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Sexta-feira, 29 de março de 2024

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Índios negam ter recebido Exército a flechadas nas eleições em MT

Foto: Foto: Geraldo Abdias Lopes

Índios negam ter recebido Exército a flechadas nas eleições em MT
O Povo Myky, da Aldeia Japuíra localizada na Terra Indígena Menku, no município de Brasnorte (562 km de Cuiabá), informou por meio de uma carta que não recebeu o Exército a flechadas durante o primeiro turno das eleições, realizada no dia 7 de outubro. A Funai também se manifestou a respeito das informações divulgadas na imprensa.


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De acordo com informações do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT), militares do Exército teriam sido recebidos a flechadas no último domingo (7), pois os índios não queriam votar na aldeia, e sim, na região urbana. No entanto, houve uma decisão do Pleno, que manteve a sessão para a aldeia.

Contudo, o povo Myky, através da Operação Amazônia Nativa (OPAN), redigiu uma carta explicando que o “ataque” não aconteceu. No documento, eles relatam que o TRE criou uma urna na comunidade, sendo o primeiro ano de votação no local.

Durante a semana, a escola da comunidade, registrada como Zona 56 e Seção 129, foi preparada para receber a votação. No dia do primeiro turno, um senhor da aldeia se aproximou dos soldados e começou a explicar sobre os arcos e flechas.

A Funai também se manifestou sobre o assunto, informando que é comum os “anciões” exibirem suas ferramentas, bem como ornamentos. "Os velhos também foram lá. Não pra fazerem coisa que não devem fazer, mas foram pra mostrar como vivemos na nossa cultura. [...] É assim que [os anciãos] se apresentam para os de fora. [...] é assim que eles vão estar apresentando sempre", disse Maria Isabel, liderança feminina, que não fala português, mas foi traduzida por Typju Myky, estudante indígena.

Ainda de acordo com a nota divulgada pela Funai e OPAN, o processo eleitoral foi bem sucedido e acolhido por todos os eleitores. Eles ainda conjecturam que pode ter acontecido uma falha de comunicação entre os visitantes e os anciões, após exibirem seus costumes.

Confira na íntegra a carta do povo Myky e a nota divulgada pela Funai:

Nós, Povo Myky, da Aldeia Japuíra, localizada na Terra Indígena Menkü, Município de Brasnorte (MT), protestamos diante das notícias divulgadas na mídia no dia 07 de outubro de 2018, dia da votação.

Neste ano o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) criou uma urna na comunidade, sendo o primeiro ano de votação na localidade quando todo processo eleitoral transcorreu em ordem e absoluta tranquilidade. Durante a semana a escola foi preparada para receber a votação. No sábado, homens do exército estiveram na aldeia para verificação da localidade da Zona 56 e Seção 129.

No dia da votação, 07 de outubro de 2018, pela manhã, um senhor da aldeia se aproximou do grupo de soldados do Exército Brasileiro que se encontrava próximo do posto de saúde e começou a explicar sobre o arco e a flecha e eles perguntaram se tinham veneno nas flechas, o senhor explicou que aquelas não tinham veneno. Logo após chegou outro integrante da comunidade e explicou mais um pouco sobre como usam o arco e flecha. O senhor seguiu para a escola, que fica ao lado do posto de saúde, onde a pedido do motorista ele fez uma demonstração de como se usa o arco e flecha mirando para longe, do lado do bananal. Também é comum que ao chegar brancos na aldeia, os mais velhos se interessam em mostrar a flecha tradicional do seu povo aos visitantes. Porém a notícia veiculada informa que os índios receberam o exército com flechadas “Em MT, Exército é recebido a flechadas na aldeia...” e que “A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) precisou ser acionada para que os homens do exército conseguissem entrar na aldeia”. Notícia essa veiculada sob a responsabilidade de Flávia Borges G1 MT.

Também queremos afirmar que em momento algum houve conflito e intenção de agredir o exército e que a FUNAI não foi solicitada para apaziguar conflitos.

Frente a essa notícia divulgada nos meios de comunicação, o Povo Myky, vem a público exigir retratação diante da calúnia e difamação de que foi algo e que essa retratação seja amplamente divulgada pelos meios de comunicação.

Aldeia Japuíra, Brasnorte, MT, 09 de outubro de 2018


Nota da Funai sobre eleições em Mato Grosso

A Funai vem a público se posicionar em relação às informações veiculadas na mídia sobre um suposto conflito em que indígenas da região de Brasnorte teriam recebido o exército com flechas.

É de fundamental importância comunicar à sociedade que, diferentemente do que foi veiculado, as eleições na região ocorreram de maneira pacífica e conforme o planejado junto ao Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso. Os indígenas do povo Myky negaram a hostilidade e reconheceram a importância de receber as urnas em seu território. O Estado, por meio do TRE-MT e do Exército Brasileiro, viabilizou o exercício do direito político dos indígenas votarem no ambiente seguro da aldeia.

Os preparativos começaram no dia anterior, quando as equipes do TRE-MT e do Exército chegaram à aldeia. Todos compartilharam refeições e dormiram no local. No dia seguinte, para a ocasião considerada solene e festiva, alguns indígenas anciãos compareceram trajando vestes e adereços tradicionais, o que incluía cocares, maracás, arcos, flechas e demais ornamentos que uma visita de tamanha importância merece. Tudo ocorreu de maneira pacífica, apesar de, nos primeiros minutos, os anfitriões terem sido interpretados como hostis pelos visitantes: "Os velhos também foram lá. Não pra fazerem coisa que não devem fazer mas foram pra mostrar como vivemos na nossa cultura. [...] É assim que [os anciãos] se apresentam para os de fora. [...] é assim que eles vão estar apresentando sempre", disse Maria Isabel, liderança feminina, informação que foi endossada por Kiwuxi Myky, que não fala português, mas foi traduzido por Typju Myky, estudante indígena.

Um dos voluntários para o serviço de mesário é servidor da Funai e pôde acompanhar a ação desde o princípio até o encerramento da votação. O servidor informa que o evento contou com a adesão de 100% dos eleitores que atendiam os critérios de obrigatoriedade do voto. A única abstenção foi de uma pessoa com mais de 65 anos de idade, cujo voto é facultativo.

Diante das informações, a Funai considera que o processo eleitoral junto ao povo Myky foi bem sucedido, sendo acolhido por todos os eleitores. Considera, ainda, com os subsídios dos indígenas e de servidores da Funai, que não houve flechada, mas, uma falha na comunicação entre os visitantes e os anciãos, orgulhosos para exibir seus costumes. Felizmente, foi contornado com diálogo e respeito por parte de todos os envolvidos.


 
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