O governo de Roraima anunciou que vai comprar ao menos parte de uma fazenda da família do senador Romero Jucá (PMDB-RR), nos arredores de Boa Vista, para construir casas do programa habitacional federal Minha Casa, Minha Vida.

Tanto o senador quanto o governo afirmaram que a negociação é legal, e disseram que não há nenhum tipo de influência política nela.

O terreno a ser desapropriado --hoje considerado uma área urbana, devido ao crescimento da cidade-- tem 240 hectares. Nele, caberão cerca de 4.600 casas. No total, a propriedade tem 1.600 hectares, segundo a assessoria de Jucá.

A desapropriação do imóvel, conduzida por uma comissão de engenheiros e arquitetos, ainda não foi terminada, e por isso não há um valor já definido para a compra.

Mas o governo estadual afirmou que se dispõe a pagar, no máximo, R$ 3 milhões pela área, montante que disse ser inferior ao calculado em uma avaliação feita pela Caixa Econômica Federal.

O negócio ocorre no momento em que Jucá se aproxima da gestão do governdor José de Anchieta Júnior (PSDB).

O estreitamento de relações só pôde se concretizar depois da morte, no final de 2007, de Ottomar Pinto, antigo rival de Jucá, que havia sido reeleito governador em 2006.

Anchieta era vice de Ottomar e, ao ocupar seu lugar, abriu espaço em seu secretariado para o grupo de Jucá --líder da bancada governista no Senado.

Sede informal

A fazenda funcionou como sede informal da prefeitura de Boa Vista entre 2001 e 2006, quando Teresa Jucá, ex-mulher do senador, era prefeita.

Lá, ela chegou a despachar e a receber a imprensa, em um escritório na casa da fazenda, situada próxima ao bairro Cidade Satélite --onde já foram feitas outras desapropriações para o programa de moradias do governo federal.

A propriedade não consta na lista de bens entregue nem por Teresa nem por Jucá à Justiça Eleitoral em 2006, última eleição que disputaram.

A assessoria do senador disse que "há dez anos" ele passou a fazenda para o nome dos filhos, mas não especificou em que condições aconteceu essa transferência.

De acordo com vizinhos da propriedade, Romero só aparece nela esporadicamente, e Teresa deixou de morar lá desde que perdeu a última eleição para o Senado, em 2006, para a qual se licenciou da prefeitura.

Depois, ela foi para Brasília. Hoje ela é secretária nacional de Programas Urbanos, no Ministério das Cidades.

A Folha procurou, desde a semana passada, a assessoria de Romero para perguntar quanto o senador esperava ganhar com o negócio e se o dinheiro será dividido com Teresa, visto que eles estão separados, ou se ficará com os filhos. Não houve resposta.

A reportagem também deixou recados na secretaria da qual Teresa é titular. Até a conclusão desta edição, ela não ligou de volta para comentar o assunto.