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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

Notícias | Economia

Setor que puxava PIB, indústria agora lidera cortes

Desde o "setembro negro", o mundo virou de cabeça para baixo, e a indústria no Brasil seguiu a mesma toada: os setores mais dinâmicos que sustentavam o forte crescimento do PIB até então são agora os que mais eliminam postos de trabalho.


Antes no rol dos líderes da vigorosa expansão da economia de 6,8% no acumulado até setembro, material de transporte (inclui a indústria automobilística) e metalurgia (siderurgia) estão entre os que mais desempregaram em novembro.

Esses ramos perderam, respectivamente, 11,6 mil e 11 mil empregos formais naquele mês, segundo levantamento da LCA Consultores, feito a pedido da Folha com base em dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Os números correspondem ao saldo líquido entre admissões e demissões informadas pelas empresas ao Ministério do Trabalho e Emprego.

Até outubro, esses ramos mantinham as contratações, apesar de já se notar uma desaceleração. Ao lado deles, outros importantes ramos cortaram postos de trabalho em novembro, como química (7.200 empregos), mecânica (5.400), borracha (6.000) e material elétrico e de comunicações (4.100).

Todos mantinham, até o recrudescimento da crise mundial, em setembro, um bom ritmo de crescimento, segundo Fábio Romão, economista da LCA e autor do estudo.

Agora esses ramos sofrem com os efeitos da crise, que fez secar o crédito e desidratar as exportações de vários setores na esteira da forte contração da demanda mundial, diz Romão.

Tal cenário levou a indústria a fechar 82,9 mil vagas em novembro, considerando apenas o registro de empregos formais do Caged. De todos os 19 setores e subsetores investigados, apenas 2 elevaram o saldo de contratações: comércio --que gerou 77,9 mil vagas, devido ao Natal- e serviços (37,5 mil).

Em resposta à escassez de crédito e à queda da confiança, a construção civil eliminou 22,7 mil empregos. Em setembro, o setor contratou 32,8 mil trabalhadores. Naquele mês, a indústria de transformação como um todo empregou 114 mil pessoas a mais.

Pelos dados do IBGE, a produção de veículos caiu 22,6% em novembro. No caso da metalurgia, a retração foi 10,2%. Naquele mês, a indústria geral cedeu 5,2% ante outubro.

"A crise não é generalizada ainda. Alguns setores vão bem. Os que mais sentiram o impacto são os ligados ao crédito -tanto os que dependem dele para vender como os que precisam financiar investimentos- e os exportadores", diz Patrick Carvalho, economista da Firjan. Há ainda, diz ele, outro complicador: a desvalorização cambial, que elevou o custo de vários insumos importados usados na produção. Um dos ramos afetados por esse efeito é o químico e petroquímico.

Também tiveram fraco desempenho em novembro setores ligados às exportações e intensivos em mão-de-obra. Entre eles, estão calçados (9.800 postos a menos) e vestuário (7.400). A indústria de alimentos demitiu 13,5 mil.

Projeções
Amanhã, o Caged divulga os dados de dezembro e as expectativas apontam para redução ainda mais intensa do emprego formal. Romão estima um saldo de até 600 mil demissões, o dobro do habitual para o mês --período no qual crescem as demissões por causa da dispensa de temporários da indústria contratados em outubro.

A projeção bate com o número citado pelo presidente Lula na semana passada, que falou também em 600 mil demissões. Se confirmado, será o pior resultado desde 1999, ano da desvalorização do real.

Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese, afirma que a pesquisa domiciliar do instituto ainda não captou o desemprego em novembro, pois muitas firmas demitem na virada do mês -o que leva o fenômeno a ser mensurado apenas no mês seguinte. Ele também estima corte próximo a 600 mil vagas.

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, o primeiro trimestre deste ano será "desafiador" e muito fraco tanto para a produção como para o emprego. "Mesmo com a queda da Selic, o crédito não vai se recuperar rapidamente."
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