Imprimir

Opinião

O que somos e porque somos

Aécio Ormond

Em 1808, quando a família imperial portuguesa foi forçada a deixar Lisboa, sob ameaça de invasão napoleônica, a corte portuguesa deixou aquela cidade e com ela vieram praticamente todos os homens de negócios que viviam naquele país. Só ficou para trás, o povo pobre que não tinha condições de implementar uma fuga diante de uma invasão preste a acontecer. Dentre esses homens de negócios da corte, estava o senhor Elias Antonio Lopes, que enriqueceu com o tráfico de escravos na colônia brasileira.

Esse personagem da história luso-brasileira, era dono da chácara São Cristovão, onde havia construído um palácio imponente para época, que foi presenteado ao Rei Dom João VI, (um rei diga-se de passagem, com comportamento e atitude de medroso e incapaz de tomar suas próprias decisões), presente este que se tornou na residência oficial do monarca, o Palácio de São Cristovão, depois Palácio da Quinta da Boa Vista, hoje o prédio do Museu Nacional. Pois bem, onde pretendo chegar com esse enfoque histórico? 

É aí que estão todas as controvérsias encontradas no dia-dia de nossa sociedade... Uma questão de princípio histórico, toda essa herança de atitude acompanha o comportamento de nossa sociedade até hoje, ou seja, presentinhos, bilhetinhos, troca de favor, a lei da vantagem, o jeitinho brasileiro de agir, etc... Assim, nós cidadãos, recebemos do meio em que vivemos uma gama de influência, que ditam as regras em nossas sobrevivências.

Para nos livrarmos dessas influências, precisamos ser dotados de muita sabedoria divina, para não criarmos embaraços para nós mesmos, dependendo da situação podemos até sofrer risco de morte... Como assim, risco de morte? É exatamente isso que pode acontecer, quando um cidadão idôneo tem em seu caminho, um outro cidadão de atitudes desonestas e tenta barrar suas desonestidades.

Quem ainda nunca se deparou, com um policial desonesto que força a propina? De um servidor de qualquer esfera pública, que dificulta os procedimentos públicos para favorecer as gorjetas para acelerar os procedimentos? E assim vai, da propina do caixa II da política, para levantar dinheiro para comprar o eleitor, de alguns entendimentos judiciais que favorecem o tráfico de influência, sem contar que os políticos representam corporações que legislam em causa própria, defendendo os grupos que os elegeram... É assim que funcionam as coisas. Diante das heranças e tradições das atitudes que imperam em nossa sociedade, o cidadão comum leva para qualquer atividade laboral que possa exercer, esse ranço de atitude e costume herdados dos primórdios de nossos colonizadores...

Enquanto os políticos continuarem gastando milhões para comprar um mandato eletivo, vai continuar a deficiência da saúde, da segurança, da educação, da habitação e do saneamento. Irá também aumentar anos pós anos, o número de crianças nascendo e vivendo nas ruas, sendo recrutados pela criminalidade, pela prostituição e pelo tráfico de drogas. Tudo isso, leva a instabilidade social, todo cidadão pode ajudar ou contribuir para que isso amenize ou perpetue. Com sua atitude, o cidadão pode dar aval ou não, para que isso mude ou fique cada vez pior com o passar dos anos. Hoje, na situação em que se encontra o país, pouco se pode mudar...

Não há passeatas ou manifestações que possam colocar fim esses costumes herdados... Até porque o próprio cidadão que engrossa esses atos públicos precisam corrigir suas atitudes, ou seja, repensar os seus atos... Pois, como diz o meu amigo professor Jurandi, os políticos não vem do planeta Marte, eles são criação da sociedade e assim também já dizia o francês Joseph Marie de Maistre, autor da frase célebre “CADA POVO TEM O GOVERNO QUE MERECE”...

Portanto digo, somente a educação possui o condão de transformar o homem. Por isso, precisamos educar as crianças, para elas não herdarem os maus costumes dos adultos. Caso ao contrário, o homem continuará sendo o produto do meio e dos maus exemplos... SOMENTE A EDUCAÇÃO PODE TRANSFORMAR O HOMEM...

*Aécio Ormond é professor do magistério público em Cuiabá
Imprimir