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Opinião

Madeira nativa: o futuro chega com o conhecimento

Sigfrid Kirsch

O mundo vive um momento histórico relacionado ao uso da madeira. Temos a possibilidade de crescimento em exportações e investimentos por receber alavancagem dos setores que utilizam madeira nativa em seus processos produtivos, com destaque para a construção civil, movelaria e biomassa.

A construção civil – menina dos olhos do setor da madeira – passa por uma retração sem precedentes. Este, certamente, é nosso maior entrave no mercado doméstico. Vemos na recuperação econômica a possibilidade de crescer com as demandas do setor da construção. Apostamos nesta evolução.

Mas nada disso seria ou será possível se o mundo não reconhecer a importância do manejo florestal sustentável. Além das funções produtivas, o manejo sustentável das florestas nativas preserva a fauna, protegendo assim a biodiversidade; faz com que as árvores limpem o ar que respiramos com o processo de seqüestro de carbono; protege a floresta do desmatamento e muitos outros. Eis aqui o galardão do setor... Manejar para tornar perene. Mas sem que todos os entes envolvidos entendam isso, jamais cresceremos. 

Frente a todas as vertentes de futuro, focamos nos entraves a serem resolvidos, dentre os quais a insegurança jurídica que envolve completamente o processo de produção florestal, a extrema burocracia, falta de incentivos fiscais e econômicos, além de graves limitações logísticas.

Por possuir potencial madeireiro mais atrativo em termos de quantidade e qualidade, as áreas de floresta natural densa são as mais procuradas pelas indústrias de transformação mecânica. Entretanto, do total de 412 milhões de hectares de florestas com potencial madeireiro na Amazônia Legal, somente 214 milhões de hectares (52%) são considerados efetivamente disponíveis para a iniciativa privada. O restante dessa área são florestas de domínio público, incluindo-se reservas indígenas e parques nacionais.

Em um ciclo de corte de 30 anos, com retirada de 25 m³/hectare de madeira, essa área poderia gerar, de maneira sustentável, um volume anual de toras para serraria e laminação da ordem de 270 milhões m³. Tal volume é 10 vezes superior aquele atualmente produzido no Brasil. Dos cerca de 216 milhões de hectares de florestas nativas efetivamente produtivas, aproximadamente 84% estão concentrados nos estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso.

Quanta informação. Quanta riqueza. E a busca pelo conhecimento é a nova bandeira do segmento florestal. Entendemos que é hora de quebrar paradigmas ultrapassados e comprovar nosso trabalho levando informação e conhecimento.

Para esta missão, o setor florestal em Mato Grosso destaca-se tendo como fonte de pesquisas a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa, setor de Florestas, em Curitiba-PR) e a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Nacionalmente, o Instituto WWF comprou a idéia de que a madeira legal é grande geradora de emprego, renda e, pasme: sustentabilidade da floresta, conservação e árvores em pé.

Um projeto desenvolvido há seis anos gerado a partir da parceria entre o Sindusmad e a Embrapa Florestas se propôs a entender o ciclo de corte das árvores e espécies remanescentes.

Seus primeiros resultados provam que este saber vai salvar o setor de base florestal, quiçá a Floresta Amazônica. A seriedade do estudo o levou à publicação de 13 matérias, em âmbito internacional, assinadas pela Embrapa.

Trata-se de um marco na história do segmento.

Mostra, por exemplo, a idade certa para cada espécie arbórea ser colhida. Comparando, por exemplo, à produção bovina. Não adianta deixar um boi no pasto por dez anos para ele continuar crescendo, pois o fará somente até determinado limite e a carne vai ficando cada vez pior, porque ultrapassou a idade certa do produto. Árvores têm um tempo de vida, como o ser humano, que tem sua idade fértil.

Na natureza é a mesma coisa. Não são as arvores mais velhas que darão as melhores sementes ou a melhor madeira. Cada espécie tem seu melhor período de produção.

Ao contrário do que se pode pensar, esta inversão não prejudica a natureza, mas sim, faz com que a floresta se regenere mais rapidamente, porque ao colher árvores maduras, abre-se espaço para as jovens crescerem. Esses dados são comprovados pela pesquisa com 15 espécies nas regiões de Sinop, Brasnorte e Aripuanã.

Em busca dos melhores exemplos de crescimento, nos espelhamos na agricultura, que também colocou em prática a estratégia de investir em pesquisas.

O mundo e o mercado estão exigindo cada vez mais tecnologias de todo e qualquer segmento. E com o setor florestal não é diferente. Hoje são 40 milhões de metros cúbicos de madeira comercial na Amazônia que requerem práticas sustentáveis de colheita.

Chegou a hora de mostrar quem somos e a que viemos. Lutamos pela madeira legal e conservação da Amazônia. Fato!

Um selo identificando a madeira legal é um passo essencial para este novo momento do setor. E certamente, este é um projeto que encampamos e sairá do papel com o aval destas entidades que acreditam e na floresta em pé.

Tivemos alguns momentos históricos na construção civil, com o aço e depois com o concreto. Hoje estamos vivendo a era da madeira. A madeira não é apenas o futuro, mas sim, o presente. É tendência global. Só o Brasil não vê isso. Ainda!


Sigfrid Kirsch é Presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte do Estado de Mato Grosso (Sindusmad), Tesoureiro do Centro das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Madeiras de Mato Grosso (Cipem) e Diretor da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt).
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