Olhar Direto

Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Opinião

​Um Condomínio chamado Grupo do Whatsapp

O whatsapp revolucionou a forma das pessoas conversarem, tanto virtual quanto pessoalmente. Os grupos de whatsapp reforçaram essa mudança, não só no sentido de socialização, mas também no sentido de revelar ainda mais o ser humano, pois todos se sentem "protegidos" moral e fisicamente no mundo virtual. Os grupos de whatsapp, um verdadeiro condomínio de pessoas, não mostraram nada de novo sobre a personalidade humana, mas reforçaram alguns lados obscuros de todos nós.

Tudo começa quando uma pessoa, o "rei" (ou "rainha) ou o síndico, por assim dizer, cria um grupo que pode ter um tema qualquer ou não ter tema nenhum. Quanto maior a novidade do tema, mais empolgados os membros entram no "condomínio". O dono do grupo inicialmente chama seus amigos e afins, que chamam seus outros amigos e afins, que chamam seus conhecidos e por último os interessados (ou que eles pensam que estão interessados). No início tudo é uma festa: "Oi, fulano", "Oi Ciclano", "Quanto tempo!!", "Você por aqui? ", "Que massa você aqui! ".

A partir de um tempo, as coisas começam a desandar, pois o mensageiro também está sujeito às oscilações de humor, à falta de educação e à intolerância em geral. Ou seja, nada muito diferente das ditas relações humanas.

Não é difícil ouvir (ou ler) alguém chamando outro de idiota, de burro, ou ridicularizar uma opinião. Também não é difícil alguém aparecer com as "regras" do grupo: um conjunto de normas, muitas vezes esdrúxulas e desconexas, supostamente definidas pelo "grupo", mas que não passa de um emaranhado autoritário de ideias de uma mente transtornada. E ai de você se se desviar um pouquinho dessas tais regras "definidas pelo grupo": você pode levar um puxão de orelha leve e público, pode ser criticado e amaldiçoado até a terceira geração, pode receber (pasmem!) um telefonema alertando que se está fugindo do "objetivo" do grupo (oi?), pode ser objeto de uma ira desproporcional com ameaças de processo judicial e extrajudicial e até pode ser ameaçado de expulsão do condomínio. Frise-se que os "amigos do Rei" estão livres dessa patrulha e compartilham de privilégios, podendo postar o que bem entender a qualquer momento sem sofrer restrições ou retaliações. É interessante que alguns grupos se tornam tão polarizados que, se você tiver uma opinião levemente diferente ou divergente, pode começar a sentir tão mal que não lhe restará outra alternativa a não ser "pedir as contas".

Vale destacar também algumas figurinhas interessantes que habitam esse condomínio chamado grupo de whatsapp: como já dissemos, há o rei (ou rainha) do grupo, aquele que detém o poder da criação e de oferecer a nobreza (título de administrador) a alguns súditos; há o "sabe-tudo enxerido", que se mostra entendido em tudo e se mete em todas as discussões, mesmo aquelas que nem foi chamado; há os "pseudo-intelectuais" que adoram citar livros e pensadores sem ter lido nenhum deles; há os truculentos, que xingam, falam palavrões, que chamam todo mundo de burro e idiota; há os "desempregados verborrágicos", que a qualquer momento está on-line e pronto pra entrar em qualquer discussão; há os "patrulheiros ideológicos" que não permitem que se poste nada sobre religião (diferente da sua), nem política (de viés diferente do seu), nem de futebol (que não seja do seu time), nem piadas e humor (se eles estiverem num dia de mau-humor); e há os "guardiões da galáxia ou porteiros de condomínio", aqueles que estão ali apenas pra cuidar da vida dos outros e do bom andamento do condomínio, seja inventando ou lembrando as tais "regras do rei (ou da rainha)", seja para cuidar da moral e dos bons costumes, seja apenas para fazer número. E a lista vai looongeee...

Seria injusto não dizer que há grupos que dão certo, que mantêm uma postura alegre, adulta e sadia. E dão certo justamente porque há o respeito entre seus membros, respeito às ideias e ideais diferentes e sobretudo porque há "liberdade de informação", em que se pode postar o que quiser, cabendo ao leitor a tarefa de selecionar o que vai ser objeto de sua atenção e o que não vai. Claro que alguns grupos são criados com propósitos específicos, mas não podemos nunca deixar de perceber, entender e aceitar a pluralidade do ser humano, visto que o ambiente virtual é uma reprodução do ambiente real. Porém, se o autoritarismo e a intolerância persistirem, caberá ao "'transgressor' pedir para sair" ou esperar que seja gentilmente expulso.

 
Eustáquio Rodrigues Filho é Servidor Público
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