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Opinião

O racismo "nosso" de cada dia e o necessário combate

Antônio Wagner Oliveira

Ontem deparei-me com uma matéria em site da capital que relatava um caso tão absurdo e grotesco que demorei a acreditar.

Tão logo percebi ser verdade, um misto de raiva, indignação e ódio me tomou por inteiro. Despertou em mim meus instintos mais primitivos. Demorei a me despir deste ódio para ter clareza sobre como relataria estes fatos e o combateria com toda minha força e militância de agora em diante.

Refiro-me ao caso da agressão racista que sofreu a bela e negra fotógrafa Miriam Rosa, em mensagem recebida por celular, por um ser repugnante que deveria estar fora do convívio social. Segundo reportagem seu nome é “RAFAEL ANDRÉ”, conhecido como “RAFAEL ZÉ” e merece ir para a cadeia.  No nosso comodismo diário, não imaginamos o quão baixo pode chegar um ser humano no tratamento para com outro ser humano. Não conseguimos imaginar sequer por um momento como é ser negro num país que tem se mostrado cada vez mais racista e misógino, além de injusto socialmente.

Como podemos ser racistas se todos nós brasileiros temos em nossas veias sangue afro e indígena? Como podemos ser racistas se a maioria do nosso povo é negro? Como podemos ser racistas se tudo que temos é originário do trabalho dos negros, que aqui chegaram como escravos e transformaram essas paragens?  Como ser racistas se temos uma dívida social com todos os negros e negras desse país por ter lhes “dado” uma “liberdade” que já era deles e sequer os indenizamos por um século de exploração? Como podemos ser racistas se raça nada mais é que uma cor de pele, já que nosso caráter nada tem haver com isso? Como podemos ser racistas se somos todos seres humanos? Ou pelo menos quase todos, eis que um sujeito desses não pode ser considerado como da nossa espécime.

Minha revolta é ainda maior, pois hoje namoro uma moça negra, linda como a fotógrafa, que já me relatou quantas humilhações e assédios sofrera ao longo da sua vida, como se esses homens repugnantes não tivessem se atentado para o fim da vergonhosa escravidão que um dia existira. Esses mesmos racistas, têm saído do submundo de seus cérebros doentios, estimulados por um discurso de ódio, comum aos apoiadores do candidato a presidente mais boçal que nossa história recente produzira, um misto de nazi-facista tupiniquim. 

Não é por acaso, que nesses tempos sombrios e anti-democráticos, nos deparemos com tantos casos de agressões a homossexuais, a negros e em geral às mulheres. Devemos, enquanto militantes das causas sociais, nos atentar mais a este tema e, nos somar a lutas dos ativistas das causas dos negros brasileiros, que é uma causa comum a toda nação. Uma nação só pode ser considerar evoluída quando repelir, punir e acabar com qualquer ranço racista em seu povo.

Devemos nos abrir mais a estes debates, sobre legislações punitivas severas para tais abomináveis crimes, devemos nos ater mais ao debate das cotas raciais e sociais nas universidades públicas e privadas, pois parte desse racismo também se transfigura em ódio de classe, ódio à classe trabalhadora e negra desse país.

Cobraremos enquanto entidade, que as autoridades públicas cheguem a origem desse ataque racista e, puna exemplarmente esse criminoso que, por trás de uma tela de celular, se achou intocável, a ponto de praticar esse horrendo crime. Seu nome foi revelado, ao que tudo indica, e seria “RAFAEL ANDRÉ”, conhecido em Várzea grande como “RAFAEL ZÉ”.  Somente com uma punição severa e prisão, que as autoridades judiciárias de mato grosso darão o exemplo de como devem ser os rigores da lei em crimes assim. É o que esperamos.

Para a fotógrafa Miriam, tenha certo que nada lhe desabona como ser humana, você não tem do que se envergonhar, sua cor de pele é linda e perfeita como é, seus valores não estão na pele, mas no seu caráter e, nunca deixe ninguém dizer o contrário. No mais, no próximo evento que realizarmos, certamente a chamaremos como fotógrafa oficial dele, é um compromisso público que lhe faço, como maneira de, como homem e em nome dos verdadeiros homens de Cuiabá, nos desculpar com você por este ataque tão baixo e vil.

Para encerrar esse tema que me enoja ter de discorrer sobre, é que convoco a todas as entidades de classe, sindicatos, associações e afins, a colocarmos mais energia no combate ao racismo nosso de cada dia! É imperioso que tomemos posição e sejamos partícipes ativos deste tema em debate.

Nós da CSB MT temos em nossos quadros a presidente da UNEGRO, que é Secretária de Igualdade Racial da entidade e uma combatente antiga contra esse racismo doentio, a quem daremos, a partir de agora, total autonomia para atuar em nome da Central em todos os fóruns competentes para denunciarmos esse racismo que estava adormecido, e agora volta a tona estimulado por um discurso de ódio que nos divide enquanto nação.E uma nação dividida é uma nação enfraquecida.

Das autoridades, esperamos que a investigação seja célere e encontre o culpado pelos ataquesracistas sofridos pela fotógrafa, que responde pelo nome de RAFAEL ANDRÉ,pois, só assim saberemos que o Governo do Estado é sensível a esta causa.
Hoje somos todos Miriam Rosa!
 

Antônio Wagner Oliveira, é Advogado, Servidor da Área Meio do Poder Executivo, está como Diretor Jurídico do SINPAIG MT, Vice-presidente da CSB MT, membro da Executiva Nacional da CSB e Coordenador do Fórum Sindical dos Servidores de MT 
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