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Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

Cirurgia melhora a qualidade de vida para pacientes com Doença de Parkinson

Apesar de a Doença de Parkinson não ter cura, uma cirurgia que faz a estimulação de núcleos profundos do cérebro através de eletrodos promove melhora da qualidade de vida em pacientes portadores da doença.

Classicamente, esta doença acomete de forma progressiva o sistema nervoso central e provoca tremores, enrijecimento muscular (rigidez) e lentidão dos movimentos. E, quando os remédios não produzem o efeito desejado no controle dos sintomas, deixando o paciente impossibilitado de tarefas simples como escrever, cozinhar, tomar banho e até andar, a cirurgia de estimulação cerebral consegue controlar (ou eliminar em alguns casos) os tremores e a rigidez, "resgatando" o paciente a um novo ponto de equilíbrio, o que acarreta em melhora na qualidade de vida na grande maioria dos casos.

A cirurgia consiste no implante de eletrodos no cérebro em núcleos específicos que estão envolvidos nos fenômenos motores da doença. Esta cirurgia já é bem estabelecida há décadas, mas só no início dos anos 2000 que se popularizou no mundo inteiro. Preferencialmente, o paciente fica acordado durante a parte de implante dos eletrodos cerebrais, mas avanços recentes permitem que a cirurgia seja feita com anestesia geral, permitindo que pacientes que não optem por fazer a cirurgia acordados possam ser beneficiados pelo tratamento. Para que os eletrodos funcionem, são conectados a um gerador (marca-passo) que é implantando na região torácica, semelhante a um marca-passo cardíaco.

A cirurgia é eficaz no controle dos sintomas motores da doença, não tendo até o momento estudos conclusivos sobre os sintomas não motores da mesma (depressão, demência, distúrbios da fala, entre outros). Inicialmente, a cirurgia foi recomendada preferencialmente até os 65 anos, mas trabalhos posteriores realizados em grandes centros de excelência fora do Brasil, como Alemanha, França, Canadá e EUA, suportam seu uso até em populações na faixa entre 65 – 75 anos, com excelentes resultados.

Além da Doença de Parkinson, a estimulação cerebral já tem sua comprovação em distonias em crianças e adultos (movimentos involuntários diversos, sendo mais comuns a primária e a tardia), transtornos psiquiátricos (TOC – transtorno obsessivo compulsivo, agressividade), tremor essencial (também conhecido comumente como "tremor familiar"), dores de origem central, epilepsia e outras doenças em estudo em centros especializados. Alguns trabalhos experimentais têm resultados preliminares na obesidade e na Doença de Alzheimer, mas sem conclusões definitivas e, portanto, sem liberação para uso em qualquer paciente fora de ambiente acadêmico e controlado (termo denominado de "off label").

Vale ressaltar que as cirurgias de estimulação cerebral para distúrbios de movimentos (Doença de Parkinson, distonias, tremor essencial e outros) e para epilepsia já pertencem ao rol de cobertura obrigatória da ANS. Deste modo, todos os pacientes que possuem planos regulamentados pela ANS e com indicação de cirurgia podem ser operados e os custos cobertos pelos convênios.

De modo ímpar, é imprescindível passar por uma consulta com um neurocirurgião que tenha treinamento comprovado na área. A avaliação é feita a partir de exames e questionários específicos.


José Wesley Lemos dos Reis é neurocirurgião - Membro titular da SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia) e ABNc (Academia Brasileira de Neurocirurgia)
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