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Sexta-feira, 29 de março de 2024

Notícias | Ciência & Saúde

"Vacinas da dengue e do zika são prioridades", diz diretor do Butantan

Jorge Kalil falou ao R7 sobre doenças, vacinas e comparou situação atual com o século passado

O imunologista Jorge Kalil, diretor do Instituto Butantan, acompanha com apreensão a crise política no Brasil, mas baixou o tom em relação à cobranças por repasses do Ministério da Saúde, dizendo que o órgão tem cumprido suas obrigações.

Recentemente, ele cobrou o recebimento de R$ 300 milhões relativos à última fase de testes da vacina contra a dengue, além de R$ 30 milhões para início das pesquisas da vacina contra zika, que poderá estar disponível em 2019. Neste momento, ele diz que as pesquisas sobre estas duas vacinas são as prioridades do Instituto.

Ao R7, Kalil afirmou que a vacina contra a dengue deverá estar disponível a partir da metade de 2017. E comparou as atuais epidemias, de dengue e zika, à de febre amarela, que assolou o Brasil no início do século 20 e que foi controlada, com o tempo, por meio de campanha de vacinação iniciada pelo médico Oswaldo Cruz. Leia abaixo a íntegra da entrevista!


R7 - Quais são as principais prioridades do Instituto Butantan neste momento?

Jorge Kalil - O Butantan tem muitas linhas de atuação com um grande número de pessoas trabalhando. Diria que as questões mais prementes são terminar o estudo de fase 3 da vacina contra dengue e trazermos uma solução plausível para a zika, ou seja, algum anticorpo para o tratamento ou uma vacina que pudesse imunizar sobretudo as mulheres com idade de dar à luz.

R7 - A terceira etapa das pesquisas da vacina contra a dengue já começaram. E em relação ao zika?

JK - Estamos trabalhando com o zika diretamente no instituto e também com outros centros espalhados pelo mundo.

R7 - Quando a vacina contra a dengue do instituto estará disponível para a população brasileira?

JK - Houve sem dúvida uma série de atrasos, já começamos a fase 3, acredito que talvez na metade do ano que vem as pesquisas já estejam com andamento muito forte e talvez já exista resultado. Então acredito que entre a metade e o fim do ano que vem já tenha um registro (para a vacina), para se possível já colocá-la à disposição da população brasileira.

R7 - Como o Butantan supre suas necessidades neste momento de crise política no Brasil?

JK - Sem dúvida o momento político atrapalha toda a vida da sociedade brasileira e o Butantan também sofre com isso. O que tentamos, como diretoria, é proteger o instituto e não deixar que isso interfira no dia-a-dia de nossa atuação. Temos vários mecanismos para fazer isso: um é utilizando os recursos da Fundação Butantan e o outro é dando tranquilidade e sendo interlocutores do instituto, tanto em nível estadual quanto federal.

R7 - Está havendo alguma falta de repasses do governo federal?

JK - O Brasil está com problema de recursos financeiros também por causa da crise econômica, mas  tivemos um importante repasse de recursos que ocorreu por esses dias. O Ministério da Saúde sabe da  importância do trabalho do Butantan e está honrando com seus compromissos.

R7 - Em relação ao vírus H1N1, há como evitar epidemias com novas mutações do vírus nos próximos anos ou não há outra maneira a não ser esperar por novas variações da gripe?

JK - O Butantan pode - e tem feito isso -  produzir alguns vírus (para preparar uma nova vacina) mas sempre tem muito risco porque quem determina quais são os vírus que serão utilizados na vacina sazonal é a OMS (Organização Mundial de Saúde). Só vamos saber isso no fim de setembro (próximo) e fica muito dificil produzir vírus industrialmente, já que depois talvez não seja utilizado. Podemos assumir um pouco de risco, mas não muito.

R7 - Por que a febre amarela é restrita a países subdesenvolvidos, como na África, enquanto a dengue e zika também podem ocorrer no chamado primeiro mundo?

JK - A grande diferença é que na febre amarela já temos uma vacina e as populações de risco já estão vacinadas. Na dengue e zika não há uma vacina então todas as populações são de risco. Se já existe população que esteja vacinada, mesmo que não seja a totalidade, fica mais difícil de o vírus ser transmitido de uma pessoa para outra.

R7 - Por isso as epidemias de febre amarela perderam força em vários países?

JK -  Trata-se de uma situação que a gente chama de proteção do rebanho, ou seja, algumas pessoas protegidas acabam protegendo as outras também. Então, não temos tido febre amarela, a não ser agora na África, onde a doença voltou porque as populações de alguns países não estão protegidas. Com isso, novamente a doença se espalhou rapidamente por lá.

Vacina contra a dengue pode ser adaptada para o zika, afirma diretor do Butantan

R7 - Em relação à dengue e ao zika, o senhor compara a atual situação do Brasil com a que o País viveu no início do século 20, quando Oswaldo Cruz comandou campanha de vacinação contra a febre amarela?

JK - Infelizmente vivemos um momento parecido com o do início do século 20, porque são doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti e que não têm vacina, como não tinha naquele tempo também do Oswaldo Cruz. Acreditamos que no momento em que conseguirmos desenvolver uma vacina e com controle do vetor, que está cada vez mais difícil, iremos debelar o problema.
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