Após a postagem da jovem mato-grossense de 19 anos, do município de Pontal do Araguaia (524 km da Capital), no Facebook no último dia 10 de julho, em que relatou o abuso que sofria pelo pai, ter se popularizado, outras vítimas também decidiram compartilhar suas histórias com a garota.

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Na postagem, a garota conta que começou a ser abusada pelo pai quando tinha em torno de 7 a 8 anos de idade e os abusos continuaram até a sua adolescência. O relato da jovem se popularizou na rede e alcançou mais de 10 mil compartilhamentos.

Ela recebeu muitas mensagens de pessoas de todo o país no Facebook. Em outra postagem ela agradeceu dizendo: “Muito obrigada a todas as pessoas que entraram e tentaram entrar em contato comigo expressando sua empatia, preocupação e carinho”.

Uma das mulheres que compartilharam sua história na postagem foi a baiana Serena Lopez. Ao Olhar Direto, ela disse que decidiu falar com Kéllory porque viu que muitas pessoas estavam a criticando por contar sua história no Facebook.

“Eu decidi falar com ela, demonstrar meu apoio, porque vi pessoas criticando a atitude dela. Eu acredito nela, já passei por isso também, e as pessoas não acreditam mesmo, minha mãe duvidava de mim”, disse a baiana.

Serena contou que foi abusada pelo padrasto na infância e que não recebeu apoio da mãe da primeira vez que relatou os abusos.

“Eu fui abusada pelo meu padrasto dos quatro aos seis anos, aí parou porque decidi ir morar com minha tia. Quando fiz treze anos, voltei a morar com minha mãe. No dia do meu aniversário, meu padrasto me falou para ficar nua que ele me daria um presente. Novamente eu fui e contei pra minha mãe, que não acreditava. Aí eu falei que ela teria que escolher acreditar em mim ou nele. Só aí ela me apoiou. Nós confrontamos ele e ele admitiu tudo. Depois disso minha mãe largou dele. Eu só não tomei nenhuma atitude mais séria por causa da minha irmã, que é filha dele e ama muito ele, só por causa dela eu deixei pra lá”, contou Serena.

Outra mulher que decidiu contar sua história para a mato-grossense foi a carioca Paula Caroline. Ela disse que sempre busca dar apoio quando encontra vítimas de abuso.

“O relato dela é parecido com o meu. E quando a gente vê uma história assim, parece que sua ferida abre. E eu decidi contar pra ela minha história também, porque ela se expôs então eu me expus com ela. Eu sempre tento ajudar de alguma forma quando vejo casos assim, porque eu passei e sei que quem é vítima disso precisa de ajuda”, disse.

Paula contou que foi abusada pelo padrasto dos nove aos treze anos e tinha medo de denunciar, pois o homem ameaçava suas irmãs.

“No meu caso eu fui abusada dos nove aos treze anos pelo meu padrasto, ele era envolvido com o tráfico de drogas aqui no Rio. Eu tinha medo de falar porque ele ameaçava fazer o mesmo com minhas irmãs. Quando minha tia descobriu a gente fugiu, ficamos na casa de um pastor evangélico. Aí nós registramos um Boletim de Ocorrências, e ele chegou a ficar preso”.

Em vários outros comentários, outras mulheres, algumas também vítimas de abuso, desejavam força e ofereciam apoio à mato-grossense.

“Passei por isso... superei... criei uma página pra nós... sei como é... é punk , mas consegui sair dessa... superei e gostaria de ajudá-la, conte comigo você é linda... guerreira tem uma vida pela frente....”, comentou uma jovem de São Paulo na postagem.

Em outro comentário, uma garota do Estado de São Paulo, conta que ainda sofre com as lembranças do abuso.

“Fui abusada quando era criança, mais sempre fico quieta. Nunca contei pra ninguém e isso me tortura muitas vezes. Muitas vezes achei que nunca iria conseguir namorar ou ter relação, porque eu tinha nojo de lembrar das coisas. Hoje namoro já há dois anos e três messes. Até hoje nunca consegui contar pra ninguém e tenho medo de contar porque sei que vai ser uma briga e tudo já é difícil em casa. Perdi meu pai e minha mãe sofre e não quero que ela sofra mais sabendo pelo que eu passava”.

Em outra publicação, a jovem mato-grossense disse que sempre ajudará meninas vítimas de abuso e que é importante as mulheres permanecerem unidas.

“À todas as meninas vítimas de violência sexual que estão me pedindo ajuda eu peço perdão por não poder salvar vocês disso. Mas vou ajudar sempre, sempre que precisarem de mim! Salve a si mesma. Ninguém o fará. Que todas nós mulheres tenhamos voz e permaneçamos unidas! Essa luta é nossa”.

Nesta sexta-feira (21), a jovem mato-grossense fez novamente uma postagem, pois a antiga havia sido removida, onde além de contar a história, ela compartilha uma foto do pai e outra da época em que tentou se suicidar (como ela conta no relato).

O inquérito que investiga o caso de abuso, relatado pela jovem, segue sob sigilo na Delegacia Especializada de Defesa da Mulher do município de Barra do Garças (a 521 km de Cuiabá).