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Terça-feira, 19 de março de 2024

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Negligência e impunidade

Conflitos agrários crescem em MT e Comissão denuncia organização de pistoleiros sustentados por fazendeiros

Foto: Rogério Florentino Pereira/Olhar Direto

Conflitos agrários crescem em MT e Comissão denuncia organização de pistoleiros sustentados por fazendeiros
Com aumento de 33% nos casos de conflitos agrários, Mato Grosso foi o estado do Centro Oeste com maior número de crimes contra trabalhadores do campo em 2016. À sombra de ameaças e ataques contra suas lavouras, terras e vidas, eles seguem na mira de pistoleiros que estariam se organizando em associações criadas a partir do ostensivo investimento de fazendeiros para expandir a atuação. Sem recursos, os camponeses também seriam vítimas do Estado, acusado de conivência explícita com os latifundiários por meio dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

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Somadas a inúmeros relatos de violência, as acusações permearam o lançamento do Caderno Conflitos no Campo Brasil 2016 na Comissão Pastoral da Terra (CPT), em Cuiabá, na manhã desta terça-feira (25). O levantamento, que chega a sua 32ª edição aponta também crescimento de 88% nos confrontos envolvendo indígenas, além 5683 ataques verificados contra quilombolas, assentados, sem terra e trabalhadores escravos, considerados na somatória geral da pesquisa.

De acordo com o coordenador estadual da CPT, Cristiano Cabral, desde 1985 mais de 130 pessoas, incluindo os nove mortos em Colniza, foram assassinadas em ações como estas, sendo que até hoje nenhum responsável foi punido. No caso do trabalho escravo, só no ano passado houve 23 denúncias, mas a maior parte das pessoas não foi resgatada. As estatísticas se repetem e expõe a negligência do Poder Público com as vítimas destas situações.
Caderno Conflitos no Campo Brasil 2016.
“O caso da Janete Riva, por exemplo, que teve envolvimento com trabalho escravo, não deu em nada. Qual é o impacto real da ação do Estado contra esses criminosos? O que acontece de fato? Nada, porque o apóia”, diz.

Cristiano também fala sobre a estruturação da pistolagem, que encontra subterfúgios na impunidade para reforçar suas ações pelo interior. Segundo ele, os atos antes cometidos por pistoleiros isolados, hoje podem ser atribuídos a associações de pistoleiros mantidas por fazendeiros para fazer sua “segurança”. Com os homens armados seriam gastos de R$9 a R$ 12 mil reais por mês. Com resultado disso, nos últimos anos 272 famílias foram vítimas dos criminosos, sendo que 175 foram expulsas de suas propriedades apenas em Mato Grosso.

“A Justiça, que sempre foi conivente em conceder liminares de despejo contra os camponeses, hoje não precisa mais delas, já que os fazendeiros as promovem por conta própria. Isso porque o crime no campo é institucionalizado e conta com o apoio da polícia, de uma bancada ruralista forte, de deputados e governadores. Como aconteceu em Colniza, vemos o esforço em expulsar, amedrontar e calar pessoas simples, que não podem sequer chorar por seus mortos.”

O coordenador do Fórum Estadual de Direitos Humanos e da Terra, Inácio Werner destaca ainda a negligência do governo com “Sempre tivemos um diálogo direto com a Secretaria de Segurança Pública, no sentido de que quando acontecia essas violências, nós tínhamos um canal direto. Nesse atual governo sempre insistimos em saber quem é a pessoa que dialoga em casos como nesse de Colniza, mas não fomos informados. Já mandamos vários ofícios e sequer respondem ao Conselho Estadual. Não sabemos com quem dialogar dentro da Secretaria.”

 
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