Olhar Direto

Sexta-feira, 29 de março de 2024

Opinião

As redes antissociais

Seis da manhã. O despertador toca. Você desabilita o aplicativo no smartphone. Liga o Wi-Fi ou o 4G. Notificações do WhatsApp, Facebook, Instagram, YouTube e dezenas de outros aplicativos começam a brotar na tela do aparelho. As tias já enviaram cinco imagens diferentes de “bom dia” no grupo da família. É melhor ir tomar um banho.

Muitos de nós começamos o dia assim, não é mesmo? A tecnologia já faz parte do nosso dia a dia tal como lavar as mãos e escovar os dentes (por favor!). Todos gostamos das vantagens de viver num mundo conectado: comunicação instantânea, aquela espiada (de praxe) nos amigos e famosos nas redes sociais e muito mais!

Não sejamos ingênuos: aplicativos não foram criados para aproximar pessoas. O objetivo principal sempre foi o lucro. O vazamento de dados de 87 milhões de usuários do Facebook, com a participação da empresa britânica Cambridge Analytica, deixa claro que não existe almoço grátis. Ou você acha que aquele anúncio no Facebook da camiseta que você acabou de pesquisar no Google é uma mera coincidência digital? Nossas informações pessoais viraram moeda de troca – a bitcoin mais valorizada no mercado.

É verdade que o WhatsApp, o Facebook e os seus coirmãos cumprem vários papéis sociais importantes, como ocorreu na Primavera Árabe – onda de protestos populares contra governos no Oriente Médio que eclodiu em 2011 e só foi possível graças a mobilizações divulgadas pela internet. A solidariedade com as vítimas do desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida em São Paulo, no dia 1º de maio, também é um exemplo recente da força positiva dessas plataformas.

Entretanto, a maioria dos usuários das redes sociais vive em “bolhas virtuais”. Isso acontece, pois, como o próprio Facebook já admitiu, o algoritmo desses aplicativos prioriza postagens dos seus amigos e familiares em detrimento de notícias de veículos de comunicação tradicionais. Ao seguir pessoas que pensam como você, cria-se essa redoma virtual, cheia de correntes, selfies, opiniões e fake news, onde você fica confinado enquanto está conectado.

Talvez você esteja matutando: “Nem todos os meus colegas pensam como eu”. Claro! Porém, o que ocorre quando alguém se depara com opiniões contrárias? Basta sair dessa “bolha” para constatar ofensas sendo disparadas para todo lado. O mundo virtual tornou-se uma realidade alternativa onde as pessoas despejam suas frustrações pessoais.

Você teria coragem de chamar alguém de “lixo” na vida real? De onde vem tanto ódio? Só porque alguém tem uma opinião diferente não quer dizer aquela pessoa não presta. Veja os argumentos e, caso discorde, exponha seu ponto de vista. Em vez de disseminar o ódio, espalhe empatia pela internet! Menos “lixo” e mais obrigado, por favor etc.

Não sei se é porque tem um cartaz do segundo filme bem na minha frente agora, mas todo esse contexto me faz pensar em Matrix. Na trilogia, Neo (Keanu Reeves) é “o escolhido”, aquele que deve libertar a humanidade da dominação das máquinas. Traçando um paralelo com a atualidade, a “bolha virtual” das redes sociais é uma espécie de Matrix – uma muralha fictícia que foi colocada ao seu redor para que você não enxergue o que é real e continue casado com a sua verdade, ou seja, suas crenças pessoais ganham mais importância do que os fatos (fenômeno conhecido como “pós-verdade”).

Quando Neo está prestes a descobrir o que é a Matrix, Morpheus (Laurence Fishburne) afirma que ele se parece um pouco com a Alice, que nota algo estranho no coelho e decide correr atrás dele. Assim como ela e, a essa altura, suponho que você também, Neo sente que há algo errado com o sistema.

Chegou a hora de tomar uma decisão. Se tomar a pílula azul, a história acaba e você vai acordar na sua cama acreditando que tudo não passou de um sonho. Porém, se tomar a pílula vermelha, ficará no País das Maravilhas e vai descobrir até onde vai o buraco do coelho. Já escolheu? Lembre-se: depois de estourar a bolha, não há mais volta.
 
Alexandre Guimarães é Jornalista, professor e servidor público professoralexandreguimaraes@gmail.com
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