Nasci do retalho de uma ação umbilical, adquiri retalhos desde a minha infância a fase adulta, destes, fiz a constituição de minha vida, a completude do que sou, e toda a minha imperfeição.

Sou retalho ainda, vou ser até o dia da minha morte. Retalhos estão por todos os lados é pegar ou largar. São eles a nossa forma de entender o mundo e tudo que está em volta.

Os retalhos estão em tudo que você faz, e você vai recolhendo ou descartando no seu dia a dia, compondo, absorvendo-o, ou  rejeitando. Alguns são pretos e brancos, outros coloridos, uns tristes, outros alegres, uns confiáveis, outros nem tanto.

Retalhos são tessituras de notas musicais da vida, pingos nos ísda minha existência, composiçãode uma melodia eterna. Minúsculas partes que compõem um todo em mim, que sou apenas uma “virgula” em determinado espaço social.

Retalho sou e serei, embora parte de mim, seja retalho em outros, que tecem uma cocha social de interesses supra e infraestrutural.

Retalhos são como átomos, minúsculos, invisíveis e ao mesmo tempo imprescindíveis na cadeia social de qualquer existência. Não se pode retirar um, pois quebraria a corrente dos outros.

Retalho é um ser que procura o outro. A procura busca o que todos necessitamos: conhecimento. Sem ele   viramos trapos, sem serventia ou utilidade.

O repasse de conhecimento é o que nos une e nos separa, converge e diverge os grupos sociais com seus interesses tácitos ou explícitos.  

Retalho sou e serei, ontem, hoje e sempre, e de retalhos dos outros me fiz inteiro, com defeitos e qualidades de outras pessoas. Retalho é a contribuição, espontânea ou não, que coteja minha vida.

Retalhos são os seres humanos que num movimento frenético, dialético e constante, buscam no outro, o que lhe falta por necessidades, em busca de bens para sua sobrevivência social.  

Em homenagem a Retalhos de Cora Coralina


Pedro Felix é Escritor, Historiador, Funcionário Público.