Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Opinião

Retratos do Brasil II - Alice no shopping, o país das prestações

O Brasil é o país das jabuticabas. E não só no sentido frutífero. É um lugar com situações e cenas que, se não são exclusivas, fazem parte do cotidiano tupiniquim. Dessa vez a nossa aventura será ir ao shopping: aquele centro de compras, com várias lojas reunidas para dar mais praticidade, economia e conforto para o consumidor. Em tese.

Aqui é o país em que se paga para usar o estacionamento em shopping. Mesmo sem manobrista e a céu aberto. Mesmo com as bem-humoradas plaquinhas "Não nos responsabilizamos por objetos deixados no interior do veículo". Oras, para que então pagamos? Só para o carro não ser furtado? Para isso bastam os seguros contratados a peso de ouro e que dão canseira quando há algum sinistro. Se você é PNE ou idoso, encontrará dificuldades para achar vagas, pois Jesus e a Fonte da Juventude estão presentes em todos os shoppings do país, visto os paralíticos que saem andando dos carros, os cegos que passam a enxergar - ALELUIA!! MILAGRE!! - e os jovens que tomam a poção da imortalidade antes de abrirem as portas dos seus automóveis. Ah, e lembre-se: você tem que ser maior de idade, ou, se for menor, deverá estar acompanhado de algum adulto para adentrar as dependências dessa terra fantástica. É preciso ter uma coragem leonina pra passar essa fase.

Passada essa primeira etapa, passamos a caminhar pelos corredores dos tijolos amarelos com os olhos arregalados com as promoções: metade do dobro; até 50% de desconto nas peças mais horrorosas da loja (veja bem o "até", porque as peças menos horrorosas tem 5% de desconto NO DINHEIRO, já os descontos maiores ficam por conta dos produtos comprados pelo funcionário responsável pelo Setor de Compras da loja, demitido há um mês  por ter um gosto bastante duvidoso); compre 1 peça e leve outra de até o mesmo valor, sendo que as peças dessa promoção já tiveram um aumento de 100%; e a melhor de todas - a LIQUIDAÇÃO TOTAL, resumida em uma bacia de peças antigas num cantinho obscuro da loja. São ofertas que são verdadeiros espantalhos, que atraem somente os clientes mais desavisados.

Após garimparmos as poucas coisas em promoção e nos conformarmos em comprar os produtos com uma das maiores alíquotas de imposto do mundo em suaves prestações de 3, 6, 9 até 12 vezes sem juros (coisa que só vi no Brasil) - isso para produtos não duráveis - ou suaves prestações de 12, 15, 18 ou 24 meses com módicos juros de 2,3 ou 4% ao mês para produtos duráveis, poderemos começar o ano testando o nosso coração: se ele for de lata, tudo bem, deixa o nome ir pro SPC ou, SERASA, CCF que daqui a 5 anos tudo fica pra trás. Mas se o seu coração for de carne e osso, prepare-se para um 2018 cheio das dívidas que vão se juntar a todos os "Is" da nossa vida - não falo de i-phone, i-pad, i-pod não, mas de Ipva, Iptu, Iss e por aí vai.

No fim das contas, realmente, um shopping é como a cidade das esmeraldas: a gente vai achando que é um lugar em que ficaremos felizes com toda sua magia e beleza, mas que no final das contas encontraremos apenas um embuste para abocanhar nossa fé e nosso dinheiro por um consumismo vazio e desigual. E torça para achar seu carro sem estar riscado e com nenhum amassado, afinal, eles também não se responsabilizam por isso.


Eustaquio Rodrigues Filho é Servidor Público
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