Olhar Direto

Quarta-feira, 24 de abril de 2024

Opinião

Não adote um corrupto de estimação!

Querido leitor, sei que a sua vida é corrida. Mesmo assim, humildemente, peço alguns minutos do seu tempo.
 
Nosso país passa por um momento muito difícil. Aí você diz: “Jura?! Qual é a novidade?! Não vou perder tempo lendo esse texto!” Eita lá! Muita calma nessa hora! OK. Todos sabemos que a situação é ruim. Mas você sabe mesmo qual é a realidade do Brasil? Senta que lá vem “textão”! Só que, infelizmente, não é uma história de ficção.
 
POBREZA EXTREMA
 
Não se engane com as propagandas em época de Olimpíadas, Copa do Mundo e eleição! Em sua grande maioria, o povo brasileiro é paupérrimo.
 
Cerca de 50 milhões de brasileiros, por volta de 25% da população, vivem na linha da pobreza e têm renda familiar de aproximadamente R$ 387 - ou US$ 5,5 por dia, valor adotado pelo Banco Mundial para classificar uma pessoa como pobre. Os dados são da Síntese dos Indicadores Sociais, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017.
 
O índice de pobreza é muito mais alto no Nordeste, onde 43,5% da população estão nessa situação, e é menor no Sul: 12,3%.
 
A pobreza atinge diretamente as crianças de 0 a 14 anos de idade: 42,4% sobrevivem com apenas 5,5 dólares por dia.
 
No Brasil, a miséria também tem cor: entre os 10% da população com menores rendimentos, a parcela de pretos ou pardos chega a 78,5% contra 20,8% de brancos. No outro extremo, entre os 10% com maior renda, pretos ou pardos são apenas 24,8%.
 
CONCENTRAÇÃO DE RENDA DESCOMUNAL
 
Cerca de 28% da renda do país está nas mãos de apenas 1% dos brasileiros - a média mundial é de 22%. Ao lado de Índia, Oriente Médio e África Subsaariana, o Brasil é um dos locais mais desiguais do mundo.
 
Em 2015, a renda média anual dos adultos no país era de R$ 37 mil (em torno de R$ 3.083 por mês). Porém, entre os 50% mais pobres, era de menos de R$ 9.200 (cerca de R$ 766 por mês). Os 10% mais ricos tinham renda anual de R$ 207.600 (R$ 17.300 mensais). Os 40% no meio — ou seja, que não estavam nem entre os 10% mais ricos nem entre os 50% mais pobres — tinham renda anual de R$ 30.500 (R$ 2.541 por mês).
 
Os dados são do projeto World Wealth and Income Database (WID), banco de dados coordenado, entre outros, pelo economista francês Thomas Piketty, e cobrem o período de 1990 a 2015.
 
Como se não bastasse, o Brasil também é o 10° país mais desigual do planeta, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH), elaborado pelas Nações Unidas. O levantamento usa como referência o chamado Índice de Gini, uma forma de calcular a disparidade de renda. O indicador varia de 0 a 1 — quanto menor, melhor. No Brasil, ficou em 0,515 em 2015, mesmo número registrado pela Suazilândia (pequena nação africana), e maior que o índice de vizinhos da América Latina, como Chile (0,505) e México (0,482). Para se ter uma ideia da disparidade em comparação com países mais desenvolvidos, o índice é de 0,259 na Noruega.
 
EDUCAÇÃO PRECÁRIA
 
O Brasil ficou na 60ª posição, entre 76 países avaliados, no ranking mundial de educação. O levantamento foi divulgado em 2015 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
 
Países asiáticos estão topo do ranking: o 1° lugar foi ocupado por Cingapura, seguida de Hong Kong e Coreia do Sul. A última colocação ficou com um país africano - Gana.
 
FALTA DE CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES
 
A pobreza, agravada pela crise econômica, resulta numa elevada descrença nas instituições do país.
 
Apenas 29% dos brasileiros acreditam no Poder Judiciário e 25% na polícia, seguida pelos sindicatos (24%) e redes sociais (23%). A Presidência da República é acreditada por apenas 11% da população, o Congresso Nacional por 10% e os partidos políticos por 7%.
 
As Forças Armadas são a instituição em que a população brasileira mais confia (59%), segundo o Índice de Confiança na Justiça, produzido pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas - divulgado em 2016. Somente 37% confiam na imprensa escrita, 36% no Ministério Público, 34% nas grandes empresas e 33% nas emissoras de TV.
 
COMO MUDAR ESSE CENÁRIO?
 
Parabéns! Se chegou até aqui, você provavelmente faz parte do contingente de 56% da população que têm o hábito da leitura, segundo pesquisa do Ibope encomendada pelo Instituto Pró-Livro (IPL) em 2016.
 
Talvez você esteja se perguntando o porquê de tanta pobreza, já que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2017 foi de R$ 6,6 trilhões, segundo o IBGE - crescimento de 1% após dois anos consecutivos de retração.
 
O fato é que a elevada concentração de renda resulta numa colossal desigualdade social. O buraco é muito mais embaixo do que parece, não é mesmo? Assim como eu, imagino que você também não faz parte desse 1% da população que controla 28% da renda do país. Essa elite, o “crème de la crème” da sociedade brasileira, é composta majoritariamente por políticos, empresários (agronegócio, telecomunicações etc.), servidores públicos de alto escalão e banqueiros.
 
A classe política, que lamentavelmente representa muito mais os interesses dessa elite do que a vontade da esmagadora maioria da população, não faz nenhum esforço para mudar esse cenário. Eles não vão cortar da própria carne. Os interesses egoísticos, para os políticos, estão muito acima dos interesses da nação. O corporativismo impera nos três poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário.
 
Um claro exemplo disso é a defesa voraz do auxílio-moradia por parte dos juízes, que alegam, entre outros motivos, que o auxílio é legal e, segundo declarou o juiz federal Sérgio Moro, compensa os salários congelados há três anos. Faltou dizer que cada juiz federal custa, em média, R$ 47,7 mil mensais aos cofres públicos (dados de 2016), bem acima do teto de R$ 33,8 mil do funcionalismo público, goza de estabilidade no emprego e tem direito a dois recessos por ano. Ademais, num país que amarga um desemprego de cerca de 12% (de acordo com o IBGE) e onde o salário mínimo é de R$ 954, as reclamações dos magistrados parecem, na melhor hipótese, uma alienação oportunista da realidade. O auxílio pode até ser legal, mas é condenável pelo julgamento moral.
 
Por outro lado, vale aqui uma reflexão: você e eu escolhemos os nossos representantes no Congresso Nacional, ou seja, nós também temos culpa no cartório. Parafraseando Leandro Karnal, historiador da Unicamp: “Não existe país com governo corrupto e população honesta.”
 
Como mudar esse cenário? Use a arma mais poderosa que você tem: o seu voto. Escolha representantes “ficha limpa”, sem asteriscos na candidatura. Não fique reduzido à dicotomia esquerda versus direita, comunistas contra conservadores etc. Essa visão simplista e distorcida da democracia leva a um debate vazio que só interessa à classe política, pois desvia o foco dos reais (e graves) problemas do Brasil.
 
Chega de votar no “rouba mas faz”, naquele que “arruma um trocado para ajudar”, no que “tem cara de honesto” e demais eufemismos para ladrão do erário. Não vote em ninguém por aparência física (“só tem o meu voto porque é linda”), porque “fala grosso” ou simplesmente por dizer aquilo que você quer ouvir. Não faça como eles - coloque os interesses coletivos acima das suas “pós-verdades”. Vote em candidatos que apresentam um bom projeto para o seu município, o seu estado, o nosso país.
 
Nessa eleição, não adote um corrupto de estimação! Vote de forma consciente para propiciar uma vida melhor para os seus filhos e netos. Em ano de Copa do Mundo, fica aqui a torcida para que o Brasil pare de titubear à esquerda ou à direita, e siga em frente rumo a uma nova era de conquistas que mudem de fato a realidade do nosso país. Afinal de contas, já temos cinco taças, mas nenhuma delas melhorou a vida do povo brasileiro.
 
Alexandre Guimarães
Jornalista, professor e servidor público
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