouço), e adora me ajudar na hora de guardar os brinquedos. O adulto é sempre muito cordial. É muito mais humano do que muitos humanos que costumamos ver por aí, é uma pessoa que admiro muito. Sempre chega me desejando um bom dia, me dá várias dicas sobre bons restaurantes para se conhecer por Cuiabá e São Paulo, tem consideração por mim e pelas pessoas ao seu redor e é extremamente habilidoso com alguns detalhes.

Quando olho para algumas pessoas que fazem parte da vida destes “autistas” que conheço, consigo entender por que costumam ser tão especiais assim. Tiveram o privilégio de partilharem inúmeros momentos e fases de suas vidas com pessoas que sabem amar e enxergar o outro dentro da relação. Um gesto tão simples, mas as vezes tão difícil! Uma pena que boa parte destas pessoas também costumam estar expostas a relações nas quais elas são desvalorizadas e excluídas por conta de suas diferenças, como se não fosse comum e enriquecedor sermos uns diferentes dos outros.

Me entristeço de saber que muitas dessas pessoas ainda sofrem discriminação, exclusão, e as  vezes até agressões. E que determinadas vivências que poderiam oportunizar crescimento e nos engrandecer enquanto sujeitos, acabam se constituindo de uma forma que chega a causar até uma preocupação com o rumo para o qual estamos caminhando enquanto humanidade.

Ainda é necessário ter dia para se conscientizar (sobre este e inúmeros outros assuntos), pois é comum nos depararmos com intolerância, desrespeito, falta de consciência, e falta de amor ao próximo (seja ele quem for). Somos produtos da nossa história, mas estamos o tempo todo nos modificando a partir das experiências que vivenciamos ao longo de nossa caminhada. Ainda vivemos em um mundo no qual determinadas pessoas são humilhadas, desvalorizadas, excluídas e agredidas, simplesmente por serem quem são ou por não seguirem padrões ideais estabelecidos em nossa cultura. E assim vamos perdendo muito a nossa humanidade, e nos
privando de boas ocasiões nas quais poderíamos aprender a ser um ser humano melhor.

Enfim... A conscientização não é apenas para que as pessoas saibam identificar, para legitimar os direitos daqueles que são diagnosticados desta forma, e para que se tenha mais acesso a tratamento. Não se restringe a familiares, escola e profissionais envolvidos. Também é necessário que a comunidade se atente para as necessidades das outras pessoas. Também é importante lembrarmos que não existe apenas o nosso jeito de ser/pensar no universo. E assim como todos nós costumamos querer colher amor e respeito em nossas vidas, é importante  semear.

Conscientizar sobre o autismo pode nos fazer aprender muito, e conhecer um universo lindo. Certamente é uma ótima experiência para todos aqueles que gostam de cultivar amor e de aprender com as diferenças.


*Fernanda Pereira Fernandes é Psicóloga Clínica em Cuiabá, especialista em Terapia Comportamental (USP) e mestre em Psicologia Clínica (PUC/SP). e-mail: fernandapfernandes_@hotmail.com
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