O empresário Alan Malouf é contundente em desmentir que era alguém somente do “convívio social” do governador Pedro Taques (PSDB), tese adotada pelo tucano desde que Malouf foi preso na esteira das investigações da operação Rêmora, deflagrada em 2016 pelo Gaeco. Em seu depoimento ao Ministério Público Federal, o empresário detalha intimidade com o chefe do Executivo e confirma que foi chamado por Taques para tomar conta do caixa da campanha de 2014 e para trazer mais empresários. Sua atuação, no entanto, foi feita por debaixo dos panos.

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“Ele me pediu ajuda para que tomasse conta do caixa da campanha e também fizesse frente a trazer novos empresários e também agrupar nessa campanha política de governo de 2015”, diz Malouf. Ele então é interrogado se era tesoureiro da campanha. O empresário confirma, mas admite que essa não era uma atribuição oficial.
 
Alan fazia parte de um núcleo de empresários que atuava na campanha, mas “nunca assinava nada”, segundo suas próprias palavras. Esse grupo contava ainda com Marcelo Maluf, Erivelton Gasques, Fernando Minosso, Juliano Bortoloto e Eraí Maggi. “Eu trouxe junto para esse grupo o Julio Modesto e ele foi essa pessoa que fez o financeiro da campanha”, explica. Modesto, também declara Malouf, nunca assinou nada.


 
O delator diz que teve uma amizade de longa data com Taques, que começou quando Taques namorou uma prima do empresário. Malouf ainda disse estranhar ter visto Pedro negar a relação dos dois, inclusive por meio de pronunciamento oficial. “Eu quero deixar claro que eu sou muito mais que um amigo social do governador. Essas reuniões todas, praticamente, foram na minha casa e foram feitas mais de 100 reuniões”, revela.
 
Insatisfeito com as informações já prestadas, Alan expõe mais elementos da proximidade entre os dois. “Inclusive ele até já chegou a dormir na minha casa por duas ou três noites por ocasião em que ele esteve brigado com a esposa e ele dormiu na minha residência. Então acredito que isso não seria um amigo social, né? É muito mais do que isso”, insiste.
 
O empresário Alan Malouf forneceu ainda à Procuradoria-Geral da República uma série de fotos e vídeos, além das imagens do circuito interno de sua residência, a fim de comprovar que ele e o governador mantinham uma relação de “amizade estreita” até meados de 2017.
 
Malouf apresentou fotos em um jantar, aparentemente informal entre os dois, além de um evento “fechado para amigos” realizado em sua residência, no qual Taques discursara. E uma imagem da ex-primeira dama Samira Martins ao lado da esposa do empresário, alegando que as duas também eram próximas em função da relação dos maridos.
 
A nota e a discórdia
 
A nota oficial que Malouf se refere foi publicada pelo Gabinete de Comunicação do Governo de Mato Grosso, em 19 de dezembro de 2016, após depoimento de Alan Malouf ao MPE no fim de 2016.
 
“O governador Pedro Taques e o secretário da Casa Civil, Paulo Taques, negam enfaticamente as afirmações levianas e absurdas do investigado Alan Malouf sobre a fantasiosa existência de valores não contabilizados (o chamado “caixa dois”) na campanha de 2014”, diz trecho do texto.
 
No texto, Taques ainda garantiu que Alan Malouf jamais exerceu qualquer cargo ou delegação na arrecadação de fundos eleitorais. “O Governo do Estado esclarece que, embora o investigado tenha mantido relacionamento social com Pedro Taques, suas empresas jamais venceram qualquer licitação ou contrato na administração estadual a partir de 01 de janeiro de 2015, uma vez que o governador, por estrita obediência às leis, nunca interferiu e jamais interferirá em qualquer processo de aquisição ou licitação no âmbito do Governo do Estado ou em qualquer outro Governo”, finaliza o texto.