Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Opinião

​Refletindo... relações efêmeras!

Anos atrás eu escrevi um texto sobre as relações humanas, andei relendo e muita coisa que havia escrito se confirma depois dessa primeira quinzena do século XXI. As relações humanas estão cada vez mais fugazes, superficiais e desapessoadas. Estamos trocando as pessoas pelas tecnologias? Claramente que o "sim", seria uma afirmação forte e não totalmente verdadeira, o que estamos fazendo é superficializar nossas inter-relações pessoais. Amizades surgem do acaso, em dois minutos torna-se o seu melhor amigo, contamos confidências mais íntimas e na próxima segunda-feira, não lembramos nem o seu primeiro nome.

Relações amorosas estão se tornado bengalas para nossas frustrações. Casa-se por inúmeros motivos, muitos por convenção social, outros por conveniência, há os que são carentes de si e buscam a completude (que nunca acham) nos outros. Ainda têm os que casam por amor e acreditam que isso vai durar para sempre. Enfim, começam tão rápido e, muitas vezes, se evaporam no ar com rapidez ainda maior. Estamos em tempos de se encontrar o grande amor da vida ao menos três vezes ao ano. Estamos nos tornando cada vez mais sós ou apenas abrindo mão das relações interpessoais em prol de uma liberdade individual que no fundo, está apenas em nosso imaginário “Mundo de Alice”? Eis a questão, Hamlet! Já fui casado duas vezes, nenhuma das relações foram frustradas, não, apenas duraram o tempo que eram para durar. Assim como a tecnologia está com obsolescência programada, as relações também. Ah, “mas antigamente as pessoas ficavam presas em relações e eram infelizes pela conveniência social, sim, acontecia. Contudo, hoje as pessoas não tentam superar crises, apenas substituem o motivo da crise. De relação em relação vamos vivendo na fantasia do amor pleno, da vida em constante felicidade e harmonia. Claro, se desconsiderar os boletos, as prestações, os impostos, o estresse, os governos desgovernados, os pequenos/grandes problemas da humanidade, essa felicidade plena pode até existir, nem que seja em nossos pensamentos.

As relações tornam-se fugazes, sejam amorosas, familiares ou fraternais. “Você é meu melhor amigo, enquanto me é útil. “Você é o amor da minha vida, hoje, já não sei terça-feira ou na quarta, quem sabe continue sendo na quinta, se outro não aparecer". “Amo minha família, mas são os amigos a família que escolhemos”. E assim vamos levando nossa vida de felicidade plena no século XXI na certeza que ela é real, palpável e constantemente atingível. Nos vestimos com o véu da plenitude, da felicidade sem fim, do imaginário e fantástico “Mundo de Bob", e com isso subimos tão alto, mas tão alto, que sem perceber, já descolamos da realidade.

O século XXI vem se tornando o período da existência humana em que as relações são configuradas por lojas de aplicativos que possuímos em nossa mente, onde programamos qual é a relação perfeita, seja de amizade, familiar ou amorosa, e basta um bug, para fazermos uma atualização no “sistema” ou substituir o aplicativo (lê-se: pessoa) que não nos interessa mais . Nestes tempos, estamos nos tornando produtos do nosso imaginário descolado do mundo real, em prol de uma felicidade “plena”, mas que só existe em nosso particular "Mundo de Alice". 

Jonas* (pensando, refletindo... ponderando)
 

Jonas Albert Schmidt é advogado e doutorando em Política Social pela UnB – Universidade de Brasília.
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