Imprimir

Notícias / Política BR

Gravações indicam que Andressa conhecia negociações de Cachoeira

G1

Andressa Mendonça, mulher do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, conhecia o uso de "laranjas" e as negociações do marido, segundo gravações de diálogos entre os dois feitas pela Polícia Federal com autorização da Justiça e obtidas pelo G1.

As gravações foram feitas pela PF entre maio e agosto de 2011 e obtidas pela CPI que investiga as relações do bicheiro com políticos e empresários.

Em um dos áudios, em uma compra de eletrodomésticos, Cachoeira orienta a mulher a não aparecer e não emitir nota em nome dela - ela diz que está "tirando tudo no nome do Alexandre".

Em outra gravação, Cachoeira diz à mulher que vendeu a casa que era do governador Marconi Perillo (PSDB-GO) por R$ 2,1 milhões. Segundo Cachoeira, R$ 100 mil foram dados a Perillo para não "perder um cliente de bilhões à toa".

Procurada pelo G1 desde segunda (6), Andressa não atendeu aos telefonemas e nem respondeu aos recados deixados no celular.

A assessoria de imprensa do governador de Goiás disse que Marconi Perillo não pode ser responsabilizado por conversas de terceiros e que trechos de gravações editadas e desconectadas dos fatos não podem nem devem se contrapor à realidade. Informou ainda que a casa foi vendida por um R$ 1,4 milhão, valor de mercado, e pelo qual foi escriturada e declarada à Receita Federal.

CPI
Para a CPI, Andressa Mendonça era somente a mulher de Cachoeira, sem ligações com o grupo do contraventor. Agora, é vista pelos parlamentares como possível integrante do grupo.

Em entrevista ao Fantástico, ela disse desconhecer as supostas contravenções do marido e afirmou que ele “só opera negócios lícitos”. “Meu marido não é bicheiro. O Carlos que eu conheço é empresário, faz consultoria para empresas. Trabalhou durante anos, aproximadamente dez anos, com a loteria do estado de Goiás. Trabalhou no ramo de medicamentos”, disse na edição do programa de 1º de julho.

Andressa Mendonça não respondeu a perguntas no depoimento desta terça-feira (7) à CPI. “Vou exercer o meu direito constitucional de permanecer calada”, afirmou Andressa ao ser indagada pelo presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), se estaria disposta a colaborar com as investigações.

Na semana passada, a mulher de Cachoeira foi acusada de tentar chantagear o juiz responsável pelo caso, Alderico Rocha, em Goiânia. Ela foi levada à sede da Polícia Federal de Goiânia para prestar depoimento, e teve de pagar fiança de R$ 100 mil para não ser presa. Além da fiança, Andressa foi proibida pela Justiça de visitar Cachoeira.

A casa
Logo após se mudar para a casa em Goiânia que havia pertencido ao governador Marconi Perillo, Andressa começou a mobiliar a residência, segundo os áudios da PF.

O custo da mobília chegou a R$ 500 mil. Todas as compras foram feitas em nome de outra pessoa, segundo afirmou Andressa em gravações interceptadas pela polícia. Cachoeira não queria nem que a mulher aparecesse sozinha na casa.

- Andressa: Manda 30 (R$ 30 mil). Cê pode mandar 30 hoje?
- Cachoeira: Posso. Quanto deu tudo?
- Andressa: Aquele dinheiro que tu disse que ia fazer por 200, não vai dar, não. Tenho de comprar eletrodoméstico ainda. Não tem jeito. Ainda consegui 30% de desconto onde a gente está comprando em pronta entrega. Mas não vai dar, não.
- Cachoeira: Tá bom. Não aparece, não.
- Andressa: Não, estou tirando tudo no nome do Alexandre. Os boletos “é” tudo no nome dele.
- Cachoeira: Tá bom, amor. Mas nem lá você pode ir. Tudo através dele.

O nome do arquiteto que decorou a casa que era de Perillo é Alexandre. No entanto, não é possível afirmar que Andressa se refere a ele. Alexandre Milhomem prestou depoimento à CPI no final de junho. À comissão, ele afirmou não conhece o governador e que foi contratado por Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, a quem chamava de "assessora", para fazer o ambiente interno da casa de Cachoeira.

Segundo o áudio, após o casal sair da casa que foi do governador de Goiás, Marconi Perillo, Cachoeira pede para Andressa retirar móveis e pratarias, que, segundo ele, foram escondidas pelo ex-vereador Wladimir Garcez, tido como um dos auxiliares de Cachoeira.

Pelo serviço, Cachoeira promete para Andressa um carro zero quilômetro. A casa, segundo Cachoeira afirma na gravação, foi vendida por R$ 2,1 milhões. O governador Marconi Perillo receberia uma parte do recurso, segundo Cachoeira afirmou a Andressa.

- Cachoeira: Wladimir foi lá mais cedo e escondeu as pratarias dentro da cozinha. Vai lá pegar, por favor.
- Andressa: Amor, móveis vai ficar tudo lá?
- Cachoeira: Eu ofereci R$ 300 mil pelos móveis e ele não quis.
- Andressa: Por quanto você vendeu?
- Cachoeira: Dois e cem (R$2,1 milhões). Tá bom. Cem (mil reais) é do Marconi. Precisava passar esse trem logo para o nome dele porque não vamos perder um cliente de bilhões à toa, né?
- Andressa: Roupa de cama, coisas de banheiro, nada vai?
- Cachoeira: Deixa do jeito que está. Pega só as pratarias. Se custou tudo 600 mil, deixa lá. Para isso vai ganhar um carro zerinho.

Em outro trecho, Cachoeira fala para Andressa que não quer que ninguém saiba que eram eles que moravam na casa. O contraventor fala para a mulher retirar, inclusive, a jovem que trabalhava na casa, a fim de que o novo morador não soubesse quem morava lá. Em outro áudio, Andressa fala da jovem que trabalhava na casa como cozinheira.

- Cachoeira: Vai lá agora, tira os trens e sai de lá. E deixa a chave no vaso.
- Andressa: Ele não quer ficar com a menina até ele chegar?
- Cachoeira: Não, já leva ela. E deixa a chave no vaso. Até para não falar que a casa era nossa. Não quero que fale que a gente estava morando lá. Na cabeça dele, está comprando direto do Marconi.
- Andressa: Tá, estou indo lá agora.
- Cachoeira: A tarde você tem seu carro, tá?

Cuidados
Outras gravações que estão em poder da CPI mostram que a própria Andressa orientava o marido sobre os cuidados que ele tinha de tomar para evitar que tivesse suas ligações telefônicas interceptadas.

- Andressa: Você nem percebe que está no telefone?
- Cachoeira: Percebo, não.
- Andressa: Tem de se cuidar.

Em uma das gravações, Andressa fala de um negócio, sem dar detalhes. Eles optam por falar por meio do Skype (chamadas de voz e vídeo pela internet), que Cachoeira usava para evitar interceptações.

- Andressa: Sabe o que eu estava pensando. Não adianta, o negócio é quem nem o jogo. É arriscado.
- Cachoeira: Você está no Skype?
- Andressa: Quer que eu ligue o Skype?
- Cachoeira: Sim.
Imprimir