Imprimir

Opinião

As histórias cuiabanas e o político vizinho

Wilson Carlos Fuáh

Ao redor de Cuiabá, podemos encontrar uma grande quantidade de chácaras, sítios e pequenas fazendas.

É, tradição entre as famílias cuiabanas ter um lugar no mato, para cultivar, criar e reunir as famílias nos fins de semanas e mesmo ter uma qualidade de vida voltada para o lazer com:  pescarias, banho de córrego e andar a cavalo, desenvolver pequenas roças de banana, milho, mandioca, criar galinha caipira, cabrito, leitoa e algumas vaquinhas de leite, tudo é produzido para o consumo e o bem viver, sem usar venenos ou agrotóxicos, sem invadir propriedade do alheio, sem olho gordo nos vizinhos, nem pensar em acumulação desenfreada, pois todos sabemos que ao morrer, não levamos nada para a vida espiritual.

Nessas chácaras são realizadas grandes festas ao “Santo de Devoção”, com rezas e danças de cururu e siriri, jogos de truco espanhol, e é ali, que as famílias tradicionais cuiabanas transferem de pais para os filhos, os seus conhecimentos seculares: são receitas sobre as culinárias tradicionais, os bolos  e os doces.

E, nas cozinhas grandes, fica o fogão de lenha, onde são preparados:  o “ensopadon”; o “reviradon”; o sarapatel; costelinha de Porco caipira  com arroz; a farofa de banana, e  no Forno à Lenha prepara-se:  o assado de cabrito; a cabeça de boi estorricada  e o bolo de arroz fica cheirando até lá na vizinhança.         

Nas cozinhas dos sítios, são preparadas as comidas com sabores mais cuiabano do que nunca, na varanda sempre tem uma grande mesa, onde as famílias reúnem e contam histórias,perpetuando assim, as tradições deste povo nascido no Centro da América do Sul, pois quem é cuiabano verdadeiramente tem muito orgulho das histórias vividas pelos seus antepassados.

As experiências de vida,são passadas de pai para filho, e fica sempre a filosofia do prazer de viver a vida de modo festivo e cheio de alegria, basta reunir a família, já é um motivo para comemorar e celebrar um novo dia.  E nessa conversa fala-se de coisas boas, é como se estivessem preparando um cálice de sabedoria e propagandeando as realizações em torno dos pensamentos positivos e das sabedorias vividas pelos nossos antepassados.

A maior missão dos pais cuiabanos é formar os filhos com um curso superior, como: médico, advogado, economista, engenheiro, etc.,  Os filhos mesmo depois de graduados ficam a ouvir as velhas histórias contadas pelos antecessores cuiabanos, e ao amanhecer nas varandas dos sítios toma-se  o “guaraná ralado na grosa”,   escutando os pássaros nas sua cantigas do amor animal celebrando a beleza de cada dia que chega, e assim a hora passa bem devagarinho, até sair a primeira refeição do dia: o famoso “quebra torto”.

Ainda hoje me lembro das histórias contadas pelo meu querido pai “Joaquim Saçurana” e uma delas reproduzo aqui, é sobre o caso do Porco Caititu: essa raça de animal que anda sempre em bando, a procurar roças, principalmente as de milho, e quando o bando entra numa roça, faz um estrago danado.

Um morador vizinho, político/fazendeiro vindo de outras paradas, tinha como característica, o sorriso fácil e era muito falador. Tinha como filosofia de vida, acumular e nunca repartir. E, sempre que via algum animal em sua roça,ficava revoltado ao ver a sua  plantação, sendo parcialmente destruída, e carregava um ódio particular no coração contra os Caititus.

O fazendeiro/político ganancioso preparou uma armadilha e conseguiu pegar um porco caititu, e com toda a raiva do mundo, pegou-o e aos gritos  dizia:  “porco safado” prepare-se  para morrer.  E sem dó, colocou um litro álcool sobre o corpo do animal e em seguida “tacou” fogo, e o porco saiu em desabalada carreira e  entrou na roça de milho e como as palhas estavam secas, o fogo destruiu toda roça do malvado fazendeiro/político, e num  pequeno lapso de hora a sua plantação de milho estava totalmente destruída.

Sempre que fazemos uma malvadeza  ela volta a nós mesmo com a mesma intensidade e rapidez. A natureza não vinga simplesmente, ela coloca as coisas nos eixos e nos trilhos da vida, é muito importante saber que somos os responsáveis por tudo aquilo que fazemos para o bem ou para o mal. 

Fica a certeza que a raiva volta-se contra a quem a pratica, a raiva não é amiga de ninguém, e quando ela cobra um preço, é muito alto e agourento político/fazendeiro, apreendeu a dura lição, que: o mal sempre volta contra aqueles que o pratica.          

              
Wilson Carlos Fuáh é Especialista em Recursos Humanos e Relações Sociais e Políticas.  Fale com o Autor: wilsonfua@gmail.com
Imprimir