Olhar Direto

Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Opinião

Como chegamos a verdade ? breve comentário sobre certezas e suas implicações!

Em tempos de “fake news” e doutrinação ideológica como nunca antes vista, passei a refletir como poderemos saber o que é verdade e o que é engodo. Será que não há mais certezas? Tudo é relativo? A quem interessa não termos mais certezas sobre nada? Por que mentem tanto para nós?

A busca pela Verdade (com “V” maiúsculo) sempre foi objeto da filosofia e do homem curioso. Essa jornada deve iniciar com uma profunda reflexão sobre a nossa humildade diante da complexidade do universo e das limitações cognitivas a nós impostas pela natureza. Contudo, tais dificuldades não devem ser condicionantes de um juízo de impossibilidade sobre certezas.

No Evangelho de João 18, 37-38, encontramos esse diálogo entre Pilatos e Jesus: “Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz. Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.”

A resposta de Jesus foi o silêncio. Por quê? Teria Pilatos feito uma pergunta retórica? Ou teria sido uma pergunta sincera que alguém que gostaria de ouvir uma resposta sábia?.

Tomei estre trecho bíblico, não com o intuito de discutir teologicamente a interpretação da referida passagem. A ideia é tomar como ponto de partida uma pequena investigação sobre a natureza da “verdade”  e como podemos diferenciá-la de seu contrário.

Quanto perguntado sobre essa questão, o filósofo brasileiro Mário Ferreira dos Santos (1.907/1.968) lecionou que um dos fundamentos da verdade e necessário para sua compreensão é a evidência[1]. O que seria evidência? Para o filósofo, há evidência quando a mente de quem conhece adere plenamente ao objeto de seu conhecimento, sem padecer de dúvida quanto à realidade daquilo que ele capta. Esta evidência pode ser interior ou exterior. A evidência interior é aquela que manda na interioridade do homem, ou seja, é aquela que temos da nossa existência pela afirmação da nossa consciência. Já a evidência exterior dirige-se ao mundo objetivo. É a evidência intuitiva captada pelos sentidos.

Segue-se ainda que estas evidências (interior e exterior) podem dar-se de forma imediata e mediata. A evidência interior imediata é aquela obtida sem meios, como por exemplo, a evidencia da nossa existência dada pela consciência. A mediata seria aquela tomada a partir do uso de meios, como por exemplo a utilização de um silogismo[2] para alcançarmos a conclusão. A eviência exterior imediata é aquela captada pelos sentidos, a experiência sensível. Já a evidência exterior mediata é obtida com a utilização de meios, a exemplo da experiência científica.

O conceito de verdade tomado em sentido “lato” implica em conformidade entre dois extremos. Nesse sentido os antigos filósofos falavam de uma “verdade lógica”, como sendo uma adequação entre a coisa e a formalidade correspondente. A “verdade metafísica” como adequação (conformidade) entre a forma e a coisa. A “verdade material” como sendo a coisa considerada segundo todas as suas notas e propriedades, sua compreensão e sua realidade objetiva.

O conjunto de todas essas verdades, pontifica Mário Ferreira dos Santos, dando-nos uma evidência plena,  seria a “verdade concreta”. Então qual seria a verdade de que falava Pilatos? Para o filósofo não seria a verdade de adequação entre dois termos. Seria a verdade procurada pelos cépticos e agnósticos. Uma verdade de “fusão”. Aquela verdade que fosse total e exaustivamente a expressão da própria coisa. Essa verdade não é possível de ser apreendida, captada por um ser limitado e deficiente como nós humanos. Não podemos chegar a uma verdade de “fusão”, mas tão somente uma adequação entre o seu intelecto e a coisa. Nunca de uma fusão absoluta com a própria coisa porque, uma vez que somos seres limitados pela nossa finitude.

Por que então as religiões prometem essa verdade de fusão? As religiões prometem essa fusão, seja na forma de beatitude (cristãos) e na ioga dos hindus. Estado de plenitude cognoscitiva com a fusão do ser humano com a suprema verdade (deus das religiões). Para Mário Ferreira dos Santos, este estado de “beatitude” é dado para fora desta vida e não nesta vida. As religiões superiores não admitem que o homem no seu estado que ele seja capaz de atingir esta fusão, este estado de plenitude com a dividade. Alguem poderia até passar por algum momento de aproximação pelo estado beatífico, mas nunca a plenitude  prometida pelas religiões.

Para o filósofo Olavo de Carvalho a verdade é a fundamentação cognitiva universal e permanente de validade dos juízos. A verdade é aquilo que a realidade diz. O conteúdo de tese afirmativo da realidade. A realidade tem muitos aspectos que não são a sua verdade, são os componentes da sua verdade e são também as aparências, mas tem algo que ela afirma e captar isso é a busca da verdade.

Parece muito complicado, e, realmente, poucos se arvoram a fazer as conexões acima descritas para elucidar conceitos e extrair a verdade de afirmações e fenômenos. A historiografia registra como governos foram sustentados sob paradigmas falsos e insustentáveis à mais básica das reflexões. Comunismo, fascismo, nazismo, inquisição, jihads etc, são exemplos históricos de como ideias insanas, construídas sob premissas falsas, conduziram milhões de pessoas à morte e à servidão pelos métodos mais cruéis conhecidos.

O mais impressionante ainda, é como muitas dessas utopias (destaque para o comunismo) ainda hoje, foram recicladas e, disfarçadas sob nomes menos agressivos como “socialismo-democrático”, “socialismo”, “social-democracia”, “socialismo e liberdade”, “socialismo do século XXI” (e toda sorte de criatividade) ainda conseguem reunir seguidores, defensores, constarem de programas partidários e, o que é pior, “ensinadas” às crianças em sua escolarização.

A revoluçao russa, sob Lênin e Stalin, massacrou mais de 20 milhões de pessoas[3]. Os cadáveres são “evidência” imediata captada pelos sentidos. Os crimes ocorreram sob a vigência de um modelo de organização social planejado racionalmente (socialismo científico). As mortes foram conscientemente permitidas e justificadas diante da ideologia. Temos, portanto, a mais perfeita adequação entre o objeto exterior (o genocídio) e nosso intelecto fazendo a fundamentação permanente e universal de juízo no sentido de que tal modelo de Estado, concebido sob a ideologia marxista, produziu essa trajédia humana. Temos, portanto, uma verdade que não pode ser relativizada. Ela é parte integrante da estrutura da realidade.

Essa Verdade deveria ser suficiente para varrer da nossa existência qualquer resquício dessa ideologia. Todavia, a realidade não é tão simples. Comunistas e neo-nazistas ainda existem e insistem em não deixar morrer suas ideias insanas. Como? Antonio Gramsci deu a dica: “não ataquem os tanques e nem combatam os soldados, corrompam as mentes”.

Em poucos meses terá início ao “debate” eleitoral. Não há cenário mais propício para a produção de factóides e falsificação da verdade. Esperem e verão a máxima de Paul Watson (fundador do Greenpeace) impor-se sobre a realidade: “não importa o que é a verdade. Só importa o que as pessoas acreditem que seja a verdade”. Esta é a pérola do relativismo!
 

Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguesadv193@gmail.com).

 
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