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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Em ambiente mundial de recessão, Brasil pode ser ‘ilha’, avaliam instituições

Se depender das projeções de diversos organismos internacionais, o Brasil pode ser converter numa ‘ilha’ em meio a um oceano de recessão das principais economias mundiais.


De acordo com os números mais recentes de organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os países do grupo conhecido como Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) deverão ter crescimento superior ao dos países ricos – embora menor que o registrado por esses mesmos países nos últimos anos.

O FMI estima que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer 3,5% em 2009. O Banco Mundial projeta 2,9%. O número é inferior às previsões para os demais países do Bric: Rússia, Índia e China devem crescer mais de 5%, de acordo com o FMI, ou mais de 3%, segundo o Banco Mundial.

Mesmo assim, a taxa brasileira é bastante superior à dos países desenvolvidos, que devem registrar queda ou crescimento máximo de 0,4%, segundo os mesmos organismos. O governo brasileiro projeta um número ainda maior, de 4%, enquanto a proposta de orçamento deste ano traz a previsão de 3,5% de elevação do PIB, e o Banco Central estima em 3,2% o crescimento da economia.

Recessão no curto prazo

No entanto, as projeções não significam que o país não passará por dificuldades, pelo menos a curto prazo. Pelo contrário: segundo diversos economistas, existe a possibilidade real de que o país entre na chamada recessão técnica – dois trimestres seguidos de queda na economia – antes de começar a se recuperar, durante o restante do ano.

“Podemos ter uma recessão técnica sim, é até bem provável, pelo que estamos vendo dos indicadores mais recentes. De qualquer forma, deveremos ter uma recuperação no restante do ano, de modo que o PIB brasileiro ainda seja positivo em 2009”, afirma Antônio Correia de Lacerda, professor de economia da PUC-SP.

É a mesma opinião da colunista Miriam Leitão, que escreveu em seu blog que “no último trimestre do ano passado, o PIB encolheu. O número ainda não foi divulgado, mas quando for, será negativo. Neste primeiro trimestre do ano, também a produção, o emprego, as vendas estão diminuindo”. 

Momento delicado

Segundo Lacerda, a época em que a economia brasileira sente de modo mais agudo os efeitos da crise financeira global – o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009 – é particularmente vulnerável à desaceleração.

“Os resultados desse período tendem a ser menores do que o resto do ano, pois existem muitas empresas dando férias coletivas ou usando banco de horas, o que também gera impacto negativo”, explica.

“A contração da economia no último trimeste veio até mais forte do que estávamos esperando. Isso não implica necessariamente uma revisão para baixo do PIB, mas é inegável que os números de dezembro não são nada positivos”, diz o gerente-executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, vai pela mesma linha. “Acho que pode ter uma recessão técnica sim. Mas o importante não é ela existir tecnicamente ou não, mas o quão profunda ela é. Se ficar pouco abaixo de zero em dois trimestres, e depois recuperar, tudo bem. O duro é quando você vai fundo demais, e daí não consegue sair dela no índice anual”.

Crescimento no final do ano

Já para o ano fechado, a expectativa é que a economia passe por um processo de recuperação e termine o ano com elevação – ao contrário da trajetória da maior parte dos países ricos, que deverá ser descendente. Isso se deve à diferenças de conjuntura entre o Brasil e essas nações.

“Essa crise veio de fora. A economia brasileira não apresenta os mesmo problemas que existem nos países desenvolvidos. Por aqui, também temos uma ação forte da política econômica no sentido de estimular a economia. Isso, cedo ou tarde, vai ter um impacto na geração de emprego e renda, sustentando a demanda interna”, diz Castelo Branco.

“Além disso, as empresas brasileiras em geral estão em posição mais favorável que as estrangeiras. Não temos passíveis problemáticos, por exemplo. Temos estoques em alta, mas assim que eles forem desovados, podemos voltar à normalidade”, completa

Queda mais profunda

“Lá, a queda na atividade econômica é muito maior. Eles estão num processo recessivo muito mais pronunciado. O Brasil vai crescer pouco, mas não vai ter uma recessão prolongada”, diz Lacerda.

“O Brasil deve crescer entre 2% e 4% em 2009, principalmente se todo o incentivo do governo funcionar”, opina Marcelo Moura , pesquisador do Ibmec São Paulo.

Veja ao lado reportagem com a opinião do ministro da Fazenda sobre a situação dos países em desenvolvimento

“Numa análise fria da situação, temos um governo com uma carga tributária gigante, ou seja, com espaço para reduzir, assim como na taxa de juros. O ideal seria aumentar gastos de investimento com infraestrutura, o que poderia aquecer a economia”, sugere.

Outro fator apontado como decisivo para os rumos da economia nacional em 2009 é a direção tomada pela taxa de juros, atualmente na casa de 13,75%.

“O BC (Banco Central) deve cortar os juros na próxima reunião. Na minha opinião, esse corte pode ser até mais acentuado do que se espera até agora, talvez algo como 0,75 ponto percentual”, diz Castelo Branco, da CNI.

“Os juros precisam ser cortados de forma decisdiva, pelo menos um ponto. Não adiantar chegar agora e cortar 0,25”, concorda Lacerda.

Voz divergente

No entanto, nem todos os economistas concordam com as projeções de que o Brasil conseguirá se recuperar até o final de 2009. Um deles é Marcelo Carvalho, economista-chefe da filial brasileira do banco Morgan Stanley. Para ele, é possível que a economia brasileira termine o ano de 2009 com um crescimento próximo do zero.

“Na nossa visão, a desaceleração da economia brasileira será mais pronunciada do que muitos estão esperando. O país é mais vulnerável à situação internacional do que normalmente é reconhecido”, escreveu, em relatório divulgado em dezembro.

No mesmo documento, Carvalho diz ainda que “baseado nos indicadores de dezembro, a maior parte das entidades aponta um crescimento de cerca de 2% em 2009. Mas é possível que essa previsão seja otimista demais. Um número próximo a zero não pode ser descartado. Acredito que as palavras ‘Brasil’ e ‘recessão’ vão começar a aparecer juntas nos jornais cada vez mais”. 

Saindo mais forte da crise

Já para Alcides Leite, professor de Mercados Financeiros da Trevisan Escola de Negócios, as dificuldades podem até ser benéficas para a economia brasileira.

“Por um lado, tivemos uma correção cambial, pois o real estava supervalorizado anteriormente. Além disso, existe agora a possibilidade de uma redução significativa na taxa de juros, com a menor pressão inflacionária. Assim, quando houver uma retomada, estaremos em melhor condição”, diz ele.

“Estão acabando as desculpas para o BC não mexer na taxa de juros. Se conseguirmos terminar 2009 com um crescimento de cerca de 3%, um câmbio entre R$ 2 e R$ 2,10 frente ao dólar e uma taxa de juros com uns 2,0 a 2,5 pontos percentuais abaixo do nível atual, nós vamos sair fortalecidos da crise”, afirmou.

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