Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

Leitores X copiadores!

“Mato Grosso é, exatamente, “grande brousse” [grande mato]; (...)oferece algo de grandioso e exaltante”. Claude Lévi-Strauss, In: “Tristes Trópicos” (1955).
 
Associo ‘exaltante e grandioso’ ao leitor/escritor o historiador e autodidata Rubens de Mendonça. O escritor foi e será sempre relevante para os cidadãos, teve como foco - ética-moral e profissionalismo, evidenciando as relações de conhecimentos através de suas obras e fomentador de novos leitores, para transformação dos cidadãos e suas percepções culturais.

Quando adentramos em uma biblioteca sentimos ladeados de pensamentos que estão silenciados. Livros fechados representam um mundo obscuro. Mas, a partir do momento que iniciamos a manuseá-los, viajamos pelo mundo, então assimilamos conhecimentos e esperanças. Os livros são detentores de informações que foram elaborados por dedicados cientistas, técnicos e autodidatas, um universo totalmente diferenciado e flexível para o mundo, transformando-nos em fomentadores de saberes.  O autodidata Rubens de Mendonça deixou-nos abordagens diversas, basta visitar as bibliotecas, que encontraremos nas suas brilhantes obras para mitigar o analfabetismo.

O discurso de sua filha, Adélia Badre Mendonça de Deus, leva nos à reflexão sobre o cidadão que teve em seu cotidiano ações para transformar à sociedade através do conhecimento, ou seja leitura para todos.  Mendonça de Deus, que dedica ativamente para que o sonho do pai Rubens de Mendonça seja efetivado: Leitura para todos.
 Adélia Maria Badre Mendonça de Deus – é aposentada da Universidade Federal de Mato Grosso- UFMT, onde se graduou, nessa mesma instituição, em direito.

  “Nasci em um casarão da rua Barão de Melgaço, sempre escutando da minha saudosa mãe, Ivone Badre Mendonça (nasceu 01/12/1920- faleceu em 12/09/1998), que morávamos em uma ilha, pois éramos cercados de livros por todos os lados. Quem conheceu os casarões antigos de Cuiabá sabe que, eram imensos. Nosso casarão, não foi exceção. Eram 14 peças, todas, absolutamente, todas ocupadas por livros. Quando não cabia mais no espaço reservado à sua biblioteca, o que chamávamos de ‘quartão’ ele, o pesquisador, jornalista, historiador, literato e sátiro Rubens de Mendonça (nasceu 27/07/1915- faleceu em 03/04/1983) que deixou 40 livros editados, sendo dois ‘post mortem’, mandava confeccionar prateleiras de madeira e dava um jeito, sem cerimônia, de transformar em “estantes”. As portas que ligavam um cômodo ao outro, o que, obrigava o pessoal da casa fazer um certo exercício para circular nos ambientes, do casarão. Eram 10.000 exemplares de livros, incluindo, aí obras preciosas remanescentes da biblioteca do seu pai, historiador Estevão de Mendonça (nasceu 25/12/1869-faleceu em 02/12/1949).

  Rubens de Mendonça, meu pai deu vida à sua biblioteca que, adquiriu com o suor do seu trabalho. Assim, como as suas obras editadas eram todas, financiadas por ele, mesmo. Foram tempos difíceis, mas, contava sempre, com a nossa compreensão. Viveu despreendidamente, e como autodidata que era, fez da leitura a sua razão de viver.

  A pergunta que “me fora feita pela amiga Graci foi; -” a convivência com os livros como isso, interferiu na sua vida? ”“. Respondo da forma mais positiva possível. Não desconheço o valor de nenhum escritor, muito menos as dificuldades enfrentadas, ainda hoje, mesmo com tanta tecnologia à disposição. Lamento, sobremaneira, que não há uma política pública que incentive as escolas de ensino básico e fundamental o hábito da leitura. E mais, esses alunos conhecem os nossos autores. Os desbravadores, aqueles que revolveram e buscaram as suas fontes na privação do conforto hodierno e os atuais que, mesmo depois de verem as suas obras editadas suam a camisa para vê-las consumidas pelo público leitor.  Público leitor? Espero, sinceramente que a nossa juventude possa ser chamada, um dia, de público leitor e não de uma legião de copiadores. ”

A memória do autodidata Rubens de Mendonça sempre foi destaque, e é de relevante importância para a sociedade. O professor Benedito Pedro Dorileo, escritor, ex-reitor da UFMT, Membro do Instituto Histórico e Geográfico-MT e da Academia Mato-grossense de Letra, pontuou a reflexão do grande historiador: Rubens de Mendonça “tive na vida tudo o quanto quis, graças a Deus minha vida foi boa, graças a Deus eu sempre fui feliz. ” O autodidata ao dizer por duas vezes a palavra Deus, parece-nos que já tinha absoluta certeza da importância do valoroso trabalho acadêmico que nos deixou. Atualmente sua filha trata suas obras como uma joia muito preciosa, podemos afirmar que o acervo do historiador Rubens de Mendonça são de esplendida originalidade. Sua vida foi pautada de humildade e intelectualidade, facilitando acesso ao conhecimento.

Leitores, necessitamos assimilar e fomentar a postura cultural do autodidata Mendonça (1977), este que, ao elaborar a história, cristaliza os fatos com riquezas de detalhes e originalidade.  O historiador relata os fatos tal qual, e o faz com primor, para que o leitor saiba a fundamentação da informação com objetividade. Abrilhantamos a forma de concatenação de ideias do autor, diz: Rubens de Mendonça (1977) In: “Evolução do Ensino em Mato Grosso”, “Quando estive pesquisando, no Artigo Eclesiástico, em 1951, para elaborar o meu “Roteiro Histórico e Sentimental da Vila Real do Jesus de Cuiabá”, o meu saudoso amigo Dom Aquino Correa me deu para ler um folheto de 1880, sobre a instalação desse estabelecimento de ensino. Por curiosidade tirei uma cópia de alguns de seus trechos e hoje, 22 anos, após, passo a utilizá-lo”.   

O autodidata traz a lume o momento em que ocorreram os fatos e sempre priorizando a acessibilidade para o leitor.  O leitor cônscio, jamais será copiador. É partir da leitura, seja ela empírica ou científica, iniciamos uma relação de combate ao analfabetismo, isto, o autodidata Rubens de Mendonça o fez no decorrer de sua existência.
Houve necessidade de pesquisas e visitas, para associar o cenário das bibliotecas na atualidade, frente à tanta grandeza do escritor no que diz respeito aos saberes.
Convidamos o leitor a refletir sobre os números de bibliotecas:

Conforme a Coordenadoria do Sistema de Biblioteca Pública de Mato Grosso-SEBP/MT. “O SEBP/MT é constituído por 154 Bibliotecas, 1 Estadual, 142 Públicas Municipais e 11 comunitárias. Nas Visitas realizadas pelo SEBP/MT em 88 bibliotecas em 86 municípios constatamos que 39 espaços estavam fechados, após a notificação orientativa 6 foram reabertas e 6 estão em processo de reabertura. Ressalto que todas as bibliotecas públicas municipais foram criadas por lei e cabe ao sistema estadual de bibliotecas públicas garantir que o município mantenha esse equipamento aberto e bem estruturado para que ocorra o empoderamento social desse importante equipamento cultural. ”

O Estado tem 141 municípios. Segundo a Coordenadora do SEBP/MT, Sra. Waldineia Ribeiro de Almeida, (12/09/2017) foram visitadas no período de 12/2016 até 08/2017, das 88 bibliotecas municipais em 86 municipais. E, sendo total de 154 cadastradas, 01 estadual, 142 municipais, 11 comunitárias, na capital são 08. Conforme os dados: Mato Grosso -154 bibliotecas que, desde 2016 foram visitadas dentre o total de 154, sendo 57,74%, (são das 88 visitadas); e de 154 -21,43% (fechadas). Há necessidade de que, os gestores públicos batalhem para elevar o número de biblioteca disponíveis para o cidadão.      Há posturas dignas de serem seguidas e adotadas, tal como de alguns profissionais da área de educação, ao direcionar o cidadão para inteirar-se do mundo dos saberes. No cotidiano da instituição os educadores estavam demonstrando as normas e regras internas da Biblioteca estadual Estevão de Mendonça, localizada no coração da capital de Cuiabá-MT, recinto que traz consigo excelestes acervos, horários de funcionamentos, produtos disponíveis nos bancos de dados, curso de informática para idosos e outras atividades. Há de se observar a dinâmica dos jovens em visita ao local da evolução cultural.

O mundo da comunicação é a leitura. É através da leitura que nós nos transformamos. Devemos pensar cultura, na dinâmica do respeito, iniciando da bagagem intelectual de cada cidadão. Estão sempre entrelaçados à leitura e pesquisa, assim traz à lume conhecimentos de mundos, fluindo à comunicação entre os cidadãos e os saberes.
A autora no afã de encontrar cidadãos leitores, visitou o evento “Valorizando a Alfabetização”, local: Ganha Tempo. A profª Edvair Alves Pereira, Coordenadora das Bibliotecas Comunitárias ‘Saber com Sabor’, diz: (...) Mesmo no mundo digital as pessoas procuram emprestar livros, podem até terem tablet, mais, preferem levar o livro e ler em casa.

Notar-se-á a alegria das crianças ao manusear um livro. Isto era o sonho de Rubens de Mendonça: todos leitores. Autoridades atentem para Cultura, temos pressa!

Graci Ourives de Miranda, escritora.
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