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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Pesquisa aponta que em MT negros morrem quase três vezes mais que brancos

Foto: Rogério Florentino Pereira/OD / Paraiba.com

Pesquisa aponta que em MT negros morrem quase três vezes mais que brancos
O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência (IVJ), pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência, e a Cultura (UNESCO), em parceria com a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, constatou que o número de jovens negros que morreram no Brasil em 2015 é quase três vezes maior que o número de brancos.


Só em Mato Grosso, entre 100 mil habitantes, a taxa de jovens negros mortos é de 84,0 enquanto a taxa de jovens brancos mortos é de 31,9. A professora e pesquisadora Cândida Soares, que atua como coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (Nepre) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirma que o número é um reflexo da falta de políticas públicas voltadas para a população negra.

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A pesquisa foi divulgada no último dia 8 e de acordo com os dados, em Mato Grosso, entre os homens de 15 a 29 anos, negros morrem 2,63 mais vezes que brancos. A pesquisadora Cândida Soares afirma que estes dados não apontam nenhuma novidade.

“Não é que os negros tenham maior propensão para algum tipo de prática, mas a própria condição de vulnerabilidade que a população negra é exposta é que vai gerar esta condição de maior vitimização. Então se você analisa a violência institucional, a maior vitimização é a população negra, a violência policial pela mesma maneira, as mortes por resultado de violência por arma de fogo vai atingir mais a população negra exatamente pelas condições de vulnerabilidade que a população negra se encontra. Mas estes não são dados que surpreendem, estas denúncias já vem sendo feitas há muito tempo. A gente tem visto uma discussão muito forte sobre o extermínio da população negra exatamente porque é especialmente sobre os jovens homens negros que incidem os maiores índices de resultado das violências institucionais”, afirma.

De acordo com os dados do IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos (grupos agregados na definição de negros). A pesquisadora diz que o fato da maior parte da população ser negra não é o que explica a maior vitimização da juventude negra.

“Às vezes quando a gente vê estes dados e começamos a discutir, parece que se quer que morram mais brancos, mas não é esta a idéia, é uma correlação. Nós temos mais de 50% da população formada por pretos e pardos, então seria coerente você afirmar que como há mais gente negra, é comum a violência atingir mais a população negra. O problema é que, se você analisa os aspectos negativos, estes atingem mais intensamente a população negra, mas quando você analisa os aspectos positivos, você vê os brancos em condições melhores do que a população negra, o que demonstra que existe uma incidência do racismo determinando estas posições".

Segundo a pesquisadora, como a maioria da população brasileira é negra, os aspectos positivos apontados em pesquisas também deveriam ter uma predominância negra, mas não é o caso.

“Porque quando você analisa condições de emprego, renda e escolaridade, a população branca dá um salto diferencial imenso sobre a população negra. Agora quando você analisa os aspectos negativos, eles incidem majoritariamente sobre a população negra. Ora, se a população negra é majoritária, então isto justificaria ter uma incidência maior nos aspectos negativos sobre a população negra, no entanto se nós não fossemos uma sociedade racista, nos aspectos positivos teriam majoritariamente um percentual maior sobre a população negra também, o que não ocorre”, disse Cândida.

Mesmo com estes números, em um cenário nacional, Mato Grosso é classificado como um Estado de média vulnerabilidade, em relação à desigualdade racial, com uma taxa de 0,399. O valor máximo, neste quesito, é 1.

Nenhuma outra unidade federativa do Centro-Oeste (incluindo o Distrito Federal), tem uma taxa maior do que a de Mato Grosso. Com relação à desigualdade racial, o principal motivo para que isto aconteça foi a falta de políticas públicas voltadas para a população negra.

“A escravidão causou os seus males, e são muitos, mas o que os estudos vem apontando é que após a abolição não houve política pública que contemplasse a população negra. Então nós vamos ter uma abolição sem direito à terra, uma abolição com uma concorrência muito grande com os imigrantes, porque o Brasil faz uma política de imigração, nós vamos ter um pós abolição em que a população negra vai ter que enfrentar o racismo, e havia um ideal de branqueamento que alimentou a imigração, para que a população brasileira se tornasse branca, porque havia um ideal de que deveriam ser eliminados, e a conseqüência disso a gente está vendo até hoje, nestes números que estas pesquisas estão apontando”, disse.

Cândida não acredita que este cenário é necessariamente um reflexo da escravidão, mas sim da forma como a abolição foi implantada, sem dar assistência ou se preocupando em integrar o negro à sociedade.

“Esta realidade de hoje não é simplesmente porque o Brasil é um país que praticou a escravidão por mais de 300 anos, mas é conseqüência de um país que não estabeleceu política pública que contemplasse a população negra. As políticas que foram estabelecidas eram muito mais no sentido de contemplar outros seguimentos da população, sem colocar a população negra como parte dos cidadãos e cidadãs que construíram e ancoraram as condições e as riquezas deste país”.

Apesar de o número de homens jovens assassinados ser muito maior do que o número de mulheres, nos dados sobre mulheres entre os 15 e 29 anos mortas também prevalece o número se mulheres negras mortas (12,4 por 100 mil pessoas) sobre o número de brancas (7,7 sobre 100 mil pessoas). A pesquisadora diz que isto só reforça o racismo no Brasil.

“Porque o determinante disto é o racismo, que tem estado na base, que tem ancorado não somente as relações sociais, como também todo o imaginário da produção da nação, todo o imaginário social, e que tem alimentado também as políticas e as condições materiais e simbólicas de vida. Se você pega o mapa, você vai ver que em maior ou em menor quantidade, em todas as regiões da federação esta violência vai incidir majoritariamente sobre a população negra”.
 
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