Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Opinião

O apego do brasileiro aos privilégios e o que é certo

Todo mundo sabe o que é certo. Algumas pessoas se incomodam com o que não está correto e também se incomodam com o que está correto. Na primeira opção você pode e deve reclamar. Na segunda opção, você deve se conformar. Vou dar um exemplo: você entra num avião e na sua fileira não há ninguém e o bagageiro acima está vazio. Você coloca sua mala logo acima de você.

Se chegar outra pessoa depois, na mesma fileira que você e tirar sua mala do lugar, isso vai te incomodar. E com razão você deve reclamar, afinal você está certo. Porém, se você entrar no avião, já tiver alguém na sua fileira e já houver uma mala logo acima de você, isso também vai te incomodar, mas você não terá direito a reclamar, afinal a pessoa chegou antes de você e você estaria errado se reclamasse.

Essa sensação do que é certo é intrínseca ao ser humano. Nós já nascemos com um código padrão (dado por Deus) do que é certo e do que é errado. Porém, esse código pode ser reforçado ou desviado de acordo com nossa criação e o meio em que vivemos. Mas o conhecimento do que é certo sempre estará lá, impresso em nossa alma. Entretanto, o que realmente me incomoda é o fato de, se todas as pessoas sabem no fundo no fundo o que é certo, por quê muitas vezes acabam fazendo o errado? E ao fazer errado, alguns, sabendo disso, nada justificam, e, outros, também sabendo que estão fazendo errado, procuram alguma justificativa (geralmente esfarrapada) para explicar o seu ato.

Bem, toda essa introdução foi para adentrar o assunto dos privilégios presentes na sociedade brasileira. O brasileiro é extremamente apegado a privilégios, geralmente privilégios esdrúxulos e que estão sempre flertando com a injustiça e a imoralidade. Não serei leviano de dizer que todos os privilégios são imorais, mas a ideia de privilegiar alguns iguais em detrimento de outros geralmente está na fronteira do antiético.

O terreno mais fértil, mas que não se esgota nele, onde os privilégios se multiplicam é a área pública. Vemos privilégios indigestos no Legislativo, no Executivo e no Judiciário e em sua grande maioria respaldados por atos normativos visceralmente imorais. Mas a ganância e a vaidade do ser humano não têm limites e estão sempre extrapolando as fronteiras do bom-senso.

A ganância e a vaidade corrompem, tal qual uma tênia, a alma humana, não a corroendo, mas inflando-a a tal ponto que é impossível vê-la saciada. Tais "penduricalhos" se materializam nas mais diversas formas, desde as mais "singelas" até as mais parrudas.  São os foros privilegiados, as verbas indenizatórias, os auxílios paletós e auxílios moradias, são as pensões vitalícias para cônjuges, são as aposentadorias por mandato eletivo, são as legislações que protegem criminosos endinheirados, são vagas loteadas de estacionamento em órgãos públicos, são os carros oficiais com motoristas, são os "aspones", são os incentivos fiscais desnecessários, são os supersalários acima do teto, enfim, a lista é imensa.

No dia a dia a apropriação de "pseudos" privilégios é imensa. Há aqueles que julgam que podem estacionar em vaga de idoso/ deficiente mesmo sem sê-lo; ou os que julgam que não devem pegar uma fila qualquer ou aguardar sua vez de ser atendido; tem aqueles que se acham donos da verdade; tem também aqueles que metaforicamente "acabaram de chegar e querem sentar na janelinha" ou aqueles que se acham, como José Mourinho, famoso treinador de futebol, um "special one" a ponto de não se submeter às mais básicas regras de educação. Aqui a lista também é imensa

E é interessante notar que todos aqueles que gozam desses privilégios inidôneos acima listados (e dos não listados), quando não se calam, expõem as justificativas mais bizarras, tentando explicar o inexplicável. E mesmo que na sua mente esses "privilegiados" se auto justifiquem, eles, inexoravelmente, no fundo da sua alma, vão sempre saber que estão errados e terão que conviver (uns com mais culpa, outros com menos) com essa má conduta durante toda a sua vida. E no pós vida também.


Eustáquio Rodrigues Filho é Servidor Público e Escritor – Autor do livro "Um instante para sempre"
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet