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Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Notícias | Cidades

Pronto socorro sofre com questões culturais e falta de estrutura do interior

Márcia Santa de Almeida, moradora do Distrito da Guia, deslocou-se de sua região, na última sexta-feira, e foi levar a filha, Maxuellen, até o Hospital Pronto Socorro Municipal de Cuiabá (HPSM). A jovem, de 14 anos, estava com dores abdominais. As duas aguardavam atendimento, como outras muitas pessoas que enchiam a sala de espera do hospital.


O Pronto Socorro de Cuiabá não tem conseguido efetuar todos os serviços com qualidade. Muito menos com rapidez. A superlotação tem dificultado os atendimentos e gerado denúncias da população. Agora, é o hospital quem pede socorro.

A Diretora Administrativa do HPSM, Iracema Alencar, esclarece quais são hoje os principais problemas que precisam ser resolvidos no hospital. Um deles é referente à falta de leitos de retaguarda. "Se o paciente chega aqui morrendo, em estado grave, é bem atendido na hora, a gente salva a vida dele. Porém, a dificuldade é na seqüência, na permanência desse paciente no hospital. Não temos leitos suficientes", explica a diretora.

Ela diz que a fundamental missão do HPSM é atender urgências e emergências, e que, nesta parte, o hospital está totalmente preparado e cumpre seu dever. Mas que os pequenos atendimentos do cotidiano é que estão causando a superlotação e a baixa na qualidade do serviço. Outro grave problema é o fluxo de pacientes do interior, de todo o Estado, e até de estados vizinhos. O pronto socorro tem atendido inclusive pacientes da Bolívia. É muita gente para pouca estrutura.

Em tese, as policlínicas nos bairros da cidade serviriam para os atendimentos menos graves, e o pronto socorro acolheria as emergências. Mas, na prática, não é assim que funciona. Muitas pessoas como a Márcia e sua filha Maxuellen preferem ir direto ao hospital, em vez de procurar pelas unidades de sua região.

"Lá na Guia tem um posto de atendimento sim, mas como a minha filha tava com dor forte na barriga, resolvi trazer logo aqui pro pronto socorro", é o que diz Márcia. Ela conta ainda que raramente procurou o posto que fica próximo de onde mora. "Sempre que alguém da família tem qualquer coisa, a gente vem direto pra cá". Ela justifica dizendo que, apesar do bom atendimento que recebeu nas poucas vezes que foi no posto próximo de casa, prefere ir ao HPSM por segurança. A filha, Maxuellen, já se pronuncia: "Lá no posto não tem muito equipamento que nem aqui. Vai que acontece alguma coisa...".

Voltando ao outro lado, na direção do hospital, Iracema acredita que a maior fonte dos problemas é uma questão cultural, justamente essa de Márcia e Maxuellen que, por segurança, percorrem longas distâncias até o pronto socorro por problemas que podem ser verificados, pelo menos inicialmente, nas policlínicas e postos de saúde de suas regiões. "Então, o pronto socorro tem feito o trabalho que tem que fazer, que é o de atendimento de emergência, e tem feito o trabalho das policlínicas também, atendendo problemas menores", explica Iracema.

Joelcio B. Guimarães é enfermeiro no hospital. Para ele, a superlotação, que dificulta o trabalho, é fruto da falta de estrutura no interior de Mato Grosso. "A gente tem muito atendimento do interior, os corredores ficam lotados. E também é só aqui que tem atendimento de alta complexidade. Então, todo mundo do estado que precisa vem pra cá. Vem até pacientes da Bolívia! Isso fica difícil tanto para os usuários quanto para os profissionais", desabafa o enfermeiro, completando que se no interior houvesse hospitais equivalentes, Cuiabá não precisaria receber tanta gente. "A estrutura física do pronto socorro não comporta esse tanto de gente, e os pacientes acabam não recebendo atendimento digno. Isso causa estresse de todos os lados".

Iracema ressalta que as policlínicas nos bairros de Cuiabá estão funcionando, e que o antigo problema de falta de profissionais nessas unidades já foi resolvido há algum tempo, resta mesmo é a questão cultural da população. Um trabalho já iniciado no hospital para ajudar a diminuir a lotação é a chamada classificação de risco. Os pacientes que chegam são classificados por cores, que indicam a gravidade do caso. Os menos graves vão ficando por último na fila de espera, ainda que tenham chegado primeiro, e recebem a orientação de procurar a policlínica mais próxima de sua região.

A classificação de risco, que teve início no ano passado, já deu uma leve melhorada nos números, apesar de ainda não resolver o problema. Antes deste trabalho, a média mensal de atendimentos no HPSM era de 20 mil. Atualmente está perto dos 15 mil atendimentos por mês. Iracema espera que a situação melhore um pouquinho mais com a reestruturação da policlínica do Verdão e a inauguração da unidade do bairro Pascoal Ramos.

Ela diz que, em breve, o HPSM ficará fechado por seis meses para reforma. Indagada sobre o risco de uma "insegurança coletiva", já que muitos casos têm apenas o pronto socorro como solução, ela diz que não haverá problema. "Vamos fazer de tudo para deixar a população tranquila com o fechamento e vamos fazer uma campanha antes disso acontecer, informando à população tudo que podem encontrar nas policlínicas".

Já que o problema principal do HPSM de Cuiabá é justamente a busca de solução por milhares de pessoas do interior, de cidades de outros estados e até gente dos países vizinhos, fica difícil imaginar o hospital fechado por um semestre. Pelo menos será um período sem filas. Sem nenhuma fila.
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