Opinião
Cuiabá – 300 anos de demagogia, maus tratos e solidão
Eustáquio José Rodrigues Filho
A criação de uma secretaria que vai fazer a gestão de projetos para a comemoração dos 300 anos de Cuiabá só não soou mais absurda e demagoga do que os projetos que ela se propõe a tocar.
E não se trata de complexo de inferioridade ou pobreza de espírito por citar imitações, mas da realidade nua e crua que assalta (literalmente) nossa cidade. Algumas obras são bastante interessantes, como revitalização da orla esquerda do Porto e do Morro da Luz; outras beiram o ridículo, como um restaurante giratório e um museu de cera. Qualquer iniciativa para tirar Cuiabá do marasmo e transformá-la numa cidade modelo é bem-vinda, porém, antes de partirmos para atrações turísticas de primeiro mundo, precisamos resolver nossos problemas de terceiro e quarto mundos.
Os cidadãos cuiabanos ficariam bastante contentes e o atual prefeito seria lançado ao status de gestor competente, moderno e ousado se, nesses dois anos que faltam para a cidade completar 300 anos:
- revitalizasse as policlínicas da capital, reformando-as e fazendo com que tivessem médicos e enfermeiros 24h por dia, 7 dias por semana;
- reformasse os prédios e atualizasse os conteúdos dos museus já existentes;
- reformasse e iluminasse (mas com muita luz mesmo) as praças da capital e equipamentos esportivos, mantendo-os conservados;
- asfaltasse as ruas dos bairros periféricos, com drenagem e esgotamento sanitário;
- recapeasse as principais ruas e avenidas da cidade para que os carros não andassem por elas trepidando o tempo todo;
- fizesse a sinalização vertical, horizontal e aérea da capital, além de colocar placas com os nomes das ruas (placas essas quase inexistentes);
- melhorasse o transporte coletivo como um todo, com ônibus novos e refrigerados, exigindo nada mais, nada menos, que o estipulado no contrato de concessão
- fizesse um choque de gestão no serviço público municipal, demitindo os fantasmas, exonerando os cabides de emprego e cobrando mais eficiência e transparência dos servidores que ficarem lá trabalhando;
- criasse uma guarda municipal com o intuito principal de manter a ordem no centro da cidade e seu entorno no que se refere a trânsito, estacionamento e segurança dos pedestres e transeuntes;
- comprasse para as creches equipamentos didáticos modernos e aparatos tecnológicos adequados com o mundo que vivemos.
Apenas 10 ações que, longe de beirar a demagogia e o populismo, são urgentes e necessárias para tirar nossa capital do patamar de 4º mundo em que está. Ações primárias que deixarão os cidadãos cuiabanos felizes com o atual prefeito, fazendo com que seu principal objetivo (a reeleição) seja alcançado de forma inexorável. A partir daí, num eventual segundo mandato, com todas as ações acima executadas (e não apenas pensadas ou projetadas), o mandatário municipal poderia pensar nas tais ações da SEC 300. Agora não mais para comemorar os 300 anos vindouros, mas para comemorar, no tricentésimo primeiro ano, o fato de se morar numa cidade da qual se pode sentir orgulho.
Eustáquio José Rodrigues Filho é gestor governamental