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Quinta-feira, 18 de abril de 2024

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Governo e população falham na prevenção da dengue e doença ainda pode se estender por meses

O Brasil já contabiliza 460,5 mil casos de dengue e 132 mortes no primeiro trimestre deste ano, segundo o Ministério da Saúde. No entanto, o Aedes aegypti (mosquito transmissor da doença) não voa apenas em terras brasileiras. A dengue ultrapassa as fronteiras nacionais e também é uma preocupação para os nossos vizinhos. No ranking dos países latino-americanos com o maior número de casos da doença nos três primeiros meses deste ano, o Brasil é líder, seguido pela Colômbia (24.062), Paraguai (11.968), México (11.787) e Honduras (8.672), de acordo com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).


Por ser um País de dimensões continentais, é natural que estejamos no topo da lista, justificam os especialistas ouvidos pelo R7, mas, se compararmos a taxa de incidência da dengue a cada 100 mil habitantes, o cenário é outro. A Guiana Francesa aparece em primeiro lugar (399,58 casos) seguida pela Ilha de São Martinho (269,62), Paraguai (173), Brasil (111,48) e Nicarágua (103,9), segundo a Opas. A doença é considerada epidemia quando atinge 300 casos por 100 mil pessoas.

Para a bióloga Denise Valle, pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz, a dengue é um problema que depende não só de políticas públicas o ano inteiro como também da conscientização da população.

— Estamos em um processo de aprendizagem, porque transformar conhecimento em mudança de comportamento é complicado. Por isso, as ações do governo não podem parar. Estudos comprovam que 80% dos criadouros do mosquito estão na própria casa das pessoas, em águas paradas dentro de vasos, potes e baldes, em geral, ralos e até na caixa d’água destampada.

O professor Marcos Boulos, da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e coordenador do Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, compartilha da mesma opinião, mas não enxerga maneiras de conter o avanço da doença neste momento.

— Agora não é mais possível porque a dengue não tem vacina e nem tratamento. Como não conseguimos nos prevenir, agora temos que aguardar a doença atingir seu pico e começar a diminuir naturalmente, o que pode levar ainda alguns meses.

Outro fator que explica a alta incidência de dengue na América Latina é que a doença ocorre e se dissemina especialmente em países tropicais e subtropicais, alerta o biólogo Paulo Roberto Urbinatti, pesquisador da Faculdade de Saúde Pública da USP.

— Como é uma doença tropical, os países quentes têm mais risco, já que as condições do meio ambiente nessas regiões favorecem o desenvolvimento e a proliferação do Aedes aegypti.

Além do armazenamento de água inadequado e das condições climáticas, o pesquisador da USP acrescenta que “essa espécie se adaptou muito bem nas áreas urbanas”, considerada sinantrópica.

— A fêmea do mosquito coloca os ovos em diferentes lugares, até em uma tampinha de garrafa PET, e isso dificulta o controle.

No caso específico do Brasil, ainda há o agravante chamado crise hídrica, que afeta a região Sudeste, principalmente São Paulo, ressalta Denise.

— Não existe nenhum estudo que comprove essa relação, mas, provavelmente, contribuiu para o aumento da dengue. As pessoas guardam água em casa, mas não sabem que pior do que um recipiente aberto é o mau fechado, já que o mosquito não gosta de luz. Uma pequena fresta vai ser suficiente para a fêmea colocar seus ovos.

As alterações climáticas são outros fatores que podem contribuir na proliferação do mosquito, cita Urbinatti.

— As estações não estão bem definidas como antigamente. No inverno do ano passado, por exemplo, tivemos períodos quentes e com chuvas. Dessa forma, as medidas preventivas não podem ser restritas apenas aos períodos de pico, como acontece atualmente.

Na opinião do biólogo da USP, para conter esse surto, a vigilância realizada pelos agentes de saúde tem que ser eficaz e permanente, mas “em função da crise econômica, as prefeituras dispensam esse serviço e, quando chega o verão, há proliferação do mosquito”.

Denise concorda com o colega e acrescenta que as ações de prevenção deveriam acontecer antes do verão para a população ter tempo hábil de identificar e eliminar os potenciais criadouros. Apesar de o poder público ter sua parcela de culpa no combate à dengue, não podemos isentar o cidadão de sua responsabilidade, sabendo que os mosquitos se proliferam no intra e peridomicílio, pondera Urbinatti.

— Não podemos só responsabilizar o poder público, a população também tem que cuidar do seu ambiente. Erradicar a dengue será difícil, mas acredito que é possível reduzir o número de casos desde que cada um faça a sua parte.

Até o momento, a única maneira de driblar a dengue é destruir os criadouros de mosquitos, que na maioria das vezes estão mais pertos do que imaginamos, enfatiza Denise.

— Não podemos esquecer que o Aedes aegypti não transmite apenas a dengue, mas também a febre chikungunya. Por isso, reforço que ninguém pode relaxar no dever de casa, só assim será possível eliminar os potenciais criadouros do mosquito.
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