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Quinta-feira, 25 de abril de 2024

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Mesmo com liminar

Paciente com câncer morre a espera de medicamento e filha desabafa: "tristeza e revolta"; veja depoimento

Foto: Reprodução

Paciente com câncer morre a espera de medicamento e filha desabafa:
A guerra entre o câncer e Marinete Ferreira Macedo, que conseguiu na Justiça o custeio do remédio de R$ 15 mil, que era imprescindível para a sua vida, foi ‘vencida’ pela doença. A mulher, que estava no estágio 4 da doença, não resistiu a árdua luta. Para a sua filha, Amanda Balduino Andrade, o resultado poderia ter sido diferente, se não fosse a burocracia. Isso porque mesmo conseguindo o direito ao medicamento, ela não conseguiu utilizá-lo: “O sentimento é de tristeza e revolta”.


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Amanda conta à reportagem do Olhar Direto que uma portaria interna (número 1.008 de 30 de setembro de 2015) do Sistema Único de Saúde de Saúde (SUS) não contempla a medicação requerida para quem está no estágio 4 do câncer, que era o caso de Marinete, que teve a doença nas mamas: “Por isso, o paciente é obrigado a entrar com um processo muito desgastante para poder conseguir. A demora é tanto, que a maioria acaba morrendo. A portaria causa morosidade, e acaba escolhendo quem vive e quem morre”.
 
O sentimento é de tristeza e revolta, uma vez que a saúde é um direito do cidadão e dever do Estado previsto na Constituição Federal do nosso país. Isso é contraditório. Uma portaria jamais deve sobrepor a constituição de um país sério”, comenta Amanda, que viu a mãe lutar durante mais de um mês no aguardo da medicação.
 
Questionada se acredita que a burocracia tirou a vida de sua mãe, ela confirma: “Acredito que sim. Estou prestes a entrar na faculdade que sempre sonhamos e hoje ela não está aqui comigo pra comemorar essa conquista. Isso por causa da morosidade do sistema, tanto para liberar tratamentos (tais como: quimioterapia, radioterapia, e a medicação em questão - Transtuzumabe), quanto para exames e procedimentos cirúrgicos. Para ter uma ideia, para conseguir uma tomografia, no sistema público, tem que se esperar em média um mês e meio, as vezes até mais. Tudo é muito demorado, e essa demora não condiz com o câncer, já que cada dia é muito valioso pra quem possui essa doença silenciosa, porém muito voraz”.
 
“Deveriam criar um modelo mais eficiente e de mais qualidade, pois quem está doente com dor não pode esperar. Acredito que todos que dependem do Sistema Público de Saúde também clamam por isso. Minha mãe estava confiante que iria conseguir a medicação, tinha esperanças”, garante a jovem.
 
Amanda ainda lembra como foi a dura espera pela ordem judicial, enquanto a mãe sofria com dores, já que tinha a doença no estágio 4, com metástase no fígado e havia sido submetido a mastectomia (retirada da mama): “No dia da decisão judicial eu fiquei o dia todo no fórum chorando, pedindo a Deus para que nos ajudasse a conseguir a medicação. Quando o juiz deu a decisão favorável, eu liguei imediatamente pra ela. Ela ficou tão feliz, até chorou de felicidade. O juiz pediu que fosse dada a medicação imediatamente, porém não tinha no estoque e somente 3 semanas depois é que me ligaram falando que havia chegado, mas já era tarde”.
 
Mesmo sabendo da gravidade da doença e sofrendo com dores, Marinete não se deixava abater e continuava a fazer planos, a maioria deles junto com a filha: “Faço cursinho há três anos para ingressar no curso de medicina, ela sonhava muito com isso e agora consegui nota para entrar em 28 universidades, mas ela não está aqui. Minha mãe tinha planos de fazer outro curso para mudar de profissão. Fora os netinhos que ela sempre sonhava em ter. Ela amou, teve quem a amasse também, tinha planos, sofreu, mas também teve momentos felizes, ela deu duro na vida para chegarmos onde estamos. Era uma mãe dedicada e paciente, ela era alguém”.
 
“No entanto, em nossa sociedade hoje, infelizmente só vale o que se tem e como minha mãe não tinha muitos recursos financeiros, ela foi tratada como mais uma. Assim como todos que passam pelo SUS, eles não olham o paciente como alguém que tem sentimentos, olham mecanicamente, não tem compaixão e sensibilidade. Acho que é isso que faltam nas pessoas hoje em dia”, completa a jovem.
 
Amanda ainda critica a falta de mudanças nas leis e a falta de melhorias no SUS: “Como quem toma a frente do poder Legislativo, Judiciário e Executivo geralmente tem boas condições de vida, não sabem o que é ir de manhã a um hospital com infraestrutura precária e sair à noite, sem ter um atendimento de qualidade. Quero ver nossos representantes e seus familiares irem ao nosso Pronto-Socorro e postos de saúde, locais de responsabilidade deles”, desabafa.
 
A filha de Marinete, que pretende cursar medicina para poder ajudar aos que necessitam, a negligência é um dos grandes problemas: “Acredito que não só a lei, mas também a negligência para com os hospitais e postos de saúde, que muitas vezes não tem material básico para alguns procedimentos de rotina. Imagine cirurgias e tratamentos mais complexos”.
 
Marinete Ferreira Macedo é mais uma das brasileiras que perderam a vida na luta contra o câncer de mama, que é o segundo tipo de tumor mais frequente no mundo e o mais comum entre as mulheres, excluindo-se o câncer de pele, respondendo por cerca de 25% dos casos novos a cada ano.
 
A estimativa do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca), era de 57.960 casos no ano passado. Os principais sintomas da doença são: nódulos palpáveis na mama ou região das axilas; alterações na pele que recobre o local do nódulo e região da mama com aspecto parecido a uma casca de laranja. Embora o câncer de mama atinja, com maior frequência, pessoas do sexo feminino – geralmente acima dos 35 anos -, a doença também pode afetar os homens.
 
Prevenção
 
Para a prevenção do câncer de mama é importante realizar o autoexame, apalpando as mamas, que a própria mulher deve fazer mensalmente a partir dos 20 anos de idade. Esse autoexame deve ser feito entre o quarto e o sexto dia depois do fim do fluxo menstrual. As mulheres que não menstruam devem escolher uma data para fazer a avaliação.
 
Outro método de prevenção é fazer exame de mamografia rotineiramente de acordo com a indicação do ginecologista.  Quanto mais cedo detectar o tumor, maiores a chances de se obter a cura. Na etapa inicial da doença, a probabilidade de cura é de 95%. Além disso, é importante ter hábitos saudáveis, fazer atividade física regularmente, não fumar, ingerir pouca bebida alcoólica e ter uma alimentação equilibrada evitando alimentos gordurosos.

Outro lado

A reportagem do Olhar Direto tentou entrar em contato com a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Saúde (SES) em quatro telefones, porém, nenhum das ligações foram atendidas. Também não houve resposta ao e-mail enviado.
 
O caso
 
A paciente Marinete Ferreira Macedo conseguiu, na Justiça, o custeio do remédio que era imprescindível para a sua vida, que havia sido negado anteriormente. Ela fazia tratamento contra um câncer de mama, em Cuiabá e precisava da droga para ter sobrevida. Os laudos médicos apontaram que se ficasse sem o medicamento, poderia morrer. A unidade do Herceptin (trastuzumabe) tem um custo de R$ 15.100,00 a unidade.
 
Conforme a decisão judicial, a qual o Olhar Jurídico teve acesso, o câncer estava no estágio 4, com metástase no fígado e indicação de tratamento quimioterápico e hormonioterapia, com finalidade paliativa. Em julho do ano passado, Marinete foi submetida a mastectomia (retirada da mama).
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