Olhar Direto

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

Um espectro ronda o Brasil, é o espectro da manipulação do pensamento

Inicialmente iria escrever um texto sobre ideologia. O que é, como se manifesta e qual a sua importância no contexto atual. Pois bem, ao buscar meus alfarrábios, deparei-me com um pequeno livro da “coleção primeiros passos” de autoria da Professora de filosofia uspiana e intelectual orgânica do PT, Marilena Chauí (aquela mesma que vociferou “eu odeio a classe média”), intitulado “o que é ideologia”.  Já havia lido essa obra uns quinze anos atrás. Rapidamente, fiz a releitura. Ao terminar, desisti de escrever sobre o tema “ideologia” e resolvi fazer uma crítica ao livro propriamente dito.
 
Como mencionei, o livro é curto, 125 páginas em em formato “de bolso”. As primeiras 25 páginas Chauí discorre sobre o pensamento grego via Aristóteles e alguns pensadores modernos como Descartes. Segue com o histórico do termo citando Destutt de Tracy e os filósofos positivistas Conte e Durkhein. Contudo, nas próximas cem páginas (80% da obra), a Professora abordará a ideologia sob a concepção MARXISTA. Para tanto, fará uma digressão com base na obra de Marx e Engels intitulada “a ideologia Alemã” de 1.846.
 
O primeiro aspecto a ser observado é que Marilena Chauí apenas descreve a concepção de ideologia produzida por estes “aloprados” históricos chamados Marx e Engels, sem fazer absolutamente nenhum contraponto. Ou seja, finda a leitura você terá concluído que ideologia é o que os autores alemães propuseram e fecha a fatura. Claro que a professora tem todo o direito de abordar o tema como bem lhe aprouver, ocorre que esta cidadã é uma funcionária pública de uma universidade estatal e, muito, provavelmente apresenta a doutrina marxista a seus alunos nos mesmos moldes pedagógicos que seu livro, isto é, um certeza religiosa.
 
Marx e Engels ao escreverem a “Ideologia Alemã” precisaram enfrentar a teoria do conhecimento produzida e aceita à época pela comunidade filosófica da Alemanha e sistematizada na obra “Fenomenologia do Espírito” de Hegel (1.770/1.831). Obra extremamente complexa e onde Hegel desenvolve a sua concepção de dialética histórica, ou seja, começamos com uma tese (uma determinada posição posta em discussão). Em oposição à esta tese, há uma afirmação contraditória ou antítese. Do encontro entre as duas nasce a síntese (que abrange ambas, mas significa outra coisa). Com a síntese, abre-se uma nova antítese e, assim, ad infinitum, até chegar-se ao conhecimento absoluto. É com esse método que Hegel analisa a história. Essa dialética é o “motor” da história.
 
Marx aproveita-se desse conhecimento e o adapta para fazer a sua leitura do processo histórico. Cria a sua teoria do materialismo histórico-dialetico e concebe a história como “luta de classes”, simples assim. É incrível como Chauí não faz nenhum contraponto às premissas marxistas sobre o capitalismo já amplamente descontruídas ao longo do tempo. Não. Repete os erros cometidos por Marx em sua obra principal “O Capital” como se ainda hoje pudessem ser utilizadas para entender o complexo mundo capitalista atual. À guisa de exemplo, Marilena repete a cantilena da “mais valia” e do “valor objetivo” da mercadoria.
 
Assim, discursa-se a teoria da “exploração”, da “mais-valia”, das “classes”, dos “injustiçados”, da “crueldade” do capitalista e do “explorado” proletariado (“coxinha” versus “mortadela” aqui no Brasil). Toda a teoria não resiste a uma investigação à luz da razão. Já foi sumariamente desconstruída por economistas como Ludwig Von Mises (1.881/1.973) e Friedrich Hayek (1.899/1.992; prêmio Nobel em economia de 1.974), o qual demonstrou de forma admirável que, no mundo real, a informação está dispersa entre uma imensidão de indivíduos, daí, novamente, a impossibilidade teórica e prática de haver um planejamento central da economia, como restaram comprovadas em todas as fracassadas tentativas de imposição do modelo econômico socialista.[1]
 
É como observa Roger Scruton (apud Gordon, 2017), o estilo de Marx conduz à crença de que seus textos possuem um “caráter sacro, não podendo ser discutidos, e tampouco compreendidos, senão por aqueles que –por algum ato de fé – já aceitam as suas principais conclusões”. O próprio Scruton cita uma frase inacreditável formulada pelo marxista franco-argelino de que “não é possível ler O Capital adequadamente sem o auxílio da filosofia marxista, que deve ela mesma ser lida, e simultaneamente, no próprio O Capital”.
 
Assim, Chauí não conseque escapar desse método tautológico, chegando à conclusão de que ideologia é aquilo que Marx disse que é: “uma forma de dominação da classe dominante”. Para Marx, tal se dá porque a sociedade sempre esteve dividida em classes antagônicas, contraditórias e em luta. Liberdade e desigualdade material foram ideologias criadas pela burguesia para legitimar a divisão social do trabalho, esta, causadora do processo chamado por Marx de “alienação”.
Em resumo, só existe ideologia porque há divisão de classes e do trabalho, proprocionada pela propriedade privada. Esta existe para justificar aquela. Solução marxista: elimine-se a propriedade privada dos meios de produção, acabarão as classes sociais, e, portanto, a “luta de classes”. Instala-se a igualdade material absoluta e, passado algum tempo (Marx nunca disse quanto) ocorre o “fim do Estado” e da “história”, instalando-se o “paraíso na terra”. Por enquanto, de todas as tentativas para chegar a este “jardim do Edem” sem Deus, ficou-se no inferno de Dante.
 
Como se daria esse processo? Marilena Chauí, admirada, esclarece através do próprio semi-deus barbudo. Observem que maravilha de raciocínio. “É fundamental, diz Marx, que haja total desenvolvimento das forças produtivas (capitalistas), isto é, que tenha sido produzido um mundo cultural e material abundante, pois, sem isto, a massa revolucionária teria que começar o processo histórico partindo da carência e da escassez, da luta pela sobrevivência material imediata (...) o CAPITALISMO COMO MERCADO MUNDIAL É, PORTANTO, O PRESSUPOSTO PRÁTICO DO COMUNISMO COMO SOCIEDADE na qual os indivíduos exercerão o controle consciente dos poderes que parece dominá-los de fora (natureza, mercado, estado)”. Ufa, chega!
 
O que realmente me assusta é que até hoje, professores universitários e líderes políticos ainda acreditam em tais desideratos. Segundo o próprio Marx, para que passe a existir a sociedade comunista, é preciso, antes, haver o capitalismo total, com a produção de toda a abundância material possível. Ou seja, o comunismo precisa do capitalismo, afinal de contas, como o próprio Marx disse, seria um absurdo voltarmos a idade da subsistência básica. Alguém tem que fazer o trabalho pesado. Com certeza, não são os intelectuais comunistas. Talvez seja por este motivo que, em todas as tentativas de implantação desse modelo, a elite intelectual de vanguarda que assume o poder total, permanece vivendo nababescamente com a abundância material que existia antes e que foi criada pelo mode de produção capitalista, aliás, o único arranjo desenvolvido pela nossa espécie para criar riqueza.
 
Talvez eu tenha concluído erroneamente, mas, entendi que o marxismo não é ideologia. Talvez porque, como a ideologia é sempre a visão de mundo imposta pela classe dominante, e o paraíso comunista não tem classe, por consequência, não tem ideologia. Por questão de honestidade intelectual, a autora deveria ter nomeado seu livro como “o que é ideologia marxista” , “ideologia sob a ótica do marxismo” ou “marxismo sem ideologia”.
 
Assim sendo, recomento ao querido leitor que, se for fazer a leitura desta pequena obra da Professora Chauí, antes de iniciar, deixe pronto para começar a imediata leitura do Capítulo 7 da obra “Teoria e História” de Ludwig Von Mises, disponível gratuitamente em pdf no site www.mises.org.br. Desta forma, você receberá o “antídoto” para fortalecer-se contra os inúmeros pontos da teoria marxista já devidamente colocados na lata de lixo da história.
 
Penso que esse pessoal presta um desserviço à nação quando ainda insistem em divulgar e legitimar um corpo doutrinário com características de uma religião sem deus. De Marx até hoje foi produzido um oceano de conhecimento derivado do marxismo. Mergulhar neste caldo de cultura pode levar a vida inteira e provavelmente você não conseguirá sair de lá. Obras como esta em comento são destinadas ao público iniciante, notadamente os jovens incautos que adentram as universidades públicas, onde todos os cursos possuem na grade do 1º ano/semestre disciplinas como sociologia, filosofia ou introdução à economia.
 
Sabemos pelo próprio Lula que ele não gosta de ler. Resta óbvio que o suporte intelectual do PT vem dos seus intelecutais orgânicos, dentre eles a autora desta obra inicial. Marilena Chauí, como lembra Flávio Gordon[2], em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura assevera sem titubear que “uma coisa que nunca foi posta em dúvida, à direita, à esquerda, pelo centro, nunca, é a honestidade de um governante petista e a maneira como ele trata a coisa pública efetivamente como uma coisa pública”. Realmente Professora, se tem uma coisa que o Brasil atualmente conhece é como os governos petistas tratam a coisa pública: como se fosse deles mesmos! Mais informações podem ser colhidas nos autos dos processos da lava-jato, onde “Brahma” é réu em pelo menos seis ações penais.
 
Ainda em 2003, nossa querida professora declarou na Folha de São Paulo: “quando o Lula fala, o mundo se abre, se ilumina e se esclarece”. [3] Não é para rir! A Professora é simplesmente um instrumento da estratégia gramsciana, a qual “construiu” a ideia de que o PT é o partido da ética e Lula o “messias” salvador e purgador de todos os pecados cometidos por quem? Pela direita conservadora, ora! Que direita? Há mais de cinquenta anos que não existe corrente de direita neste país. Mas toda ideologia precisa de um inimigo. E se ele não existir? Inventamos, ora bolas!
 
Encantada pelo deus ateu, Chauí não se preocupa em revelar nenhum detalhe sobre a moral duvidosa de seu mestre. Cita a velha frase do Profeta Marx “a religião é o ópio do povo” para comparar e explicar a ideologia burguesa como doutrina que engana e mascara uma realidade que não pode ser mostrada. Em artigo publicado no Jornal da Tarde (São Paulo), 20 de outubro de 2001, intitulado “sobre a moralidade de Karl Marx”, o jornalista e escritor Ipojuca Pontes traça o perfil do comportamento deste filósofo, o qual, não poucas vezes demonstrou absoluto desprezo pela conduta ética científica mínima exigida de alguém que se arvora como o artífice de uma nova realidade transformadora da sociedade, ou seja, consciente da certeza de sua tese, de que a dialética materialista da história conduziria necessariamente a sociedade para o comunismo, qualquer parâmetro que validasse suas premissas seriam utilizados, descartando-se os que a contrariassem.
 
Lembra Ipojuca que, além de manipular dados estatísticos, no “capítulo de apropriação intelectual, Marx ultrapassa os limites da pura desonestidade. Para compor seus escritos eivados de metáforas apocalípticas, toma como seu aquilo que foi criado por outros, sem apontar autoria. De Marat, se apropria da frase ‘o proletariado não tem nada a perder, exceto os grilhões’. De Heine, ‘a religião é ópio do povo’; e, de Louis Blanc, via Enfantin, sacou a formula ‘de cada um segundo suas capacidades, a cada um segundo suas necessidades’. De Shapper, tirou a convocação ‘trabalhadores de todo o mundo, uni-vos’, e, de Blanqui, a expressão ‘ditadura do proletariado’. Até mesmo sua obra mais bem acabada e de efeito vertiginoso, O Manifesto Comunista (1848, em parceria com Engels), tem-se, entre os anarquistas, como plágio vergonhoso do Manifesto da Democracia, de Victor Considérant, escrito cinco anos antes”.
 
O grande trunfo da ideologia marxista é ter conseguido pregar o rótulo de que todos os modelos comunistas implantados e que resultaram em “máquinas de moer pessoas” não foram o “verdadeiro” socialismo científico criado pela mente divina de Marx. Isso é falso. A cartilha marxista foi seguida na íntegra. Agora, em tempos de entresafra da ditadura do preletariado, o marxismo continua fingindo que não existe e que é perseguido por “forças reacionárias de direita e conservadora” (o inimigo). Outra falácia. O pensamento marxista no Brasil está absolutamente solto há mais de quarenta anos. Qualquer um que estudou em uma faculadade pública, grosso modo, será apresentando somente a autores de esquerda.
 
O marxismo/comunismo são “cantos de sereia” prontos para atraírem os incautos para os “anestesiar” com com doses homeopáticas. Tudo gira em torno do dogma já aceito como profissão de fé. A “luta de classes”, a “exploração do capitalista sobre o assalariado” etc. O comunista fala o tempo todo em justiça, igualdade, liberdade, democracia, minorias injustiçadas, criminoso fruto da sociedade cruel capitalista e por aí vai. Assim, atrai pessoas simples de boa vontade, as quais, nem imaginam o verdadeiro motivo por trás destes “nobres ideais”. O discurso do “golpe” construído pela “inteligentsia” petista após o impedimento de Dilma Roussef é outro exemplo clássico, a ponto de um professor da Unicamp declarar na revista Carta Capital em 30/04/2016 que “já vivemos estado de exceção semelhante ao nazismo”.
 
Encerro dizendo que as pessoas devem declarar em alto e bom som o seu ponto de vista e perspectiva sobre determinado fenômeno. A busca pelo conhecimento para escapar da ignorância e, com isso, proporcionar a orientação dos jovens, deve ser perseguido como um ideal de vida. Pela sua capacidade de infitrar e dominar corações e mentes, ouso dizer que o marxismo é a ideologia mais mortal e insana produzida pela nossas espécie.
 
 
Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com)

[1] Marx ofuscou o problema ao confundir as noções de casta e classe. Onde quer que prevaleçam as diferenças de estratos e castas, todos os membros de todas as castas, com a exceção dos mais privilegiados, têm apenas um interesse em comum: eliminar as deficiências legais de sua própria casta. Todos os escravos, por exemplo, estavam unidos no interesse em abolir a escravidão. No entanto, conflitos deste gênero não estão presentes numa sociedade na qual todos os cidadãos são iguais perante a lei. Nenhuma objeção lógica pode ser feita contra a distinção de diversas classes entre os membros de uma sociedade assim. Qualquer classificação é possível, em termos lógicos, por mais arbitrário que seja o critério de distinção escolhido. É absurdo, entretanto, classificar os membros de uma sociedade capitalista de acordo com sua posição na estrutura da divisão social de trabalho e então identificar estas classes com as castas de uma sociedade estratificada. (MISES, Teoria e História).
[2] GORDON, Flávio. Corrupção da Inteligência. 2017.
[3] Idem, ibidem.
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