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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Marcos Valério diz que José Dirceu, Lula e Carvalho eram chantageados

"O [ex] ministro José Dirceu, o [ex] presidente Lula e o senhor Gilberto Carvalho [ex-chefe de gabinete de Lula] estavam sendo chantageados", declarou o publicitário Marcos Valério em interrogatório prestado na tarde desta segunda-feira (12), em Curitiba, ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na primeira instância. A declaração foi baseada em uma afirmação feita pelo ex-secretário do Partido dos Trabalhadores (PT) Silvio Pereira, segundo o publicitário.


Marcos Valério já foi condenado a 37 anos pelo mensalão do PT. Atualmente ele cumpre pena em regime fechado na Penitenciária Nelson Hungria, em Minas Gerais. Na Lava Jato, ele responde por lavagem de dinheiro, na ação penal originada a partir da 27ª fase da operação. Outras oito pessoas respondem pelo mesmo crime neste processo, entre elas, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o empresário Ronan Maria Pinto.

O Ministério Público Federal (MPF) os denunciou pela suposta participação em um esquema para lavar parte do dinheiro de um empréstimo obtido pelo pecuarista José Carlos Bumlai. O empresário pegou R$ 12 milhões do Banco Schahin, que, segundo ele, foram destinados ao PT.

Os investigadores apuraram indícios de que metade desse dinheiro foi destinado a Ronan Maria Pinto. O MPF afirma que ele chantageou membros do PT, dizendo ter informações que ligavam membros da legenda à morte do ex-prefeito de Santo André, o petista Celso Daniel.

'Problema muito sério'
Em 2004, Marcos Valério disse ter recebido um telefonema de Silvio Pereira. Eles se encontraram, e Silvio Pereira relatou que havia um "problema muito sério": que o presidente estava sendo chantageado por uma pessoa, que estava exigindo R$ 6 milhões. Esta pessoa era o empresário Ronan Maria Pinto, segundo o relato de Marcos Valério à Justiça Federal.

Marcos Valério contou que o pedido de Silvio Pereira era para que o dinheiro fosse passado a empresa de ônibus de Ronan, a Viação Santo André. Depois do encontro com Silvio Pereira, Marcos Valério disse que foi conversar com José Janene, ex-deputado do Partido Progressista (PP) que morreu em 2010. Janene teria dito a Marcos Valério que resolveria a questão.

De acordo com Marcos Valério, Janene preparou os documentos para a transferência do recurso da empresa de Marcos Valério, a 2 S Participações Ltda, para uma empresa chamada Remar Assessoria, do Rio de Janeiro. "Assinei realmente os contratos e fiquei de transferir o recurso para essa Remar através de transferência eletrônica", afirmou. Ele ainda disse que não conhecia a Remar, nem sabia quem era o dono da empresa. A Remar, segundo Marcos Valério, iria transferir o valor para a Viação Santo André.

'O que eu fiquei sabendo não me agradou'
Marcos Valério contou que, depois disso, foi a Brasília e começou a sondar quem era Ronan Maria Pinto. "O que eu fiquei sabendo não me agradou". Questionado por um procurador do MPF como descobriu quem era Ronan Maria Pinto, o publicitário respondeu que "era muito sério"” e que não queria se envolver. Inclusive, Marcos Valério pediu para não responder à pergunta: "porque é um assunto muito grave e eu não quero correr risco". Ele lembrou estar detido em uma penitenciária e negou ter recebido recursos para não falar sobre o tema.

Após descobrir quem era Ronan Maria Pinto, Marcos Valério disse que chamou Silvio Pereira, na capital federal, para saber "essa história toda". Marcos Valério contou ter chamado Silvio Pereira de maluco e que não faria a transferência. "Me inclua fora disso", pediu Marcos Valério ao ex-secretário do PT.  Após esse encontro com Silvio Pereira, Marcos Valério relatou não ter mais informações sobre a transação.

Marcos Valério explicou que conheceu Ronan Maria Pinto, em São Paulo, em um encontro com Silvio Pereira, o jornalista Breno Altman, que também é réu nesta ação penal oriunda da Operação Lava Jato. Segundo Marcos Valério, o assunto do encontro foi o empréstimo e a intenção de Ronan de comprar metade do jornal "Diário do Grande ABC". Marcos Valério disse que Breno Altman defendeu o empréstimo a Ronan Maria Pinto.

Um ano depois, em São Paulo, Marcos Valério disse ter ido ao Banco Schahin com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. "Não conhecia o dono do Banco Schahin, não sabia quem era, nunca tive conta no Banco Schahin, nunca tinha entrado no Banco Schahin. Entrei única vez, nessa oportunidade".

Marcos Valério disse ter sido apresentado por Delúbio Soares ao dono do banco e que ele "ficou calado ouvindo a conversa". Na ocasião, ele percebeu que a transferência tinha sido feita e que Delúbio Soares estava devendo ao banco.

Marcos Valério ainda disse ao juiz que, depois do mensalão vir à tona, ele conheceu Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, com quem encontrou "n vezes". Em um desses encontros, Marcos Valério contou que ficou sabendo que o pecuarista José Carlos Bumlai tinha feito o empréstimo e que o PT pagou o empréstimo com o financiamento da sonda da Petrobras.

O empréstimo com o banco foi pago com a contratação fraudulenta do Grupo Schahin como operador do navio-sonda Vitória 10.000, pela Petrobras, em 2009, ao custo de US$ 1,6 bilhão. Como foi favorecido para obter o contrato, parte do lucro dele na operação quitou o débito. (veja o caminho do dinheiro no gráfico abaixo).

Outro lado
Por meio de nota, Gilberto Carvalho negou que tenha conhecimento de qualquer chantagem por parte de Ronam Maria Pinto. A questão é "fantasia de alguma delação premiada que tenta se livrar das penas envolvendo outras pessoas", conforme trecho da nota.

A defesa de José Dirceu disse que as afirmações não têm sentido algum e que não há razão para qualquer ameaçada de Ronan Maria Pinto. Os advogados também afirmaram que o ex-ministro não tem ligação com esse caso.

Fernando Augusto Fernandes, advogado de Paulo Okamotto, disse que o cliente é citado "os depoimentos da Lava Jato, iniciados com fatos, descambaram para mentiras e invenções de condenados que querem se beneficiar com as delações premiadas".

Por meio de nota, o Instituto Lula informou que não vai comentar depoimentos de pessoas condenadas, "que buscam benefícios para redução de pena e sair da cadeia, negociando depoimentos com a justiça". A nota ainda diz que, em 2012, Marcos Valério tentou delação premiada com um depoimento à Procuradoria-Geral da República, originando vários inquéritos. O Insituto Lula ressalta que todos estes inquéritos foram sarquivados ou têm pedidos de arquivamento feitos pelo Ministério Público "pela mais absoluta falta de provas para suas afirmações".

O advogado de Ronan Maria Pinto, disse, também por meio de nota, que "trata-se de uma versão isolada, dita por Marcos Valério apenas em 2012 – portanto, oito anos após os supostos fatos". "Tal versão, inclusive, já foi peremptoriamente negada pelo próprio Silvio Pereira, que afirmou não ter dito a Marcos Valério que Ronan teria tentado extorquir o Partido dos Trabalhadores ou quem quer que seja". A defesa de Ronan ainda reforçou que Marcos Valério foi condenado pelo mensalão.

Daniella Meggiolaro, advogada do pecuarista, afirmou que "as provas que serão colhidas nesta ação penal apenas corroborarão com a versão que o senhor José Carlos Bumlai apresentou desde início".

 O G1 tenta contato com os demais citados por Marcos Valério no depoimento.

 
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