Olhar Direto

Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Opinião

Virou bagunça: Fernando para presidente e Marcos para Senador

Diante da permissividade do judiciário e da falta de moral do legislativo e do executivo para qualquer assunto, serão lançados no próximo fim de semana as candidaturas de Fernando e de Marcos.

 Fernando é filho da comunidade, ajudou seus vizinhos e seus "parças" nas horas mais atribuladas. Foi por causa dele que os "gatos" de TV por assinatura se multiplicaram no bairro, que as ligações clandestinas de eletricidade chegaram a todos os barracos e a água sem medidor atende a todas as ruas.

É a figura pobre e semianalfabeta que venceu na vida e, agora, protege todos os seus correligionários e companheiros militantes. Distribui leite, gás e cestas básicas a todos os que precisam na comunidade e tem como mote de campanha o Bolsa-Militante, composto de Pão, Mortadela, Auxílio-desemprego, farofa pronta, suco Tang e uma rede.

Pouco importa que Fernando, hoje, esteja preso por tráfico de drogas, assassinato, contrabando, sequestro e tortura. O que importa é que Fernando ajudou sua comunidade, criou o Bolsa-Militante, fez visitas regulares aos seus vizinhos que continuam pobres, os abraçou emocionado, chorou com eles, comeu feijoada com ele e distribuiu centenas de vale-gás, vale-refeição e vale-leite. Adquiridos com o dinheiro do tráfico, claro. Fazia a sua média e ia embora em sua Ferrari, direto para sua cobertura em frente ao mar, tomar um banho em sua hidromassagem e descansar em sua cama de 7 mil dólares.

A militância não se importa com isso e já querem Fernando para presidente. Começaram a carimbar as notas de 100 Reais com "Fernando Beira-Rio Presidente".

Marcos é filho da classe média baixa. Estudou em escolas públicas e se formou com brilhantismo. Era órfão, mas muito inteligente. Venceu na vida e prosperou no mundo capitalista, mas especificamente no negócio de assalto a banco. Constantemente ajudava o seu bairro e entorno.

Oferecia vale-gás, vale-leite, vale-arroz e até vale-motel. Era adorado pelos moradores que o seguiam bradando gritos de ordem por onde passava. Diz a lenda que seus seguidores pararam a grande metrópole do país com fogo, pão e circo. Seu mote de campanha é, acreditem se quiser, melhorar a segurança pública, pois acredita que o instinto natural do homem é a violência. Por isso, se eleito, promete uma legislação mais dura contra os criminosos e a construção de presídios mais humanos, dirigidos pessoalmente pela galera dos Direitos Humanos.

Pouco importa que Marcos, hoje, esteja preso por tráfico de drogas, formação de quadrilha, roubo (a bancos), mandante de assassinatos e depredação do patrimônio público. Ele nega, alegando perseguição política alimentada pela mídia golpista e consubstanciada pelo judiciário tendencioso e seletivo. Se diz inocente e que o povo vai provar isso nas urnas votando em massa em sua candidatura, mesmo que ela seja impugnada e que ele se torne inelegível.

Afinal, o povo o adora e tudo o que ele fez foi para o bem dos mais pobres e necessitados, pois aumentou o número de empregos e o PIB do país, afinal o tráfico gera emprego e renda. Ele se diz pronto para legislar pela nação e a militância já se prepara para lançar sua candidatura com batucada e carimbar as notas de 50 reais com "Marcolino para Senador".

As linhas acima são fictícias, mas corremos o risco de, realmente, tais candidaturas decolarem e serem eleitos, afinal o fato de serem criminosos condenados pouco importa no país em que o roubo é institucionalizado, mata-se por causa de som alto do vizinho, dirige-se bêbado, atropela, mata e não vai preso, estupra-se à luz do dia, aluno do 9º ano não sabe ler e nem fazer as operações básicas da matemática e a fila para uma simples consulta médica pode chegar a 6 meses.

Como se espantar com aquilo se não nos espantamos com isso? Como entender o funcionamento da cabeça de alguém que grita com orgulho o nome de um candidato, mesmo que este seja um criminoso condenado e preso, se não conseguimos entender a passividade com que levamos nossa vida nesse país tomado por uma praga pior que aquela que assola a série "The Walking Dead"? Não há esperança. Mas eu sou teimoso e continuo a indagar (para você): há esperança?
 

Eustáquio Rodrigues Filho é Servidor Público e Escritor – Autor do livro "Um instante para sempre".
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