Olhar Direto

Terça-feira, 23 de abril de 2024

Opinião

O incêndio no museu nacional do rio de janeiro

Um grande incêndio destruiu quase que completamente a edificação e o acervo (em torno de 2 milhões de itens) do Museu Nacional do Rio de Janeiro neste último final de semana (02/09/2018). O museu foi fundado por D. João VI em 1818, época em que a Corte Portuguesa transferiu a sede de Portugal para o Brasil. De acordo com as informações veiculadas pela mídia, a Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (entidade responsável pela administração do Museu Nacional) não vinha recebendo com regularidade os recursos destinados à manutenção da edificação. Como era de se esperar, a artilharia voltou-se contra o Governo Federal de plantão, embora, tudo indique com quase certeza, o atual Governo, malgrado os índices pífios de popularidade, não foi o único responsável pela situação de vulnerabilidade estrutural do prédio que abrigava o museu, o que não implica dizer que poderia ter evitado a trajédia se houvesse priorizado este setor.

Um museu é o local onde podemos ver, ouvir e sentir que um País tem história e não somos frutos de um acaso fortuito. Não seria descabido afirmar que muitos brasileiros tomaram conhecimento da existência do Museu Nacional com a notícia do seu sinistro. O que me leva a pensar este acidente sob uma outra ótica. Antes, um comentário. Ainda não se sabem as causas do incêndio. Contudo, pelos relatos apresentados até o presente momento e disponibilizados pela imprensa (em especial a fala do Reitor da UFRJ) tratava-se de uma trajédia anunciada. Um incêndio sempre começa onde falha a prevenção. Esta é uma máxima da engenharia de segurança contra incêndio e pânico. O Estado do Rio de Janeiro tem o Corpo de Bombeiros Militar mais antigo do Brasil (criado por D. Pedro II em 1856). É muito provável que a Corporação já houvera notificado os responsáveis para adequação das medidas de segurança contra incêndio e pânico, haja vista ser atribuição constitucional dessas instituições. O fato é que a grande maioria dos prédios públicos no Brasil não estão em conformidade com as normas técnicas de proteção contra incêndio e pânico de seus respectivos Estados. Essa é uma questão que precisará ser enfrentada mais cedo ou mais tarde. Novos sinistros se avizinham.

Como mencionado, quero chamar a atenção para outro aspecto. Um museu é a melhor definição que entendo por alta cultura. Mais do que expor objetos que contam uma história ou nos aproximam do passado, eles criam um ambiente de estímulo à busca pelo conhecimento. Os artefatos e obras ali expostos nos relembram que, como dizem os conservadores, devemos preservar as coisas admiráveis que herdamos daqueles que nos antecederam. Assim, é triste pensar na quantidade imensa de jovens brasileiros que jamais entraram em um museu. Um país que não fomenta o amor pela busca do conhecimento, até como um fim em si mesmo, é uma nação fadada a viver assombrada por demônios.

Sob um ponto de vista, agora pragmático, esse desastre é fruto da baixa capacidade dos governos (união, estados-membros e municípios) em estabelecer políticas de priorização na alocação de recursos escassos. A título de exemplo, se analisarmos os gastos do governo federal com verbas para custear publicidade (para ficar apenas nesta despesa) veremos que excede em muito o mínimo necessário para que fossem executadas as medidas de prevenção contra incêndio e pânico da edificação do Museu Nacional. Outro exemplo: o governo anterior criou uma estatal para conceber o projeto de um trem-bala ligando São Paulo ao Rio de Janeiro  (Empresa de Planejamento e Logística – EPL; tem orçamento de R$ 69,36 milhões e funciona com apoio de 146 funcionários, sendo 35 servidores e 111 sem concurso público) que já consumiu milhões de reais enquanto, até as pedras sabem, que este modal não possui viabilidade econômica (qualquer semelhança com o VLT cuiabano não é mera coincidência). E, assim, os exemplos seguem em todas as direções e áreas que envolvem aplicação de recursos públicos finitos.

Quem conheceu o Museu Nacional tem gravado na alma parte da nossa história. Aos que ainda não tiveram a oportunidade em conhecer um museu, saiba que existem, são importantes e ocupam um espaço central em nossa existência. Espero, sinceramente, que os defensores do pensamento revolucionário (nova esquerda e seus “pensadores”) não ousem levantar a voz para lamentar essa terrível perda do nosso patrimônio histórico. Sabemos que destruir a alta cultura, relativisando seus valores para a remodelar em conformidade com a ideologia é parte da estratégia desses grupos políticos, ou seja, são movidos por uma vontade de repudiar o legado cultural que nos define.

Aos futuros representantes do poder político que assumirão em janeiro de 2019, debrucem-se sobre suas “pranchetas” orçamentárias e realizem a primeira lição da gestão pública: priorizar onde serão alocados os recursos escassos em função de sua importância, urgência e relevância. Os pagadores de impostos agradecem!
 

Julio Cezar Rodrigues é economista e advogado (rodriguestcbm@gmail.com)
 
 
xLuck.bet - Emoção é o nosso jogo!
Sitevip Internet