Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

Democracia e voto

Pergunto ao leitor: voçê emprestaria alguma quantia em dinheiro ou algum outro bem para alguém, cuja idoneidade, honestidade ou caráter, você duvidasse? Você empregaria uma pessoa em sua empresa sem fazer uma verificação mínima de antecedentes? Veja que falei em desconfiança e não certeza. Pois bem, provavelmente, a maioria esmagadora das pessoas não faria isso.

Por que então, quando diante de uma das maiores responsabilidades da vida em sociedade democrática, o voto nas eleições para representantes dos Poderes Executivo e Legislativo, em que bilhões de reais ficarão sob a gestão de tais agentes políticos, não seguimos a regra básica acima apresentada?

Por que escolhemos pessoas em quem pairam dúvidas sobre a conduta moral? Não seria mais sensato, na incerteza, votar em outro? Perceba que não estou falando em “todos são inocentes até prova em contrário”. Esta máxima serve ao processo judicial criminal. Refiro-me à situação de escolha de pessoas para serem agentes políticos do Estado, os famosos “representantes do povo”. Para tanto, não se faz necessário uma postura de Juiz togado. A melhor atitude de um eleitor consciente é, ou deveria ser:  “na dúvida, não voto nele, escolho outro em que inexistam  até comentários sobre eventual falha de caráter”. Simples assim!

Exemplifiquemos. O ex-Presidente Lula e inúmeros outros políticos, estão condenados em primeira instância e/ou são Réus em outros processos ainda sem julgamento. Tecnicamente, tais pessoas são inocentes até o trânsito em julgado (situação de não cabimento de mais impugnações) da ação penal movida pelo Estado. Suponhamos que até a eleição de em 2018 ainda não haja o término do processo e muitos deles candidatem-se. Ora, como eleitor, posso formar minha convicção, independentemente da finalização da ação penal. Na dúvida não voto. Escolho outro.

Ou, então, fiquemos com os eventos que acontecem neste momento aqui em Mato Grosso, oriundos da “delação do fim do mundo” do ex-Governador Silval Barbosa. Agentes políticos foram filmados recebendo dinheiro em espécie no Paiaguás. No contexto da delação, tais vídeos foram anexados para comprovar pagamento de propinas. Nenhum dos flagrados confirmaram que receberam dinheiro ilícito. Temos então a situação de “dúvida” acima mencionada. Atitude? Não vote mais em tais pessoas. Simples assim. Haverá um “efeito pedagógico” aos demais.

Quantos agentes políticos atualmente em pleno exercício dos seus cargos, decidindo orçamentos bilionários, redigindo leis, decretos e toda sorte de regulamentações que atingem todos os brasileiros e ao mesmo tempo em que respondem a procedimentos investigativos ou já na qualidade de denunciados ou réus, não estariam fora de cena caso tivéssemos simplesmente deixado de votar porque desconfiávamos de sua idoneidade? Perceba que o acesso a informações, em época de mídias sociais, nunca foi tão fácil de ser obtido.

Atente que ao agir dessa forma cautelosa você não está sendo injusto. Precisamos mudar nosso modelo mental e entender que a vida pública não pode ser gerida por pessoas em que pairam qualquer tipo de mácula ou suspeita de prática não republicana. A res-publica é de todos e parte da minha riqueza está sendo expropriada para financiar o público.

São inúmeros os senadores, deputados, vereadores, governadores e prefeitos pilhados surrupiando o erário, investigados e... pasmem, reeleitos. Algo está muito errado. Leadro Karnal, em suas palestras sobre ética, lembra sempre que não existiriam governos corruptos com uma população honesta. Claro. Nossos políticos não vêm de marte, são oriundos do seio da sociedade. Não se transformam em corruptos pelas oportunidades, mas sim, as oportunidades revelam os corruptos que já eram.

Em sua obra provocadora intitulada “Democracia - o Deus que falhou”, o escritor liberal Hans-Hermann Hoppe  elenca argumentos avassaladores para explicar como a democracia gerou exatamente aquele aumento no poder estatal que os liberais clássicos deploravam. Segundo Hope o “rápido crescimento do poder estatal observado ao longo do século XX — tão lamentado por Mises e Rothbard — deve ser atribuído à democracia e à mentalidade democrática, isto é, à (errônea e falsa) crença na eficiência e na justiça da propriedade pública e nas virtudes de um governo da maioria."

Concorde ou não com o autor acima, uma coisa é certa, a nossa democracia tem servido muito mais a uma casta privilegiada do que à população. Institutos construídos e positivados na Lei Maior, os quais, em tese, deveriam servir para proteger as pessoas do arbítrio estatal, são utilizados para acobertarem todo tipo de crime, principalmente os praticados contra a administração pública e da justiça. É bom que começemos a refletir sobre esse fenômeno.

Essa história de que o Brasil é o país do futuro já deu o que tinha que dar. Que futuro é esse que nunca chega? Parece que estamos sempre recomeçando do zero. Teremos que melhorar a qualidade da nossa participação política ou continuar colhendo os resultados que estão aí. Querer alguma mudança e continuar fazendo a mesma coisa é a melhor definição de insanidade que existe.

Lembre-se: in dubio, vote em outro!
 
 
Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)
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