Olhar Direto

Quinta-feira, 28 de março de 2024

Opinião

Artigo clichê esperando algo inédito

Nós nascemos para dar certo?

Depende. Cada pessoa que ler esta pergunta irá assimilar ela a alguma coisa e dará uma resposta diferente. Como já diria certa frase, e famosa por sinal: tudo depende do seu referencial.

Pois bem, já iniciado o diálogo com a questão, quero problematizá-la. E minha meta aqui é trazer você, caro leitor, para o debate, inclusive lançá-lo dentro. Sabendo que nenhuma resposta é a melhor resposta quando não comparada a outras. Logo, a melhor solução é a conjunção de respostas, opiniões. Se há dois projetos, necessário se faz discutir qual é o mais viável, pois se há apenas um, não se tem com o que comparar ou usar de parâmetro.

Modéstia parte, sempre acreditei que a mudança deve começar pequena, e ir se replicando, para no fim tudo mudar. Acredito que a mudança acontece de bairro em bairro até alcançar a cidade como um todo. Vejamos.

No meu percurso diário vejo escolas que não possuem partes do seu muro. O mato alto toma conta. Estes detalhes são o que vejo exteriormente e penso sobre o que enfrentam as escolas em seus interiores. Muros e jardinagem são itens básicos que nem deveriam ser debatidos, pois é o mínimo que se espera de uma escola: salubridade e segurança.

Noutras escolas, já vi o mato tomar conta dos seus fundos. Como se houvesse um limite que dividissem o que é escola e o que é uma floresta habitada por seres desconhecidos.

O que me impressiona nisto tudo é que está tudo bem para a escola, tudo bem para as crianças e tudo bem para os pais das crianças. O máximo que fazemos, me incluo porque estou fazendo isto neste artigo, é reclamar.

Além disso, sempre que surge aqueles assuntos utópicos entre uma roda de amigos ou numa conversa qualquer no ponto de ônibus, de o que pessoa faria se fosse prefeita, governadora ou presidente, sempre há aquele derramamento de ideias e certezas de que mudaria tudo. Da água para o vinho.

No decorrer da conversa, não difícil, surge também o argumento da corrupção e do "se você tivesse lá, faria o mesmo, porque é assim que as coisas funcionam". Ninguém percebe, mas isto é totalmente contraditório. O que você vai mudar se já aceitou que as coisas funcionam daquele jeito?

Consigo ir mais longe. O Brasil tem cerca de 207 milhões de habitantes e aproximadamente 80 milhões de processos no Judiciário. Isso é o equivalente a 1 processo para cada 2,5 pessoas. Um número desse só pode demonstrar uma coisa: há algo muito errado por ai. Comumente, quando alguém ingressa com uma ação na Justiça, está em busca de fazer valer os seus direitos. Logo, 1 em cada 3 pessoas tem os seus direitos violados, se brincar as outras duas também têm o mesmo problema e nem sabem.  Mas está tudo bem.

Todavia, ainda ligados no pensamento do imenso número de processos, é de se notar que o Judiciário tornou-se um ser mitológico responsável por resolver todos os problemas. Pensando assim, fica evidente que perdemos a capacidade de resolvermos um problema por nós mesmos, obviamente que nem todos são assim. Entretanto, recorrer tanto aos juízes mostra que para nos relacionar e entender, fica imprescindível a figura de alguém que arbitre o que está acontecendo e diga o que é devido. Perdemos nossa capacidade de resolver situações por nós mesmos. Mais uma vez é outro que traz a solução.   

Vamos ir mais longe. Acho interessante como toleramos e exaltamos o que é errado. Motivo mais simples para isso é: beber e dirigir. Toda família sempre tem alguém que bebe e dirige. Se não tiver, conhece alguém que já fez isso. Mas, enquanto não der problema, não bater o carro e matar alguém, está tudo bem. Caso aconteça, entrega pra Cristo.

Penso também na criminalidade, nessa sensação de insegurança. O Brasil tem mais de 720 mil presos, ou seja, 0,34% da população estão atrás das grades. Logo, 99,65% da população são pessoas de bem, como defendem alguns. Fica a pergunta, se são pessoas de bem, então como as coisas continuam tão erradas? Se são pessoas de bem, portanto, não fazem coisas erradas, se não fazem coisas erradas, por que estas pessoas deixam outras pegaram o volante depois que bebem? Por que ainda toleram pequenas corrupções como furar a fila? Por que fecham os olhos para o trabalho infantil?

Pergunto-me ainda, se existe tanta gente de bem, como a criminalidade pode reinar? Mas, me lembro de outra frase famosa, atribuída a Martin Luther King: O que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons.

Como eu disse, eu acredito que a mudança vem pequena e depois vá crescendo. No caso das escolas, por exemplo, com tantos pais e professores, por que não organizar um mutirão e fazer uma limpeza no terreno? Por que não fazer uma cota e construir o muro? Isso traria tantos impactos positivos, tal como a verdadeira interação da comunidade com a unidade escolar. Muito mais de reclamar e jogar a culpa no outro, seja o próprio Estado ou particular, é lembrar que o dano pode atingir a mim, e acreditar que prevenir é melhor que remediar, eu fazer antes de reclamar.

Vou mudar o foco rapidamente. Encontrei uma noticia que fala sobre um pedido de desculpas de uma empresa de trens japonesa. O motivo do pedido é que um dos trens da empresa saiu da estação 20 segundos adiantado. Imagina se aqui ocorresse isso com os ônibus, porém, me lembro que ainda não temos esse hábito tão esmiuçado. Todavia, como implementaríamos isso aqui? Uma política de honestidade e gentileza? Seria por lei ou por cultura? E a que ponto chegaríamos: precisar de uma lei para obrigar alguém a ser gentil? Ver isso acontecendo lá, é bonito, imaginar isso acontecendo aqui, parece impossível.

Ai está a fonte de tudo. Todos os dias vemos tudo de ruim acontecer e agimos como se tudo estivesse bem. Tenho plena consciência que cada pessoa sabe o que seria melhor, entretanto estão tão acostumados a ser massacrados por tudo, pelo sistema, por ela mesma, que se auto-sabotam em ser positiva na mudança, não digo na espera da mudança, mas sim em mudar.

Esse texto é chover no molhado. Mas eu quis trazer o questionamento: se queremos que algo mude, quem somos nós nessa mudança? Aqueles que esperam a mudança ou os que mudam? Não tem como ser os dois ao mesmo tempo. Se você espera pela mudança, logo você é ainda aquele que não mudou.

Nós nascemos para dar certo? Sim, nascemos para dar certo, mas no meio do caminho alguém nos ensinou que dar certo é o ideal, mas dar errado é o real. Dar errado não significa fazer o errado, mas, também, aceitar que o errado continue a dar certo, e que este é o melhor jeito. Digo. Se você vende o seu volto, do que poderia reclamar da corrupção? Se você apenas fica no problema, mas não busca a solução, do que adianta falar do problema?

Judite tinha um grande corte no pé que poderia infeccionar. Reclamava para todos sobre a dor. Porém, não ia ao médico. Judite continuou com dor, pois reclamação não é remédio.
 

Fernando Alves é acadêmico de Direito, estagiário, além de escritor e poeta amador.
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